Costa já só pensa em eleições


Costa terá de compensar a falta de votos no hemiciclo com o alargamento da base eleitoral. Isso justifica a aceleração da agenda, que não é “para a década”: é de “tudo para todos”.


António Costa quer eleições. Precisa delas. É isso que serve os seus interesses – ainda que eles não sejam coincidentes com os do país. Basta pensarmos como António Costa pensa. Embora tenha prometido aos portugueses uma “solução governativa estável, duradoura e credível”, Costa tem perfeita consciência de que o seu executivo vive com a corda na garganta. Ela aperta ou alarga o colarinho do governo PS consoante os socialistas são mais ou menos capazes de satisfazer os humores dos seus parceiros de coligação parlamentar.

Costa, que é louvado pelos seus celestiais dotes de negociação, sempre foi mais tático do que estadista. Quando este arranjo deixar de lhe servir – e vai deixar de servir –, romperá sem pestanejar com a solução estável, duradoura e credível que nos impingiu. Costa precisa que esse momento, o da rutura, chegue mais cedo do que mais tarde.

Confirmou-se que a maioria das esquerdas é melhor a destruir do que a construir. As desculpas, injustas, despropositadas e sem fundamento com a “herança” do governo de Pedro Passos Coelho, bem como a tentativa de desmantelar tudo o que foi feito nos últimos quatro anos, continuam a ser o único cimento à esquerda. Só que o tempo das desculpas, especialmente quando injustas, despropositadas e sem fundamento, não dura sempre. E dura ainda menos quando se apanham desculpas de perna curta – mau do governo anterior que não acautelou o lugar de Costa na cimeira do clima, que não preparou o Orçamento…. Já ninguém compra este discurso. Com o tempo de passar as culpas a esgotar-se, Costa perderá o seu principal argumento (a vitimização) e o elemento aglutinador da coligação social-comunista (a oposição ao passado).

O PS chegou ao poder tendo no parlamento os apoios que lhe faltaram fora dele. Com a instabilidade no horizonte, Costa terá de compensar a falta de votos no hemiciclo com o alargamento da base eleitoral. Isso justifica a aceleração da agenda, que não é “para a década”: é de “tudo para todos”. É preciso que as pessoas sintam no bolso, e depressa, o efeito das medidas do PS. Também aqui o primeiro-ministro corre contra o tempo. Há sinais que apontam para um agravamento da conjuntura internacional, quer seja política, económica ou financeira. Problemas que, de uma maneira ou de outra, podem contaminar Portugal. Tal implicaria a adoção de medidas que a coligação das esquerdas, por incapacidade política e ideológica, nunca será capaz de passar.

Os fatores pessoais também empurram o líder do PS para eleições. Costa quer tentar sacudir o estigma de número dois que lhe está colado. O ensaio de relegitimação em eleições teria o efeito de arrumar preventivamente a sua oposição interna. Basta olhar para Espanha para perceber que nem todos os partidos socialistas estão disponíveis para embarcar nas loucuras circunstanciais de líderes cuja fé derruba muros. O PSOE, assim parece, continuará a ser uma força da esquerda moderada, facto que deixa o PS mais isolado na Europa. Sobra-lhe a companhia de Jeremy Corbyn (não do Labour) no Reino Unido e do Syriza na Grécia. (Já agora, o ano em Atenas começa com mais medidas de austeridade, sinal de que é sempre o povo quem mais sofre com as loucuras populistas idolatradas pela esquerda portuguesa).    

António Costa quer eleições. Isso faz dele um candidato a full-time. Não lhe façamos a vontade. Costa prometeu estabilidade, cumpra. Prometeu governabilidade, cumpra. Prometeu prosperidade, cumpra. As esquerdas não podem passar o tempo a falar de alternativa para, na hora da verdade, se refugiarem em pruridos ideológicos que validam o álibi da ingovernabilidade. As esquerdas têm de ser testadas no exercício do poder, para o bem e para o mal. Porque só assim podemos confrontar dois caminhos: o do aumento do consumo, da despesa pública e das importações, proposto pelo PS e os seus apêndices; e o do aumento da competitividade por via da reforma do Estado, das exportações e da contenção da despesa, defendido pelo PSD de Passos Coelho. Sabemos que o segundo caminho nos guiou à retoma. E também sabemos que o primeiro nos conduziu à bancarrota. Mas deixemos que a realidade faça o seu trabalho, mostrando para onde nos levam as alternativas. O que Portugal não aguenta mais é o debate pernicioso entre os que fogem às responsabilidades construindo repúblicas imaginárias e os que fazem o que tem de ser feito. O pior que podia acontecer aos portugueses era serem enganados duas vezes. Por isso, só com um governo de esquerda durável podemos separar as águas e ultrapassar, de uma vez por todas, os impasses eleitorais que se criaram.   

