Heinrich Himmler. A vida privada do  Reichsführer das SS

Heinrich Himmler. A vida privada do Reichsführer das SS


O documentário sobre o arquitecto do  Holocausto a partir de documentos inéditos encontrados em sua casa passa hoje na RTP2.


A 6 de Maio de 1945, os soldados do exército americano entraram na casa da família de Heinrich Himmler em Gmund, na Alemanha, e apreenderam centenas de cartas privadas, documentos, diários e fotografias. Parte desse material não foi entregue ao militares e acabou por passar por várias mãos antes de ser comprado pelos pais de Vanessa Lapa. A jornalista belga, que vive em Israel desde 1995, já tinha produzido o documentário “Olmert – Concealed Documentary” – com base no que ouviu nos bastidores do governo do primeiro-ministro israelita Ehud Olmert.

Vanessa explica que o trabalho sobre o líder das SS (“Schutzstaffel” – tropa de protecção) e arquitecto da “solução final” “é uma perspectiva inédita que reúne escritos e fotografias pessoais da vida privada de um dos nazis mais poderosos e da sua família”. Para a documentarista, o público tem “acesso privilegiado à mente de Himmler, cujas experiências, ideias e emoções o transformaram no impiedoso “arquitecto do Holocausto”. O documentário, “O Homem Decente”, em formato de filme, foi estreado no Festival Internacional de Cinema de Berlim em 2014. 

O título, algo ambíguo, diz respeito às palavras de Himmler à sua filha Gudrum em 1941, quando lhe disse que “na vida, temos de ser sempre decentes, corajosos e bondosos”. O mesmo terá dito aos seus soldados das SS, que teriam de “se manter decentes” quando estivessem na presença de corpos amontoados, “sejam 500 ou mil”. 

Ofilme/documentário é contado a partir do ponto de vista de Heinrich Himmler e da sua família. Primeiro, os seus pais e irmãos, mais tarde a sua mulher e filha, e depois a sua amante, desde a I Guerra Mundial e a República de Weimar, a partir da perspectiva de uma família da classe média alemã que se transformou numa das mais privilegiadas junto dos altos quadros nazis. 
Vanessa Lapa escreve que “as percepções subjectivas de Himmler do mundo exterior e o seu envolvimento pessoal com os acontecimentos políticos e sociais são o que impulsiona e dá forma à experiência cinematográfica do espectador, revelando como a crueldade e o mal podem nascer da aparente normalidade”. Os espectadores podem testemunhar esse crescimento, de como um personagem “sem autoconfiança pode tornar-se um herói aos seus próprios olhos e um dos maiores assassinos em massa da história”, explica a autora do documentário.

O trabalho apresentado em Berlim engloba 151 registos de 53 arquivos em 13 países e cerca de mil fotografias, das quais a maioria são inéditas. Do acervo comprado propositadamente para o documentário há, entre outros registos, 273 cartas de Heinrich Himmler para a mulher entre 1927 e 1945. A última carta foi escrita duas semanas antes de Himmler se ter suicidado. Registos de jornais infantis, cadernos com despesas familiares, desenhos, fotografias, colagens, livros de receitas e relatórios escolares são alguns dos documentos utilizados por Vanessa Lapa.

A jornalista conclui que este “é um guião dramático que mistura documentário e ficção para criar uma nova forma de pós-documentário. Isso permite que o espectador possa ‘pensar com’ e ‘sentir com’, em vez de simplesmente o consumir”.

O Homem Decente (RTP2 – 23h30)