Campeonato do mundo de dardos?! Really!? É como estarmos em Springfield, entrarmos no bar de Moe, pedirmos umas cervejas (pode ser uma Duff) e ficarmos a ver uns tipos a atirar setas. Só falta o Bart Simpson telefonar com uma das suas partidas e pedir para falar com o Al Coholic. Vocês sabem:
Bart: Is Al there?
Moe: Al?
Bart: Yeah, Al. Last name Caholic?
Moe: Hold on, I’ll check. Phone call for Al… Al Caholic. Is there an Al Caholic here?
(A malta do bar começa a rir e depois as habituais ofensas de Moe-indignado)
Moe: Wait a minute… Listen, you little yellow-bellied rat jackass, if I ever find out who you are, I’m gonna kill you!
É mais ou menos isto, com menos amarelo dos Simpsons. Ou numa mais lamechas estar a ver Gary Anderson e Adrian Lewis, os dois jogadores que chegaram à final do Mundial, a jogar ao dardo – é como a entrada de Robin Hood no torneio: o concorrente anterior acerta em cheio no alvo e não resta outra alternativa (para poder receber um beijo da princesa) senão rachar a seta que lá estava ao meio. Bruaaaahh bullseye. OK, também teremos sempre, à vez, as nossas histórias no Cais do Sodré, bem à noite, copo numa mão e dardo na outra a jogar ao 501 – a lenga-lenga do costume, triplo 20 até chegar a zero ou ter que fechar todos os números até o vermelho no centro e o verde na periferia. Certo?
É mais ou menos isto só que a sério. À séria. Rapazes que fazem isto para ganhar a vida. Até lhe chamam campeonato do mundo, World Champion porque em inglês fica sempre melhor.
Pelo segundo ano seguido, o campeão mundial de lançamento do dardo (PDC) é Gary Anderson. Como o conseguiu? Acertando em cheio no vermelho do seu número duplo preferido: o 12. A vitória sobre Adrian Lewis foi o fim. Mas não o fim de Anderson, que já disse que quer ser campeão mais vezes (é a segunda vez consecutiva). Para já é apenas o quarto a conseguir defender com sucesso o título. Mais setas, mais dardos.
O escocês de 45 anos deu a volta ao ingês de 30 anos e fê-lo provar a derrota depois de este ter vencido os Mundiais de 2011 e 2012, a primeira sobre Anderson. “Pensei que fôssemos ao jogo decisivo mas ele tirou um 170”, desabafou. “Ele tem sido o melhor jogador e merecia isto”. Foi um triunfo por 7-5 em sets. E, apesar de ter perdido 15-19 nos 180 pontos, os 26 duplos no 12 que alcançou, comparado com apenas 19 duplos do amigo Lewis, chegaram para a vitória. Ponto final? Nem lá perto.
“O que mais temo é que há imensos bons jogadores a aparecer”, disse Anderson. Um deles, o holandês de 26 anos Michael van Gerwen, que conquistou o Campeonato do Mundo em 2014, continua no número 1 do ranking.
Só há um problema (pequeno) em relação a Anderson. Além do braço, da posição e da pontaria, há outra coisa que não pode falhar: a vista. Os olhos.
Campeão de óculos? “As pessoas perguntam-me se eu leio o jornal e eu digo: ‘Não, não consigo ver´”. E quando diz ver, é mesmo isso, a vista já não dá. “Já tentei jogar com óculos só que bato neles quando lanço o dardo”. Oh-oh, Houston, we have a problem. E este não é o único problema.
“Estou a ver números que não estão lá. O 148 que podia ter conseguido era um 128 e só percebi depois ‘olha é um quatro’. Só queria desaparecer. A ouvir a multidão…
Um dos protegidos de Anderson, Michael Smith, tentou usar lentes de contacto. “Não penso em nada pior do que isso”, diz o, novamente, campeão Anderson. “Vou ver o que se passa, nunca fiz um teste aos olhos. Até podem dizer que estou bom de vista”.
É a grande incógnita. Se aparece de óculos ou lentes. Ou sem nada, porque já conhece o alvo de cor. E nós à espera de mais um telefonema de Bart.