Maria de Belém, Sampaio da Nóvoa, Marisa Matias e Edgar Silva estão a afinar a estratégia com um ponto em comum: explorar as fragilidades de Marcelo e trazê-lo para o debate. Por outras palavras, evitar que a campanha seja um passeio para o ex-comentador. “Ou trazem Marcelo para a discussão ou ele vai fazer um passeio em passadeira vermelha”, alertou Jorge Coelho, na Quadratura do Círculo.
Coelho é um dos mais destacados apoiantes da ex-ministra da Saúde, mas não tem dúvidas de que Marcelo ganha à primeira volta se os candidatos à esquerda “deixarem continuar as coisas como estão”.
A perceção de que é preciso jogar duro com Marcelo também já chegou à candidatura de Sampaio da Nóvoa. O capitão de Abril Vasco Lourenço, um dos apoiantes do ex-reitor desde a primeira hora, defende que é preciso “desmascarar” o candidato de direita. “Apresenta-se como menina virgem como se entrasse agora na política. Ele tem 41 anos, pelo menos, de intervenção na política e tem um passado que não tem nada que ver com a postura que agora está a ter”, diz ao i Vasco Lourenço (ver entrevista ao lado). O capitão de Abril anda na estrada a fazer campanha pelo ex-reitor e acredita que os eleitores ainda vão lembrar-se dos “muitos episódios que mostram que Marcelo é um indivíduo em quem não se pode ter o mínimo de confiança”.
Os adversários apostam em colar Marcelo à imagem do político intriguista que não é confiável. “Gosta muito de criar factos”, disse Maria de Belém, em entrevista à SIC. “Pode perturbar o ciclo político”, garantiu Sampaio da Nóvoa, na Antena 1. O candidato acusou ontem Marcelo de “arrogância” por ter, dito, em entrevista ao Expresso, não ter “dúvidas nenhumas” de que será Presidente da República “daqui a semanas”.
Marisa Matias também disparou, num comício em Évora, no sábado, contra quem está “a tentar fazer das eleições um passeio”. O alvo era Marcelo Rebelo de Sousa por”tentar evitar todas as questões que são verdadeiramente relevantes do ponto de vista político”.
A preocupação da esquerda é que Marcelo vença à primeira volta e muitas sondagens apontem para esse cenário. O que permite a Marcelo ignorar as críticas e não entrar em confronto directo com os outros candidatos. “É a última coisa que eu devo fazer”, disse, em entrevista à SIC. O ex-líder do PSD garante que, nesta campanha, o seu adversário “é a situação social do país”.
Mesmo sem conseguir trazer o candidato apoiado pelo PSD e CDS para o debate, a esquerda está empenhada em “desmontar” a tese de Marcelo de que é independente. Ontem foi a vez de Jerónimo de Sousa lembrar, no final na reunião do Comité Central, que se trata de alguém com “um continuado percurso ao serviço do PSD como principal responsável do partido, como ministro, secretário de Estado, deputado e eleito autárquico”.
Jerónimo considera que o candidato mais à direita nas presidenciais do dia 24 de Janeiro “representaria na Presidência da República a continuação de uma acção, a exemplo de Cavaco Silva, ao serviço dos interesses dos grupos económicos e financeiros, e que, face aos recentes desenvolvimentos da situação política nacional, se assumiria como instrumento do projecto revanchista dos sectores do grande capital”.
O candidato comunista Edgar Silva já tinha acusado Marcelo, no sábado à noite, em Braga, de “andar de braço dado com os grandes banqueiros, os grandes nomes da finança e a grande fidalguia deste país”.