Raquel Prates. A urgência de comunicar pode ter muitas formas

Raquel Prates. A urgência de comunicar pode ter muitas formas


Filha do galerista António Prates, Raquel Prates tornou-se conhecida no programa “Portugal Radical”. Longe da televisão, há um ano abriu a 39A, um espaço onde arte, design e moda vivem de mãos dadas.


Sempre que se fala de Raquel Prates, a seguir ao seu nome vem a expressão “uma das mulheres mais elegantes de Portugal”. Assim é há já alguns anos. Muitas são as pessoas que conhecem a sua cara das revistas, que lhe reconhecem o tal bom gosto e elegância, elogios que considera não se confinarem à imagem e que portanto não lhe parecem redutores. Mas a verdade é que poucos sabem sequer o que faz na vida. Alguns, é certo, ainda se recordarão dela como a miúda de 17 anos, com look de surfista e duas madeixas louras platinadas, que chegou a apresentar o “Portugal Radical” e mais tarde o programa de jogos “Dá-lhe Gás”.

Da televisão, não nega, tem saudades. De tudo. “Ocasionalmente ainda lá vou como convidada, mas como apresentadora o meu último projecto foi talvez há três ou quatro anos. Quando surgir o projecto certo voltarei. Continuo a dar mais importância ao dia que aos dias ou anos”, diz entre risos.

Mulher dos sete ofícios, desde muito jovem que se foi desdobrando em diferentes áreas. Reflexo de nunca ter tido um sonho de infância. Queria “apenas” fazer bem feito. “Sonhava sempre com ideia de fazer as coisas bem, de uma forma que me respeitasse a mim e aos outros. Mas continuo a sonhar. A minha maior preocupação foi sempre com a minha prestação. Dei sempre o melhor de mim e atingi os objectivos que me foram propostos. Por isso quero acreditar que me levaram a sério.”

Inegável é que o facto de ser filha de António Prates, um dos grandes galeristas de Portugal, a influenciou. Raquel lembra-se de ser pequena e estar “rodeada de arte e artistas, de pessoas que entregaram a sua vida à criação” e viu em todos um denominador comum, a inquietação. “Uma vontade de fazer sempre mais, de fazer sempre melhor, e isso influenciou-me mesmo muito. Tal como a uma perspectiva de liberdade que a maioria não conhece.” Com este enquadramento, era natural que a arte, e acima disso a estética, estivessem sempre presentes na sua vida. Ainda mais porque Raquel casou, há nove anos, com o artista plástico João Murillo. Não se entregou à arte do ponto de vista criativo, mas licenciou-se em Design. Como filho de peixe sabe nadar, encabeçou o portal de arte www.artelection.com e a Galeria de São Bento. Mas há pouco mais de um ano Raquel resolver dar palco a outra das suas paixões: o design de moda. O primeiro passo foi a criação do blogue Up, que posteriormente passou a ter o seu próprio nome e há um ano se materializou na concept store 39A, no fundo uma fusão entre uma galeria de arte e uma loja, um espaço onde arte, design e moda convivem salutarmente. “O projecto surge da necessidade de dar resposta a toda informação que fui acumulando ao longo da vida. Quis fazer algo diferente, multicultural, urbano e cosmopolita.” Aos 39 anos, Raquel sentiu que estava na hora de assumir um papel activo na divulgação, na comunicação e na comercialização de “tantas coisas boas que se fazem em Portugal, e não só”.

Ao fim de um ano – que foi comemorado com um vídeo em jeito de homenagem à dança que reúne sete bailarinos de street dance (Maria João Liso, Raquel Rodrigues AKA Tempest, Zé Carlos AKA Mastyle, Rogério Santos AKA Surprise, Diamantino Djalo AKA KatFlow, Fábio Silva AKA Borez B e Iuri Oliveira AKA Jr. Borez B) – a empresária considera que estes 12 meses foram sobretudo de uma aprendizagem intensa. “Quando se inicia um caminho como o nosso, num país em que se dá pouca atenção à cultura, estamos sempre rodeados de dificuldades e adversidades. Também é verdade que é nesse trajecto que conhecemos pessoas que trabalham todos os dias para melhorar as suas capacidades e apetências. E foi com enorme alegria que acolhemos as nomeações para alguns prémios. Isso também nos ajudou.”

Neste espaço com cerca de 400 metros quadrados, e que tal como o nome indica fica no número 39A, da Rua Alexandre Herculano, bem no centro de Lisboa, é possível encontrar marcas de roupa, acessórios, calçado, beleza e decoração, sempre rodeadas de instalações artísticas. “Tudo o que temos na loja não é massificado. Mas ao mesmo tempo tenho de salientar que privilegiamos artigos que não sejam caros sem nunca comprometer a qualidade, muitas marcas que estão a iniciar o seu percurso e de jovens criadores. Somos um país maravilhoso no que diz respeito à inovação e à criação e acho que se encontra isso na 39A. E a marcas internacionais mais trendy do momento, que em Portugal só encontra na 39A.” Acima de tudo, Raquel Prates queria proporcionar um espaço que não intimidasse, e ao fazê-lo “democratizar o conceito de exclusividade”.

Para o futuro, a empresária já pensa em mais uma fusão: juntar à arte, ao design e à moda, que já ocupam a 39A, a televisão. E assim matar saudades. “Acho que a 39A dava um bom programa de televisão”, afirma, a rir-se. “Estou a brincar, mas também estou a falar a sério, porque desta forma casava todas as áreas que trabalhei, e podia divulgar os nossos criadores, independentemente da sua forma de expressão, o que para mim é uma urgência.” Até para que se possa promover cada vez mais o made in Portugal.