Clássico. Jesus a caminho da Glória? O Otto é que sabe

Clássico. Jesus a caminho da Glória? O Otto é que sabe


Só um treinador conseguiu ser campeão por Benfica e Sporting. Foi Otto Glória e o apelido não podia ser mais apropriado. Josef Szabo conseguiu-o pelo FC Porto (1935) e Sporting (1944), mas não pelo Benfica. Jorge pode emular Otto e tornar-se Glória 50 anos depois.


A primeira pergunta é para queijinho: há quantos anos não ganha o FC Porto em Alvalade? Abra a mão, estique os dedos e conte um-a-um. A última vitória aconteceu em 2008 (a 5 de Outubro). Volte a abrir a mão e a contar os dedos, porque é preciso recorrer à outra mão: e diga em voz alta se-te (7 anos). Agora feche a mão e tente lembrar-se dos golos de Lisandro López e Bruno Alves (e o de João Moutinho já agora, 2-1). E pronto, pode levantar-se do divã, está feito o exercício.

A vitória de sábado do Sporting no clássico por 2-0 (Slimani e Slimani) devolveu o leão à liderança e atirou o FC Porto para segundo plano. Não é assim a história (pelo menos a história recente)? Sim, o FC Porto não vence um clássico na Luz e Alvalade há 10 jogos consecutivos, é o pior registo desde 1972. Hummm…

Ou seja, a culpa nem sequer é de Lopetegui. Não vencer em Alvalade não é uma coisa do seu reinado – se virmos então pela perspectiva de Jesus (who else?) vemos que durante as seis temporadas que JJ treinou o Benfica, o FC Porto nunca venceu em Alvalade. Venceu em todos os estádios (incluindo na Luz) excepto na casa do Sporting. Portanto, se o FC Porto não o conseguiu nem com Jesualdo, Villas-Boas, Vítor Pereira ou Luís Castro por que raio havia de conseguir com Lopetegui?

OK, ter um dos maiores orçamentos dos últimos anos (100 milhões, quatro vezes mais que o do Sporting) e uma equipa recheada de craques (tantos craques que o treinador espanhol se deu ao luxo de deixar Imbula fora dos convocados) ajuda a aumentar a pressão sobre Flopetegui (para recuperar um título desta casa).

É que o treinador basco – que treinava o Real Madrid B na altura da última vitória portista em Alvalade – conseguiu estar no primeiro lugar da Liga pela primeira vez em dois anos e meio (ou 48 jornadas depois). E só durou uma jornada… Não resistiu ao clássico e isso já é um clássico: leva já três derrotas, duas ante o Sporting e uma com o Benfica; leva ainda dois empates  e apenas um triunfo, esta época no Dragão sobre o bicampeão. Julen vai-se abaixo e quem (who else?) passa por isto como se caminhase sobre a água? Esse mesmo, Jorge Jesus.

Tudo de pernas para o ar. JJ está a virar a história ao contrário. E se for campeão pelo Sporting, igualará um feito único. Só um treinador conseguiu ser campeão pelo Benfica e Sporting. Josef Szabo conseguiu-o pelo FC Porto (1935) e Sporting (1944), mas não pelo Benfica. Foi Otto Glória, campeão em 1957 pelo Benfica, sê-lo-ia também de leão ao peito em 1966. A imitação de Jesus a Glória já vem de trás, quando venceu esta época na Luz (0-3) foi o primeiro (e único) treinador do Sporting desde o brasileiro a ganhar no regresso ao estádio onde tinha orientado o Benfica. Foi há 50 anos.

Jesus finge que não quer saber disto. mas… Lá vai deixando umas bocas. “Disseram-me que há mais de 60 anos que não ganhávamos por mais de três golos na Luz. Nem eu era nascido!”. Por acaso já era nascido, mas não deixa de ser impressionante. Sobre o clássico com o FC Porto? Disse que lhe disseram (a equação semântica passa sempre por aqui) que Alvalade nunca tinha estado tão cheio – outra verdade, os 49.382 espectadores foi um recorde na casa. Mais?

Desde Cândido Oliveira (1948) que um treinador português do Sporting não vencia quatro ou mais clássicos consecutivos. E, sim, Oliveira foi bicampeão (1948 e 1949). Há 58 anos que o leão não festejava quatro vitórias seguidas em clássicos.

Isto não desarma Jesus, que na conferência de imprensa a seguir ao jogo até defendeu Lopetegui. Como? Atacando Rui Vitória. “O treinador do FC Porto tem mais dois pontos do que há um ano. Outros têm menos oito ou nove e vocês não fazem essas perguntas…”. Pum-pum!

Bom, Lopetegui refugiou-se nos números para dizer que ainda vai acabar em primeiro. “Quem marca primeiro tem mais hipóteses”. E retirou a suspeita de não ter querido jogar para ganhar. “Não admito que se diga que não quisemos ganhar. Os meus jogadores estão acima de qualquer suspeita”. Ponto final, Julen?

fel@ionline.pt