50 dias depois das eleições, Cavaco Silva indigitou o líder partidário que conseguiu reunir apoio para governar da maioria dos deputados eleitos a 4 de Outubro. Num dos seus discursos mais claros concretizou de forma grosseira a sua incomodidade com o facto de estar a dar posse a este governo, lançando dúvidas sobre a capacidade dos novos governantes de manterem os compromissos internacionais que declaram querer cumprir.
Aos avisos do decano governante europeu – importa recordar que é o único homem que desde 1985 tem a sua assinatura em praticamente todos os acordos e tratados europeus –, as instituições internacionais responderam com total indiferença. Uma indiferença provavelmente reveladora da sua decana irrelevância.
Nas últimas semanas algo mudou. Cavaco, a direita, as confederações patronais, os donos dos bancos e até o líder da UGT, viram-se forçados a aceitar um governo que não queriam. O problema não está em ser um governo do PS, mas em ser um governo sustentado por uma maioria parlamentar à esquerda. Para tal acontecer, o PS teve de fazer uma escolha diferente e assumir uma mudança, ainda que não haja qualquer sinal de que os representantes e membros da casta abandonem as suas posições dentro do partido.
A novidade é ter sido criado um novo plano para as decisões políticas estratégicas. Um plano parlamentar que, se não for recomposto à primeira adversidade, será pouco controlável pelos interesses da casta. Imaginando que não haverá novas privatizações, PPP, contratos SWAP, e que não serão feitos novos negócios ruinosos para o Estado – o que já será uma ruptura histórica com governos passados –, veremos se as rendas contratadas bastarão para alimentar a sua gula.
Não nutro grandes ilusões quanto ao que será possível fazer dentro da camisa de forças a que países como Portugal estão sujeitos no quadro do euro. Mas permito-me acreditar que vamos abrandar a marcha no caminho para nos tornarmos um país mais miserável e dependente.
Escreve à segunda-feira