Escreve à quarta-feira


Costa já só pensa em eleições


Costa terá de compensar a falta de votos no hemiciclo com o alargamento da base eleitoral. Isso justifica a aceleração da agenda, que não é “para a década”: é de “tudo para todos”.


António Costa quer eleições. Precisa delas. É isso que serve os seus interesses – ainda que eles não sejam coincidentes com os do país. Basta pensarmos como António Costa pensa. Embora tenha prometido aos portugueses uma “solução governativa estável, duradoura e credível”, Costa tem perfeita consciência de que o seu executivo vive com a corda na garganta. Ela aperta ou alarga o colarinho do governo PS consoante os socialistas são mais ou menos capazes de satisfazer os humores dos seus parceiros de coligação parlamentar.

Costa, que é louvado pelos seus celestiais dotes de negociação, sempre foi mais tático do que estadista. Quando este arranjo deixar de lhe servir – e vai deixar de servir –, romperá sem pestanejar com a solução estável, duradoura e credível que nos impingiu. Costa precisa que esse momento, o da rutura, chegue mais cedo do que mais tarde.

Confirmou-se que a maioria das esquerdas é melhor a destruir do que a construir. As desculpas, injustas, despropositadas e sem fundamento com a “herança” do governo de Pedro Passos Coelho, bem como a tentativa de desmantelar tudo o que foi feito nos últimos quatro anos, continuam a ser o único cimento à esquerda. Só que o tempo das desculpas, especialmente quando injustas, despropositadas e sem fundamento, não dura sempre. E dura ainda menos quando se apanham desculpas de perna curta – mau do governo anterior que não acautelou o lugar de Costa na cimeira do clima, que não preparou o Orçamento…. Já ninguém compra este discurso. Com o tempo de passar as culpas a esgotar-se, Costa perderá o seu principal argumento (a vitimização) e o elemento aglutinador da coligação social-comunista (a oposição ao passado).

O PS chegou ao poder tendo no parlamento os apoios que lhe faltaram fora dele. Com a instabilidade no horizonte, Costa terá de compensar a falta de votos no hemiciclo com o alargamento da base eleitoral. Isso justifica a aceleração da agenda, que não é “para a década”: é de “tudo para todos”. É preciso que as pessoas sintam no bolso, e depressa, o efeito das medidas do PS. Também aqui o primeiro-ministro corre contra o tempo. Há sinais que apontam para um agravamento da conjuntura internacional, quer seja política, económica ou financeira. Problemas que, de uma maneira ou de outra, podem contaminar Portugal. Tal implicaria a adoção de medidas que a coligação das esquerdas, por incapacidade política e ideológica, nunca será capaz de passar.

Os fatores pessoais também empurram o líder do PS para eleições. Costa quer tentar sacudir o estigma de número dois que lhe está colado. O ensaio de relegitimação em eleições teria o efeito de arrumar preventivamente a sua oposição interna. Basta olhar para Espanha para perceber que nem todos os partidos socialistas estão disponíveis para embarcar nas loucuras circunstanciais de líderes cuja fé derruba muros. O PSOE, assim parece, continuará a ser uma força da esquerda moderada, facto que deixa o PS mais isolado na Europa. Sobra-lhe a companhia de Jeremy Corbyn (não do Labour) no Reino Unido e do Syriza na Grécia. (Já agora, o ano em Atenas começa com mais medidas de austeridade, sinal de que é sempre o povo quem mais sofre com as loucuras populistas idolatradas pela esquerda portuguesa).    

António Costa quer eleições. Isso faz dele um candidato a full-time. Não lhe façamos a vontade. Costa prometeu estabilidade, cumpra. Prometeu governabilidade, cumpra. Prometeu prosperidade, cumpra. As esquerdas não podem passar o tempo a falar de alternativa para, na hora da verdade, se refugiarem em pruridos ideológicos que validam o álibi da ingovernabilidade. As esquerdas têm de ser testadas no exercício do poder, para o bem e para o mal. Porque só assim podemos confrontar dois caminhos: o do aumento do consumo, da despesa pública e das importações, proposto pelo PS e os seus apêndices; e o do aumento da competitividade por via da reforma do Estado, das exportações e da contenção da despesa, defendido pelo PSD de Passos Coelho. Sabemos que o segundo caminho nos guiou à retoma. E também sabemos que o primeiro nos conduziu à bancarrota. Mas deixemos que a realidade faça o seu trabalho, mostrando para onde nos levam as alternativas. O que Portugal não aguenta mais é o debate pernicioso entre os que fogem às responsabilidades construindo repúblicas imaginárias e os que fazem o que tem de ser feito. O pior que podia acontecer aos portugueses era serem enganados duas vezes. Por isso, só com um governo de esquerda durável podemos separar as águas e ultrapassar, de uma vez por todas, os impasses eleitorais que se criaram.   

Escreve à quarta-feira