Nóvoa tenta mostrar força, Belém opta pela discrição

Nóvoa tenta mostrar força, Belém opta pela discrição


Se a entrega de assinaturas no Tribunal Constitucional (TC) servisse para medir forças entre candidatos, António Sampaio da Nóvoa ganhava, para já, aos pontos.


O antigo reitor da Universidade de Lisboa chegou ao Palácio Ratton quase uma hora depois de Maria de Belém Roseira ter deixado o Tribunal Constitucional. Com o pátio cheio de apoiantes que há largos minutos o esperavam, foi recebido com uma salva de palmas entusiástica, a pensar nos jornalistas que àquela hora aguardavam também o candidato.

Figuras de peso 

Entre desconhecidos – alguns deles ligados ao Partido Livre, o único que apoia oficialmente a candidatura -, não faltavam figuras de peso: o militar de Abril Vasco Lourenço, o ex-ministro da Cultura António Pinto Ribeiro, a deputada do PS Gabriela Canavilhas e a viúva de José Saramago, Pilar del Río. Todos à espera de Nóvoa, que levou ao TC cerca de 13 mil assinaturas (o mínimo são 7.500, o máximo são 15 mil).

Sampaio da Nóvoa chegou com o seu novo mandatário ao lado, o ex-ministro da Saúde Correia de Campos. E à sua espera tinha um grupo de jovens apoiantes, que ficaram com a missão de carregar as caixas para dentro do TC, mas também de formar uma moldura de juventude em torno do candidato.

Nada foi deixado ao acaso. E até as primeiras assinaturas têm um significado especial. Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio são os três primeiros propositores da candidatura, que quer afirmar-se como independente, mas que junta cada vez mais figuras do PS.

“É um momento muito importante, de grande orgulho para todos nós”, sublinhou Sampaio da Nóvoa, lembrando que o trabalho de recolha das assinaturas ontem entregues foi feito por “voluntários, cidadãos sem o apoio de uma máquina partidária”.

Nos próximos dias, Nóvoa anunciará outros mandatários por áreas que se juntarão ao mandatário nacional Correia de Campos, alguém que o candidato considera trazer “um contributo muito importante” para a sua campanha. A estes nomes juntar-se-ão ainda os dos mandatários distritais, “sempre um homem e uma mulher” porque, como afirma Nóvoa, “as questões da paridade são muito importantes” para esta candidatura.

Com quase “quatro voltas a Portugal” dadas na pré-campanha, Nóvoa diz estar quase certo de que haverá uma segunda volta nas presidenciais. Para já, tem andado pelo país a convencer os eleitores de “o que está em causa é uma ideia para Portugal”.

A pegada ecológica 

Se Sampaio da Nóvoa está confiante na “energia” que diz sentir nas suas ações de campanha, Maria de Belém não lhe fica a atrás. Muito mais discreta, a socialista chegou com uma pequena comitiva ao Palácio Ratton por volta das 11h30. Ao seu lado, Alberto Martins era a única figura conhecida.

Com as cerca de 9.200 assinaturas na bagageira de um Fiat 500L, Maria de Belém lamentou o processo burocrático de recolha a que são obrigados os candidatos à Presidência da República. “O papel que se gasta, os quilómetros que se tem de fazer. Tudo isto tem uma enorme pegada ambiental”, lamentava a socialista, que não entende por que motivo se exige ainda às juntas de freguesia que emitam uma certidão de eleitor por cada um dos propositores das candidaturas quando essa informação está disponível na internet. “É um processo que podia ser simplificado na sua carga burocrática”, defende.

Com a entrega das assinaturas cumprida, Maria de Belém é agora oficialmente candidata, mas há muito que começou a campanha. “Já fiz alguns milhares de quilómetros”, comentou com os jornalistas, garantindo ter razões para acreditar numa vitória. “As minhas perspetivas são muito positivas”, disse a candidata que diz estar “com imenso vigor e energia” para a campanha que aí vem, mas sem vontade de comentar “assuntos da atualidade” como o Banif. “Não sou comentadora”.

O outro comentador 

Há, contudo, quem veja no facto de ser comentador uma grande vantagem na corrida presidencial. O quase desconhecido Jorge Sequeira entregou ontem também no TC 9.118 assinaturas e, a quem não o conhecia, explicou que faz análise da atualidade no Porto Canal. “O facto de ser comentador perspetiva uma candidatura forte”, declarou aos jornalistas depois de a sua entourage ter montado uma “pirâmide” com as cores de Portugal usando as pastas onde transportou as assinaturas necessárias para ser candidato à Presidência.

Se o anúncio da candidatura, que diz ter feito “há um ano e meio no Porto Canal com o Júlio Magalhães”, passou quase despercebido, ontem Jorge Sequeira foi difícil de ignorar. Chegou duas horas antes do que tinha marcado, mas mesmo a tempo de estar presente entre a entrega de Maria de Belém e a de Sampaio da Nóvoa.

Sequeira esperou que Nóvoa saísse do Palácio Ratton, “para não ser acusado de canibalizar a candidatura” do adversário, mas não resistiu a imitar o que se fazia na candidatura rival. Quando viu Nóvoa receber duas fortes ovações à entrada e à saída do Palácio, Jorge Sequeira tratou de pedir tratamento idêntico à sua comitiva. “Temos de aprender com os melhores”, admitia o candidato do Porto, que se apresenta como psicólogo, “doutorado em treino mental” e empresário.