Marcelo e o resto


Quando olhamos para o pacote de candidatos do espaço social-comunista, eles são representantes das trincheiras partidárias ou, no caso de Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém, extensões de tendências internas.


Quantos candidatos concorrem às presidenciais? Matematicamente, a resposta certa são dez. Politicamente, são bem menos que isso. Temos Marcelo Rebelo de Sousa e o resto. Vejamos: dos tais nove candidatos (já estou a descontar Marcelo), dois representam tendências internas do PS que têm contas do passado para ajustar (Nóvoa e Belém); cinco (junte-se Neto, Tino e Cândido aos dois anteriores) são socialistas; com Edgar Silva e Marisa Matias, respetivamente do PCP e do BE, contamos sete candidatos oriundos da estranha família política (que baralha a esquerda socialista com os radicalismos leninistas e trotskistas) que sustenta o governo de António Costa.

A escolha dos portugueses está, por isso mesmo, muito simplificada: é Marcelo ou o resto. A diferença é grande e importa aqui ser sublinhada. Marcelo é o mais bem preparado de todos os candidatos. É o que tem mais experiência política. E mais vida fora dela também. É um dos melhores da sua geração. Muito se tem falado (e criticado) o seu afastamento relativamente aos partidos que o apoiam. Como militante e seu apoiante da primeira hora, custa-me que Marcelo tenha assumido um certo afastamento das bases do PSD, ainda que sem deixar a relação afetiva construída durante décadas. Mas um Presidente da República não deve ser dado a grandes palpitações partidárias. Já tivemos disso no passado com Presidentes socialistas e deu sempre mau resultado – Mário Soares vetou, com fundamentos de fação, uma remodelação que promoveria Fernando Nogueira a vice-primeiro ministro; já Jorge Sampaio derrubou um governo de Santana Lopes em plenitude de funções e gozando de uma maioria estável; louve-se Cavaco Silva, que aguentou Sócrates até ao limite, que foi a demissão a pedido do primeiro-ministro.

Por muito que gostasse de ver o PSD mais envolvido na campanha, compreendo que Marcelo continue a cultivar a distância pessoal e política do partido. É uma exigência das funções presidenciais. Paradoxalmente, Marcelo é alvo de um ataque à sua evidente independência por parte daqueles que se mostraram incapazes de quebrar os grilhões partidários. As consequências são estas: ou temos um PR a tomar posse em Março ou temos os partidos a tomar posse do PR.

Marcelo é o único que garante a preservação do sistema no primeiro cenário. Quando olhamos para o pacote de candidatos do espaço social-comunista, eles são representantes das trincheiras partidárias ou, no caso de Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém, extensões de tendências internas. Não é este o espírito de que precisamos de transportar para o mais alto cargo da nação. Quem não consegue unir a sua família política dificilmente conseguirá unir o país. Já vi muitas campanhas. E pelo que tenho sentido nas ruas do concelho onde vivo, as coisas não estão a correr nada bem para os candidatos socialistas. A mobilização é frouxa, o entusiasmo é pouco. Meia dúzia de militantes socialistas fazem campanha por Maria de Belém. Já as iniciativas de Sampaio da Nóvoa são deixadas nas mãos do MRPP. Vale o que vale, mas mesmo nas indicações para as mesas de voto em Cascais, Marisa Matias conseguiu sozinha mobilizar mais nomes do que Belém e Nóvoa juntos.

O PS tem cinco candidatos nesta eleição. O grande problema é que cinco meios candidatos não fazem sequer um bom candidato. É surpreendente como a esplendorosa incapacidade de António Costa para gerir este processo tem sido esquecida. Costa não diz quem apoia, embora toda a gente se lembre que apadrinhou o lançamento do ex-reitor. Até emprestou muitos dos seus jovens turcos à estrutura de campanha de Nóvoa, provando-se que é ele o candidato que melhor encaixa no processo de syrização do PS. Costa já teve tempo para matar saudades da “Quadratura”. Mas ainda não teve tempo de participar numa ação de campanha de um dos seus camaradas candidatos. E porquê? Porque para António Costa as presidenciais são como o totobola à segunda-feira: vê-se o resultado primeiro, faz-se a aposta depois. Gerindo uma situação semelhante há dez anos, José Sócrates conseguiu ser politicamente mais sério. As imitações costumam ser sempre piores que os originais.

