Quando queria evitar conversas sobre a sua eventual candidatura a Presidente da República, Marcelo tentava calar os amigos com um argumento interessante: como não era casado, não poderia ser Presidente da República.
O país nunca tinha eleito um presidente solteiro ou divorciado. Marcelo divorciou-se da mãe dos seus dois filhos e há longos anos que namora com a professora de Direito Rita Amaral Cabral. Mas nunca casaram – para os dois, católicos praticantes, o casamento é indissolúvel. Logo, o divórcio civil de Marcelo “não conta”.
Rita Amaral Cabral nunca participou nas actividades políticas de Marcelo Rebelo de Sousa – embora, segundo contam amigos, seja um grande apoio na rectaguarda e se interesse profundamente por política. Mas a relação sentimental – tão antiga quanto discreta – não levará Rita Amaral Cabral a exercer o papel de “senhora de Marcelo Rebelo de Sousa”, o papel reservado no protocolo de Estado à mulher do Presidente da República. Na entrevista que deu no sábado ao Expresso, Marcelo explica que, agora, já pensa que um Presidente sem “primeira-dama” não é um “handicap”: “Entendo que numa República, diversamente de uma monarquia, a família do Presidente da República não tem um papel a desempenhar em termos políticos. Pode ter acontecido e eu reconheço que possa até ter havido méritos nisso, com um contributo social dos cônjuges dos anteriores presidentes”, disse.
Rita Amaral Cabral não exercerá qualquer função ao lado de Marcelo. “Não há nenhuma obrigação institucional do Presidente ter uma primeira-dama e eu entendo que os planos se devem separar. Os meus netos não andarão a correr pelos jardins do Palácio de Belém nem aparecerão em encontros protocolares”.
Rita Amaral Cabral foi administradora não executiva do BES, questão que “não causa qualquer embaraço a Marcelo”. “Em primeiro lugar considero-a uma pessoa de honestidade, rigor e transparência a toda a prova. Em segundo, não existe qualquer processo que a envolva. Terceiro, como é próprio de uma sociedade democrática adulta, as nossas vidas profissionais e patrimoniais são separadas”.
Quer seja Marcelo eleito Presidente, quer seja Sampaio da Nóvoa, não haverá “primeira dama” em Belém nem a cumprir tarefas de protocolo de Estado. António Sampaio da Nóvoa é casado desde os 19 anos, mas a sua mulher tem-se mantido totalmente afastada da campanha. Se Nóvoa for eleito Presidente, a mulher não exercerá as funções de “senhora de Sampaio da Nóvoa”. Em entrevista ao Diário de Notícias, Nóvoa explicou: “Respeito e apoio incondicionalmente que a minha mulher não queira exercer as funções tradicionais de primeira-dama e que queira continuar a sua vida profissional. Da mesma maneira, aliás, que a minha mulher respeita e apoia também incondicionalmente a minha decisão de me candidatar”.
Sampaio da Nóvoa é apoiado pelos três anteriores Presidentes da República – Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio – cujas mulheres exerceram activamente o papel de “primeira dama”. Manuela Eanes foi talvez a mais politicamente activa de todas: quando Eanes formou o Partido Renovador Democrático quando ainda era Presidente da República e não podia participar na campanha eleitoral de 1995, foi Manuela Eanes que correu o país a apresentar o novo partido, ao lado do primeiro líder do PRD, Hermínio Martinho. Com assinalável sucesso, diga-se. O PRD conseguiu 17% em Outubro de 1985, as primeiras eleições a que concorreu. Em Belém, dedicou-se especialmente aos problemas das crianças. Depois de Ramalho Eanes sair da presidência da República, Manuela Eanes fundou o Instituto de Apoio à Criança.
Também Maria Barroso foi uma mulher de Presidente muito activa, antes mesmo da eleição. Nas campanhas presidenciais de Mário Soares, Maria Barroso não andava ao lado do candidato – dirigia uma caravana autónoma destinada a potenciar votos para Mário Soares. Fundadora do PS, com actividade política anterior à sua relação com Mário Soares, Maria Barroso foi uma mulher de Presidente “peso pesado”, activíssima em inúmeras causas sociais e culturais. Quando saiu de Belém, foi presidente da Cruz Vermelha e depois dirigiu a Fundação Pro-Dignitate.
Maria José Ritta, que foi a primeira mulher de Presidente a criar um gabinete em Belém para exercer as suas funções, dedicou-se especialmente ao voluntariado e à divulgação dos designers de moda portugueses nas visitas oficiais. Maria Cavaco Silva foi sempre presença activíssima ao lado do marido em todas as viagens oficiais, tendo sempre, como as suas antecessoras, um programa paralelo. Dedica-se a causas sociais e a sua agenda é tão oficial como a do Presidente – sempre divulgada para os jornais e publicada no site da Presidência.
Ao contrário de Rita Amaral Cabral e da mulher de Nóvoa, o marido de Maria de Belém está sempre presente ao lado da candidata nas acções de campanha. Manuel Pina, engenheiro químico, é casado com Maria de Belém há décadas. São pais de Maria Helena, de 30 anos, e em breve serão avós. Se Maria de Belém vencer as Presidenciais, Manuel Pina será “uma espécie de Dennis Thatcher”, afirma um amigo de ambos. Mas sem álcool.