Passos Coelho tinha prometido que António Costa não poderia contar com o apoio do PSD, caso precisasse alguma vez do mesmo e deveria antes demitir-se. Nessa altura António Costa avisou que quando passasse a crispação, o PSD votaria a seu lado, sempre que fosse necessário. Pelos vistos era António Costa quem tinha razão. Na primeira ocasião em que, como se antevia, se verificou que este governo não tinha qualquer apoio dos partidos de esquerda, esse apoio foi-lhe oferecido de bandeja pelo PSD que, com a sua abstenção, viabilizou o orçamento rectificativo.
Já se percebeu que isto vai ser uma constante nesta legislatura. Passos Coelho já assumiu que “é altura de deixar governar aqueles que quiseram assumir essas responsabilidades”. Só que isto representa uma rendição total do PSD como oposição, e um apagamento da função do parlamento. Vamos assistir assim a uma repetição daquilo que tivemos no último governo Sócrates, com o PSD a viabilizar no parlamento tudo o que esse governo pretendeu, até o país ser deixado completamente exangue na bancarrota. Depois foram anos de sacrifício que os portugueses e o próprio PSD pagaram muito caro.
Há quem ache isto uma brilhante estratégia eleitoral, que a prazo dará frutos. Eu acho que os portugueses não merecem ser sujeitos a isto. Da mesma forma que António Costa garantiu na campanha eleitoral que nunca viabilizaria um orçamento da direita, o PSD não pode viabilizar os orçamentos do PS. Quem criou esta situação que assuma sozinho as suas consequências.
Professor da Faculdade de Direito de Lisboa, Escreve à terça-feira