Cérebro. Neurologistas japoneses descobrem onde se esconde a felicidade

Cérebro. Neurologistas japoneses descobrem onde se esconde a felicidade


Há uma luz que se acende sempre que nos sentimos felizes. Esse lugar no cérebro era até agora um mistério, que os cientistas da Universidade de Quioto desvendaram.


Há uma parte pequenina do cérebro que agora se transformou numa das principais ferramentas para entender um dos grandes enigmas da filosofia, da psicologia e até da literatura. Onde nasce a felicidade? Se há sentimento efémero e subjectivo, é esse estado de alma que ninguém se atreve a explicar por A+B. Ninguém a não ser os cientistas que julgam não haver fronteiras capazes de limitar o conhecimento. A explicação deste mistério foi por isso reclamada pelos neurologistas japoneses da Universidade de Quioto.

É numa região do lobo parietal que tudo acontece – pré-cúneos. É esta área do córtex que é activada sempre que nos sentimos felizes. A investigação agora publicada na “Scientific Reports”, do grupo da revista “Nature”, mostra ainda que a felicidade não é igual para todos. Uns ficam mais felizes que outros quando recebem elogios, por exemplo. E quanto maior for a intensidade da felicidade menor será o sofrimento correspondente.

Ciência vs. Aristóteles Esta última conclusão, a ser verdadeira, deita por terra tudo o que poetas, escritores e pensadores andaram a pregar nos últimos séculos. “O amor só vive pelo sentimento e cessa com a felicidade”, só para citar Camilo Castelo Branco, que como muitos outros andou – pelo menos à luz da ciência – redondamente enganado.
“Ao longo da história, muitos e grandes pensadores, como Aristóteles, tentaram explicar o que é a felicidade. Hoje estou muito feliz por sabermos um pouco mais sobre o que significa ser feliz”, confidenciou ao jornal britânico “Independent” o coordenador da investigação, Wataru Sato, acrescentado que esta descoberta pode vir a ser muito útil para construir programas de auto-ajuda com base em critérios científicos.

A fórmula Qualquer que seja portanto a semelhança entre ciência e literatura, é pura ficção. Wataru Sato, o homem que encontrou a explicação da felicidade numa máquina de ressonância magnética, tem uma definição bem mais simples que a poesia para esse sentimento. Resume-se na combinação entre emoções positivas e bem-estar geral. O estudo dos neurologistas japoneses conclui que a felicidade no seu conceito mais lato é provocada por emoções positivas combinadas com um sentimento geral de satisfação com a vida.

A felicidade varia de pessoa para pessoa, mas há algo comum a todos, independentemente do sexo, da idade ou da crença. Quem atinge picos mais altos de felicidade é também quem apresenta um volume maior de massa cinzenta naquela pequenina zona do córtex cerebral. Foi isso que demonstraram os resultados dos testes de inteligência a que foram sujeitos os voluntários deste estudo.

Medir Ao todo, os cientistas da Universidade de Quioto dissecaram o cérebro de 51 cobaias humanas. Dissecar, neste caso, significa sujeitar 26 mulheres e 25 homens a exames psicólogos e neuronais. Os primeiros tiveram como referência a Escala de Felicidade Subjectiva – inventada por Lyubomirsky e Lepper em 1999 e que até hoje é usada pelos psicólogos. O instrumento serviu para medir o grau de felicidade geral de cada um dos objectos das experiências e quão intensamente foram capazes de sentir as emoções – tanto as negativas como as positivas. A esses objectivos acrescentou-se o nível de satisfação com as próprias vidas. 

Os segundos testes envolveram o uso de um aparelho de ressonância magnética, que captou as imagens do cérebro de cada um dos participantes. E os mais felizes, concluem os autores do estudo, tinham sempre mais massa cinzenta naquela área do cérebro.

E porque a vida sem mistério perde pelo menos metade da piada, é melhor que certas perguntas permaneçam sem resposta. Por mais que tenham procurado nas ressonâncias magnéticas, os cientistas que desenvolveram este projecto ainda não conseguiram perceber qual o mecanismo neuronal que desencadeia a felicidade. Desvendar esse último segredo, defende Sato, será um grande trunfo para conseguir quantificar os níveis de felicidade.