Em 1994 surgia em Alcobaça uma banda que iria redefinir consideravelmente o mapa musical português. Nascidos como projecto paralelo dos Dead Souls, o grupo que Nuno Gonçalves e Miguel Ribeiro tinham à altura, começaram a dar nas vistas oferecendo uma pop cantada em inglês, com uma sonoridade diferente e uma vocalista com uma voz forte e invulgar. “OK! Do You Want Something Simple?”, o seu primeiro grande sucesso, continua a soar a este tempo, mas o que é certo é que já passaram 17 anos desde que saiu o álbum onde estava incluído, “Vinyl”, o disco de estreia dos The Gift, lançado em 1998.
O percurso antes disso e sobretudo o que veio daí para frente – marcado por sucessos atrás de sucessos e por um trajecto em ascensão que os tornou numa das maiores bandas nacionais – é retratado no livro “The Gift 20” que, com a edição de uma dupla colectânea que atravessam toda a discografia do grupo e dois concertos marcados para Dezembro, assinala duas décadas de actividade, do colectivo composto pelos irmãos Nuno e John Gonçalves, Sónia Tavares e Miguel Ribeiro.
É Nuno Gonçalves quem, em nome dos Gift, confessa sentir “um orgulho tremendo”, quando olha para este livro e vê a história construída. “É um bocadinho aquela ideia de dever cumprido mas não me fico no passado. Aliás o último capítulo aponta um caminho que está já aí ao virar da esquina”. Caminho que se traduz num novo disco, já terminado, com lançamento previsto para o próximo ano, e produzido por Brian Eno. “Através da lente do David Clifford conseguimos ainda – semanas antes de ele falecer – ter registos de uma das sessões de gravação, no nosso estúdio, em Alcobaça, e o livro representa isso mesmo: mais do que uma celebração exaustiva do que está para trás, aponta muito bem o futuro”, sublinha.
Por outro lado, o músico e fundador do grupo considera que este livro é também um manual de sobrevivência para qualquer banda que está a começar. “Tem o lado de fã e de pessoa que quer conhecer mais da história dos Gift, é um excelente objecto de design, mas também para grupos que estão no início, para miúdos que querem saber um bocadinho mais sobre o que é isto de ter uma banda, porque vai desde o começo de tudo, do tempo em que para andarmos em pé na sala de ensaios tínhamos que ter apenas um metro e meio até ao final em que temos o maior produtor do mundo a trabalhar connosco”. Pelo meio há muitos momentos que se recordam, dos mais emblemáticos e representativos do percurso do grupo a outros que se revestem de especial significado para quem está por dentro deste processo que agora celebra uma maioridade plena. Por isso, Nuno Gonçalves elege algumas das fotografias que para si têm uma simbologia especial. Como quem folheia um álbum de família conta-nos, na página seguinte, os porquês dessa selecção e as histórias que cada uma dessas imagens encerra.