S. José. Falta de escalas noutros serviços pode resultar em mais mortes

S. José. Falta de escalas noutros serviços pode resultar em mais mortes


A prestação de cuidados a doentes com aneurismas e AVC no Hospital de S. José “não está resolvida a 100%”. 


As escalas de médicos e enfermeiros do serviço de neurocirurgia estão garantidas desde o final da semana passada. Mas em neuroradiologia – onde são seguidos doentes com outros diagnósticos sensíveis – continuam as negociações com o ministério da Saúde para a reposição dos valores pagos pelas horas extraordinárias. O que “ainda pode originar outros casos” como o de David Duarte, que morreu enquanto esperava por uma cirurgia.

O processo negocial está em curso para que a luz verde dada na semana passada ao serviço de neurocirurgia do S. José (HSJ) seja aplicada a outros serviços (repondo os valores pagos em horas extraordinárias até Abril de 2014). A negociação afeta, em concreto, o serviço de neuroradiologia, para o qual são encaminhados os casos de aneurisma sem rutura da artéria.

E enquanto esse processo não estiver fechado, mantém-se o risco de novas mortes por falta de assistência, avança ao i fonte do Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC), a que pertence o HSJ. “Não temos 100% dos casos cobertos” pelas novas escalas, pelo que este impasse “ainda pode originar novos casos” de doentes que não resistem ao quadro clínico e acabam por morrer enquanto esperam por uma cirurgia, alerta fonte hospitalar. Ainda ontem, um doente de 74 vítima de AVC e alegadamente recusado pelo HSJ a meio do mês acabou por morrer no Hospital de Coimbra.

Até às últimas consequências

A resposta aos três inquéritos anunciados na semana passada – pelo Ministério Público (a cargo do Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa), pela Inspeção-geral das Atividades em Saúde (IGAS) e pela Entidade Reguladora da Saúde – já está a ser preparada pelos serviços do HSJ, apurou o i.

Por um lado, as autoridades querem apurar o que se passou naquele fim de semana e que levou à morte de David Duarte, aos 29 anos. No final da semana passada, Rogério Alves, antigo bastonário da Ordem dos Advogados, admitia, em tese, que pudessem estar em causa três crimes: homicídio por negligência, omissão de auxílio e exposição ao abandono.

Por outro lado, o HSJ terá de abrir os arquivos e analisar “centenas” de processos clínicos para perceber quantas mortes se deveram a falta de assistência médica desde abril de 2014. Na semana passada, o “Expresso” adiantava que a morte de David Duarte era a quinta. Mas a mesma fonte do CHLC não confirma esse número. De qualquer forma, garante, o Hospital de São José “investigará até às últimas consequências” estes casos.

Médicos vs. Enfermeiros

A pergunta a que os inquéritos instaurados procuram agora dar resposta: quem é responsável pela morte de David Duarte?

Fonte médica diz que o neurocirurgião e a anestesista estavam no hospital na noite de sexta-feira, 11 de dezembro, quando o jovem chegou de Santarém. A intervenção cirúrgica não terá sido feita nessa noite porque não havia enfermeiros no bloco de neurocirurgia que garantissem uma equipa.

Mas a versão suscita críticas internas. Ao i, um elemento da equipa de enfermagem do HSJ garante que David podia ter sido operado no bloco central do hospital – uma prática comum em casos mais graves – e que havia enfermeiros disponíveis para assegurar essa intervenção. O argumento de que essas “equipas mistas” não estarão rotinadas cai por terra, para este elemento, por tratar-se de uma situação urgente que não é conciliável com “soluções ideais”.