Guilherme Silva apoia Marcelo Rebelo de Sousa e garante que só quem não conhece o candidato pode associá-lo a uma imagem de instabilidade. O ex-líder parlamentar do PSD, que trabalhou diretamente com Marcelo nos tempos em que o ex-comentador liderava o partido, defende que Passos Coelho deve assumir uma posição prudente e cautelosa nesta campanha.
Marcelo Rebelo de Sousa é acusado de ser uma pessoa instável. É uma crítica injusta?
Essa opinião revela um desconhecimento da pessoa do prof. Marcelo Rebelo de Sousa. Ele soube decidir as opções que tomou em todos os momentos do seu percurso político, sem nenhuma hesitação. Nunca hesitou quando entendeu que era a hora de sair, que era a hora de convocar um congresso, que era a hora de fazer a refiliação dos partidos…
Qual a explicação que encontra para que exista esta imagem sobre Marcelo?
É o resultado da frontalidade e da independência com que ele atua consoante as funções que desempenha. Uma coisa é o prof. Marcelo Rebelo de Sousa líder do PSD, outra coisa é o prof. Marcelo Rebelo de Sousa comentador político. Como comentador demonstrou ter a capacidade de ser isento e independente. Essa é uma qualidade, não é um defeito. Acho que há aqui um equívoco relativamente à análise que tem sido feita sobre a campanha. O que conta nesta eleição é a pessoa; é um lugar unipessoal, não é uma candidatura partidária.
É isso que justifica a sensação de que Marcelo não acha desejável a participação do PSD na campanha?
Acho que faz bem. Mal seria que, sendo constitucionalista e tendo defendido como constituinte que a candidatura presidencial fosse uma candidatura apartidária, agora que é candidato permitisse ou consentisse que a colagem partidária desvirtuasse a própria Constituição que ajudou a fazer. Isso é que seria um sinal de um troca-tintas.
Mas uma coisa é a Constituição, outra coisa é a participação do PSD na campanha…
As duas coisas não são dissociáveis. Ele não recusa o apoio de ninguém, mas terá a preocupação de não desvirtuar a sua candidatura enquanto candidatura independente.
Na sua opinião, faz sentido ou não Passos Coelho entrar na campanha das presidenciais?
Acho que as coisas devem ser feitas com alguma prudência e alguma cautela. É uma decisão que caberá a Passos Coelho. Ele também sabe ler a Constituição, mas o prof. Marcelo não vai dizer ao dr. Passos Coelho para não aparecer.
Se Marcelo Rebelo de Sousa for eleito, terá uma boa relação com este governo liderado por António Costa?
O prof. Marcelo Rebelo de Sousa é uma pessoa com uma preparação política e cultural profunda, rara, e é uma pessoa profundamente inteligente. A reunião destas duas qualidades dá-nos a garantia de que ele terá uma postura institucional adequada à situação do país. Vai ser um defensor da estabilidade e não será um contrapoder em relação ao governo em exercício, que está legitimado pela Assembleia da República.
O próximo Presidente da República terá de ser mais interventivo?
Estes últimos anos foram anos muito difíceis dada a crise que o país passou e a intervenção externa a que esteve sujeito, e eu acho que o prof. Cavaco Silva esteve à altura dessa conjuntura. Naturalmente que não se esperará que a Presidência do prof. Marcelo Rebelo de Sousa tenha equivalência a esta, porque a conjuntura é outra. Mas sei que um e outro se norteiam por um apego profundo ao interesse nacional.
Cavaco Silva é acusado de ter sido um Presidente parcial.
Acho essas leituras incríveis. Basta lembrar a postura do dr. Jorge Sampaio em relação ao governo de Santana Lopes. Ou a postura de Mário Soares, que fez Presidências abertas de hostilização ao governo e fez mais para o PS ganhar as eleições do que o próprio PS. Haverá manifestações de menor isenção partidária do que estas duas?
Marcelo será um Presidente diferente de Cavaco Silva?
O prof. Marcelo Rebelo de Sousa não é pessoa para imitar seja que Presidente for. Ele vai ser um Presidente com uma identidade muito própria.