Escreve à quarta-feira


Marcelo e o resto


Quando olhamos para o pacote de candidatos do espaço social-comunista, eles são representantes das trincheiras partidárias ou, no caso de Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém, extensões de tendências internas.


Quantos candidatos concorrem às presidenciais? Matematicamente, a resposta certa são dez. Politicamente, são bem menos que isso. Temos Marcelo Rebelo de Sousa e o resto. Vejamos: dos tais nove candidatos (já estou a descontar Marcelo), dois representam tendências internas do PS que têm contas do passado para ajustar (Nóvoa e Belém); cinco (junte-se Neto, Tino e Cândido aos dois anteriores) são socialistas; com Edgar Silva e Marisa Matias, respetivamente do PCP e do BE, contamos sete candidatos oriundos da estranha família política (que baralha a esquerda socialista com os radicalismos leninistas e trotskistas) que sustenta o governo de António Costa.

A escolha dos portugueses está, por isso mesmo, muito simplificada: é Marcelo ou o resto. A diferença é grande e importa aqui ser sublinhada. Marcelo é o mais bem preparado de todos os candidatos. É o que tem mais experiência política. E mais vida fora dela também. É um dos melhores da sua geração. Muito se tem falado (e criticado) o seu afastamento relativamente aos partidos que o apoiam. Como militante e seu apoiante da primeira hora, custa-me que Marcelo tenha assumido um certo afastamento das bases do PSD, ainda que sem deixar a relação afetiva construída durante décadas. Mas um Presidente da República não deve ser dado a grandes palpitações partidárias. Já tivemos disso no passado com Presidentes socialistas e deu sempre mau resultado – Mário Soares vetou, com fundamentos de fação, uma remodelação que promoveria Fernando Nogueira a vice-primeiro ministro; já Jorge Sampaio derrubou um governo de Santana Lopes em plenitude de funções e gozando de uma maioria estável; louve-se Cavaco Silva, que aguentou Sócrates até ao limite, que foi a demissão a pedido do primeiro-ministro.

Por muito que gostasse de ver o PSD mais envolvido na campanha, compreendo que Marcelo continue a cultivar a distância pessoal e política do partido. É uma exigência das funções presidenciais. Paradoxalmente, Marcelo é alvo de um ataque à sua evidente independência por parte daqueles que se mostraram incapazes de quebrar os grilhões partidários. As consequências são estas: ou temos um PR a tomar posse em Março ou temos os partidos a tomar posse do PR.

Marcelo é o único que garante a preservação do sistema no primeiro cenário. Quando olhamos para o pacote de candidatos do espaço social-comunista, eles são representantes das trincheiras partidárias ou, no caso de Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém, extensões de tendências internas. Não é este o espírito de que precisamos de transportar para o mais alto cargo da nação. Quem não consegue unir a sua família política dificilmente conseguirá unir o país. Já vi muitas campanhas. E pelo que tenho sentido nas ruas do concelho onde vivo, as coisas não estão a correr nada bem para os candidatos socialistas. A mobilização é frouxa, o entusiasmo é pouco. Meia dúzia de militantes socialistas fazem campanha por Maria de Belém. Já as iniciativas de Sampaio da Nóvoa são deixadas nas mãos do MRPP. Vale o que vale, mas mesmo nas indicações para as mesas de voto em Cascais, Marisa Matias conseguiu sozinha mobilizar mais nomes do que Belém e Nóvoa juntos.

O PS tem cinco candidatos nesta eleição. O grande problema é que cinco meios candidatos não fazem sequer um bom candidato. É surpreendente como a esplendorosa incapacidade de António Costa para gerir este processo tem sido esquecida. Costa não diz quem apoia, embora toda a gente se lembre que apadrinhou o lançamento do ex-reitor. Até emprestou muitos dos seus jovens turcos à estrutura de campanha de Nóvoa, provando-se que é ele o candidato que melhor encaixa no processo de syrização do PS. Costa já teve tempo para matar saudades da “Quadratura”. Mas ainda não teve tempo de participar numa ação de campanha de um dos seus camaradas candidatos. E porquê? Porque para António Costa as presidenciais são como o totobola à segunda-feira: vê-se o resultado primeiro, faz-se a aposta depois. Gerindo uma situação semelhante há dez anos, José Sócrates conseguiu ser politicamente mais sério. As imitações costumam ser sempre piores que os originais.

Escreve à quarta-feira