João Soares. “É pateta a ideia de que Marcelo não incomodará o governo do PS”

João Soares. “É pateta a ideia de que Marcelo não incomodará o governo do PS”


Entrevista ao ministro da Cultura


Tem-se instalado a ideia de que Marcelo em Belém não incomodará o governo do PS. A si preocupa-o?

Acho que essa é uma ideia pateta. Provavelmente foi o próprio Marcelo que a pôs a correr, com o talento que se lhe conhece. Marcelo é conhecido pelos telefonemas que faz às três e às quatro da manhã para os diretores dos jornais e provavelmente foi o próprio que pôs a correr essa ideia, que nada tem a ver com a realidade.

O João Soares é o único ministro que apoia Maria de Belém. Falta PS a esta candidatura?

Ainda não inquiri os meus colegas membros do governo sobre esta matéria e ainda não consegui perceber eu próprio qual é a posição do senhor primeiro-ministro, que é também o secretário-geral do partido. Eu sei é que na comissão política que se reuniu dois dias depois das eleições legislativas eu defendi que o PS devia apoiar Maria de Belém Roseira. E, portanto, estou aqui em coerência com o que disse nessa altura. Acho que é importante ter uma mulher como Presidente da República e Maria de Belém tem um percurso particularmente interessante.

Também como presidente do PS?

O percurso como presidente do PS não é um percurso menor, sobretudo num contexto muito complicado. Ela foi presidente quando houve pela primeira vez, por mérito do António José Seguro, eleições primárias. E eu na altura até achei, provavelmente por excesso de voluntarismo, que ela devia ser parcial, no sentido de apoiar melhor Seguro. Ela foi absolutamente isenta, o que dá uma grande garantia. E há outra coisa: ela dirigiu a melhor comissão de inquérito do parlamento português, a do BPN, que demonstrou aquela tropa fandanga que tem dominado o nosso sistema financeiro.

Elogiou o papel de António José Seguro. Gostava de o ver na campanha?

Eu, neste momento, tenho um secretário-geral que é António Costa, de cujo governo faço parte, e vejo com grande entusiasmo o que tem vindo a ser feito. Agora, eu não sou daqueles que apagam a história do partido, que teve em António José Seguro um belíssimo secretário-geral. E por mérito de Seguro temos agora um secretário-geral do PS, António Costa, eleito com uma legitimidade que nenhum líder tinha tido.

Porque resolveu hoje referir o nome da sua mãe, Maria de Jesus Barroso, como provável apoiante de Maria de Belém?

Foi um momento de emoção. Mas vou-lhe dizer uma coisa: a minha mãe foi a única mulher fundadora do PS e tinha profunda estima por Maria de Belém. Sendo uma socialista, a minha mãe tratou sempre os adversários políticos com uma lisura e dignidade que não têm paralelo – Passos Coelho, Sá Carneiro, quem quiser. Mas era do PS, portanto, numa eleição em que há uma mulher candidata, que é do PS e ainda por cima foi presidente do PS, a minha mãe não teria a menor hesitação em apoiá-la. Agora, não quero que isto seja argumento de campanha, porque tenho respeito pela memória da minha mãe.