Espanha. Ciudadanos e Podemos tentam governos diferentes em Espanha

Espanha. Ciudadanos e Podemos tentam governos diferentes em Espanha


Albert Rivera dá tudo o que pode para um governo dirigido por Rajoy e Pablo Iglésias bate-se por um governo com PSOE, Podemos e nacionalistas.


Um marciano que aterrasse hoje em Espanha e lesse os jornais e ouvisse as incontáveis charlas de televisão e rádio, pensaria que os Ciudadanos e Podemos tinham ganho as eleições; e que PSOE e PP estariam imersos em conflitos internos, próprios de derrotados em noite de facas longas. O marciano não estaria totalmente errado, uma vez que tanto PSOE como PP tiveram das suas piores votações de sempre, e juntos passaram de mais de 70% dos votantes, para cerca de 50%, mas até parece que não são o primeiro e o segundo partido mais votado nas eleições espanholas.

No terreno aparecem, com a iniciativa política, Podemos e Ciudadanos: o partido de Albert Rivera a defender um entendimento entre PP, PSOE e Ciudadanos para viabilizar um governo de Mariano Rajoy; e Pablo Iglesias a bater-se por um governo com PSOE, Podemos e partidos nacionalistas, eventualmente sem Pedro Sánchez. O líder do Podemos vai mais longe: “Se não deixam Pedro Sánchez ser presidente do governo, porque se calhar não está em condições sequer de ser líder do seu partido, talvez seja o momento de uma figura independente de prestígio aparecer e dar os passos necessários para tentar que Espanha deixe de ser governada pelo Partido Popular e pôr fim a este tempo de corrupção e desigualdade”, escreve Iglésias no site Huffington Post, num texto significativamente titulado: “A Pedro não deixam”.

Iglésias meteu mãos à obra: o líder do Podemos iniciou esta semana um conjunto de contactos e reuniões para conseguir dinamizar um processo de formação de governo: agendou conversas para breve com Mariano Rajoy (esse mesmo!) e Pedro Sánchez, e ficou de marcar com Rivera; já falou com os líderes do nacionalistas bascos do PNV, e com o os catalães do DIL e ERC.

Por sua vez, Albert Rivera, do Ciudadanos, também não ficou parado: propôs ao PP e PSOE um pacto de regime que permita arrancar com a legislatura, formar governo e que impulsione as “reformas necessárias à regeneração política que necessita Espanha”, diz o líder dos Ciudadanos.

Albert Rivera, apesar de estar completamente empenhado em que o PP dirija o governo e que o Podemos não possa fazer parte de nenhuma solução governativa, mantem a sua decisão de não fazer parte de nenhum governo, a menos que haja “acordos de fundo”. Nesse caso, dada a complexidade da situação e os riscos de implosão do país, criados pela iniciativa do referendo na Catalunha, Rivera admite fazer o sacrifício. Se o PSOE e PP aceitarem o seu repto de discutir um pacto, Albert Rivera propõe que haja uma reunião conjunta entre os três líderes.

Hoje, o líder dos Ciudadanos tem uma conversa marcada como presidente do governo em funções, e líder do PP, Mariano Rajoy.

No mesmo sentido da proposta dos Ciudadanos, o editorial de ontem do site El Español propunha uma solução ainda mais original: governo de consenso entre PP, PSOE e Ciudadanos, sacrificando Rajoy. O editorialista coloca no título a necessidade de “um presidente de consenso”.

Neste artigo, defende-se que perante a ameaça independentista que vive Espanha, apenas um governo deste tipo podia permitir resistir ao desafio. Caso contrário, Espanha teria eleições nos próximos meses, um cenário que, previsivelmente, prejudicaria muito o PSOE e os Ciudadanos, e que o Podemos seria o principal benificiário. Para o site, dirigido pelo influente Pedro J. Ramirez, isso seria um perigo demasiado arriscado para a democracia espanhola, até porque o partido de Pablo Iglesias é refém dos nacionalistas. “O Podemos converteu-se em refém dos seus sócios. Só 42 dos seus 69 deputados que celebrou como seus são realmente dele: os outros pertencem ao partido de Ada Colau [Presidente da Câmara de Barcelona], a Compromís e às Mareas.. e a esses sócios tem de dar satisfações Iglésias”, considera Ramirez.

Perante esta possibilidade de dar mais votos ao Podemos, em novas eleições, ou de o partido de Iglésias ir para o governo, o artigo propõe uma outra solução: formar “com a grande maioria dos deputados do PP, PSOE e Ciudadanos um pacto de governo com um presidente de consenso que, logicamente, não deveria ser Rajoy”. Esta solução suporia criar uma maioria constitucionalista de 253 deputados que daria estabilidade ao país e conseguiria aplacar o desafio independentista”.

Tal como em Portugal, grande parte dos opinadores e dos meios de comunicação social está fortemente contra a possibilidade da formação de um governo de esquerdas e nacionalistas. Desde o jornal de direita “ABC” que titulou sugestivamente, no editorial de segunda-feira, “Espanha entre Portugal e a Alemanha”, sendo a primeira a solução de esquerda e a segunda a coligação PP e PSOE, ao jornal de centro-esquerda, “El País”, que opina que um governo com o Podemos seria “contra-natura” e apenas poderia “reforçar o populismo e os independentismos”.

Perante este cenário de tempestade, o líder do PSOE, Pedro Sánchez, está a tentar ganhar apoios no seu partido para negociar uma solução nova. “Espanha necessita de grandes transformações e frente aos que traçam linhas vermelhas, o PSOE vai abrir pontes de diálogo e de acordo”, diz Sánchez, que garante querer formar um “governo de mudança”. 

nuno.almeida@ionline.pt