Crescer


Entre as muitas e variadas tiradas geniais do saudoso Raul Solnado, há uma que nos dá a imagem que ele guardava do corredor imenso da sua casa de infância. Tão comprido era o corredor que depois do menino Raul o palmilhar até ao fim, o seu pai lhe dizia -“meu filho, como tu cresceste!”. 


Para lá do humor imediato, a metáfora é genial porque consegue acolher variadíssimas leituras, tantas quanto possa ser ou não excessivo o percurso desse corredor, e tantas quanto são ilimitados o tempo e a razão de cada travessia. Mas a verdade é que de qualquer modo, com ou sem a evidência física para o menino Raul, crescemos sempre no fim da travessia de qualquer corredor. 
Lembrei-me desta rábula porque vivemos este ano um momento histórico e estruturante da nossa democracia, quando ao fim de quarenta anos caiu de velha e inanimada, aquela geringonça exclusiva do chamado “arco da governação”. Caiu, como cai qualquer lógica em que o razoável inicial se transforma depois, iniquamente, em anacronismo ou em puro preconceito. Qualquer democrata, independentemente do seu posicionamento político, saberá reconhecer a importância do momento, e a responsabilidade política que lhe é consequente. Acabe-se com a gritaria. Está cumprida a travessia de mais um corredor. O menino cresceu outra vez. Que repouse em paz, e definitivamente, a outra velha metáfora do grande Solnado, ainda com o pai em pano de fundo, que lhe dizia com severidade, -“meu filho, quer queiras quer não queiras, hás-de ser bombeiro voluntário!”. Mãos à obra, e votos de festas felizes para todos.  

Escreve à terça-feira

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Entre as muitas e variadas tiradas geniais do saudoso Raul Solnado, há uma que nos dá a imagem que ele guardava do corredor imenso da sua casa de infância. Tão comprido era o corredor que depois do menino Raul o palmilhar até ao fim, o seu pai lhe dizia -“meu filho, como tu cresceste!”. 


Para lá do humor imediato, a metáfora é genial porque consegue acolher variadíssimas leituras, tantas quanto possa ser ou não excessivo o percurso desse corredor, e tantas quanto são ilimitados o tempo e a razão de cada travessia. Mas a verdade é que de qualquer modo, com ou sem a evidência física para o menino Raul, crescemos sempre no fim da travessia de qualquer corredor. 
Lembrei-me desta rábula porque vivemos este ano um momento histórico e estruturante da nossa democracia, quando ao fim de quarenta anos caiu de velha e inanimada, aquela geringonça exclusiva do chamado “arco da governação”. Caiu, como cai qualquer lógica em que o razoável inicial se transforma depois, iniquamente, em anacronismo ou em puro preconceito. Qualquer democrata, independentemente do seu posicionamento político, saberá reconhecer a importância do momento, e a responsabilidade política que lhe é consequente. Acabe-se com a gritaria. Está cumprida a travessia de mais um corredor. O menino cresceu outra vez. Que repouse em paz, e definitivamente, a outra velha metáfora do grande Solnado, ainda com o pai em pano de fundo, que lhe dizia com severidade, -“meu filho, quer queiras quer não queiras, hás-de ser bombeiro voluntário!”. Mãos à obra, e votos de festas felizes para todos.  

Escreve à terça-feira