Um tipo lança no Kickstarter a ideia de fazer uma salada de batata, pede dez dólares e acaba com 55 mil e mais uns trocos. E faz a salada e até envia partes da salada para quem investiu no projecto provar. André Alberto, um designer que trabalha numa agência de publicidade em Lisboa e anda sempre em cima destas coisas, ficou com essa na cabeça. Se há quem fique rico depois de lançar um projecto no Kickstarter, então porque não, vamos lá ser directos, lançar um projecto para ficar rico?
Rico é pouco. Milionário. Se 0,01% dos 7 mil milhões da população mundial lhe dessem um euro, só um euro, poderia ser milionário, segundo as suas contas. Uma ideia simples e brilhante. Genial, diria André. E disse, porque, vai daí, tira os auscultadores e anuncia a sua ideia ao mundo, que é como quem diz aos colegas da sua ilha, no escritório. “Houve assim um silêncio grande, mas pela cara das pessoas percebi logo que era uma boa ideia.” Começam todos a trabalhar. Com o texto de apresentação do projecto, que um colega escreveu, as câmaras, que lhe emprestaram, o cenário, que é a casa de uma amiga, e a actriz que aparece no vídeo a fazer o apelo, que é uma amiga também. A todos eles, a todos os que o ajudaram, André prometeu 10 mil euros, caso tudo corra bem e se torne mesmo milionário.
Mas André não quer ser milionário só por ser. André quer oferecer aos outros, a todos os que financiarem o seu projecto, a possibilidade de terem uma experiência com um milionário – e isso pode ir desde um conselho pessoal pelo Twitter de um milionário, recompensa reservada a todos aqueles que investirem pelo menos um euro, à possibilidade de se casar com ele para os que doarem 7 mil euros para este seu projecto de André. Perguntamo-nos, e imaginamos que o leitor também, para que estará alguém disposto a dar 7 mil euros para fazer alguém milionário e casar-se com ele. Um investimento com retorno? Aceitam–se hipóteses de resposta.
Mas por menos também se consegue qualquer coisa: como jantar com um milionário ou receber um telefonema de um milionário. “Este pode ser o pior exemplo possível: não sei se gostas do Ronaldo mas, se gostares, imagina o que é dizeres: ‘O Ronaldo telefonou-me hoje.’ Ninguém diz isto.” E é essa possibilidade que André, que se apresenta como “um cidadão português comum com uma grande ideia”, quer oferecer a todos o que apostarem na sua ideia.
O projecto “Becoming a Millionaire in 35 days” foi lançado no final de Novembro. Faltam 22 dias para terminar e até agora teve 14 apoiantes. Ontem tinha juntado apenas 565 euros, o que já é alguma coisa, mas pouco para quem se propôs chegar ao milhão. Mas ele não se deixa abalar. “Isto é daquelas coisas simples que podem ser muito faladas. Por ser tão simples.” Como a história que contávamos de uma salada de batata que deu 55 mil dólares.
A ciência dos 35 dias
Bom, na verdade foram 35 dias, mas podiam ter sido 33, 34 ou 36. Ou 60. “Eles aconselham a que cada projecto vá entre os zero e os 60 dias e determinam que a probabilidade do sucesso está nos 30 dias. Eu decidi 35 porque gosto de números ímpares”, explica entre sorrisos.
Caso consiga tornar-se milionário nos dias que faltam – e já só faltam 21 –, André fará um livro a contar todo o processo que, na verdade, esteve quase para não existir. “Quando apresentamos o projecto, ele tem de ir para aprovação do Kickstarter. Eu queria que entrasse a tempo do final do ano e foi chumbado”, conta. “Consideraram que não cumpria as regras porque não se pode fazer crowdfunding pessoal.” Uma das regras desta plataforma de crowdfunding é justamente não aceitar projectos que tenham como objectivo angariação de fundos para caridade ou financiamento pessoal. Mas no final do email havia uma nota com um contacto, para o caso de quererem contestar a decisão. André explicou: “OK, eu vou tornar-me milionário, mas isto cria um produto, alguém está a lucrar com isto sem ser eu.” Ideia aceite. A sua parte está feita, agora é esperar.
“Ainda está nos 565 euros. O meu objectivo é chegar, de alguma maneira, aos EUA e à China – em termos de notícia, porque aí é que estão os públicos que conseguem investir”, diz. “Em Portugal não há tanto à-vontade nem conhecimento da plataforma para se investir assim tanto.” Daí estar tudo em inglês. “A minha esperança é conseguir chegar lá de alguma maneira e isto rebentar sozinho. Claro que eu sei que a probabilidade de isso acontecer será também talvez de 0,01%.”
Se isto resultar, e ele acredita mesmo que, se na China ou nos EUA alguém der por ele, isto pode resultar, André passará, à meia-noite de dia 30, de um miúdo de 25 anos que trabalha como designer numa agência de publicidade a milionário. Num estalar de dedos. Terá ele encontrado a receita perfeita para fazer um homem milionário em apenas 35 dias? Dia 30 cá estaremos para ver. E os amigos a quem prometeu 10 mil euros também.