Benfica. Águia sem asas para esta história

Benfica. Águia sem asas para esta história


Benfica deixa dois pontos na Madeira e luta contra a estatística: nunca foi campeão com sete ou mais pontos de atraso para a liderança à 13.ª ronda


Jogava-se o último suspiro da partida (90+6) e o Benfica atira-se desesperado para o ataque. André Almeida faz um lançamento longo para a área do União da Madeira, Jiménez falha o alvo num pontapé acrobático – bloqueado pelo corpo de Mitroglou – e a bola sobra para Talisca que, com a última oportunidade nos pés, remata enrolado e sem perigo. Soa o apito final e aquilo que seria à partida apenas uma viagem à Madeira para acertar calendário (jogo em atraso da 7.ª jornada), termina num regresso atribulado a Lisboa.

O “ataque avassalador” dos encarnados (31 golos), como lhe chamou Rui Vitória depois do triunfo no passado domingo em Setúbal (4-2), foi bloqueado pela muralha defensiva de uma equipa que só nos últimos três jogos encaixou dez golos (6 do Paços e 4 do FC Porto).

Após cinco vitórias consecutivas na 1.ª Liga, o Benfica anulou-se frente ao 15.º classificado (0-0) e deixou dois pontos na Choupana que podem fazer toda a diferença no final da época. É que o fosso para os rivais começa a ganhar forma: sete pontos de atraso para o Sporting e cinco para o FC Porto.

Uma desvantagem que fez soar o alarme na Luz. O Benfica nunca conseguiu ser campeão com sete ou mais pontos de desvantagem para a liderança ao fim de 13 jornadas. Aconteceu por 10 vezes na história do futebol português e o melhor que os encarnados conseguiram foi chegar ao segundo lugar.

Que o diga Jorge Jesus, ainda de águia ao peito, quando em 2010/11 falhou a revalidação do título perante o domínio do FC Porto de Villas-Boas. Pela mesma altura, eram oito os pontos que separavam as duas equipas. No final da temporada subiu para 21(!) e, talvez por isso, festejou-se com pompa e circunstância na Invicta.

Desta vez quem comanda o ritmo do comboio da frente é o Sporting, mas as estatísticas continuam sem ajudar a equipa de Rui Vitória. É preciso recuar até 1957/58 para encontrar os dois rivais da Segunda Circular separados por uma margem tão grande (oito) – numa época em que as vitórias valiam dois pontos. Nessa temporada, celebrou-se o último título de Travaços em Alvalade.

Uma tendência que o Benfica pretende contrariar – apesar da missão se adivinhar espinhosa -, a julgar pelas palavras do treinador no final do encontro na Madeira. “O Benfica quer estar sempre em primeiro. Não queríamos esta diferença pontual, agora não há nada a fazer. Vamos procurar encurtar essa distância. Ainda há muitos pontos para conquistar e é este o caminho que temos de percorrer”, rematou Rui Vitória.

Um discurso que não agradou aos adeptos. A exibição de Jiménez, Talisca, Fejsa, André Almeida e Eliseu também não ajudou. “Joguem à bola”, cantaram três dezenas de adeptos, por entre inúmeros insultos, à saída da Choupana. Rui Costa, administrador da SAD, não se conteve e saiu do autocarro para defender a equipa. Chegou para acalmar os ânimos. Mas até quando?

hugo.alegre@newsplex.pt