Apenas numa noite, de quarta para quinta-feira, foram multados 137 condutores nas estradas portuguesas por estarem a falar ao telemóvel, durante uma operação de fiscalização da Guarda Nacional Republicana – a operação Anjo da Guarda, que decorreu em todo o país. Trata-se de uma infracção que tem vindo a aumentar nas estradas portuguesas de forma significativa este ano.
Segundo dados da GNR, de Janeiro até anteontem, o número de multados por uso de telemóvel ao volante é já quase de 26 mil (25 859), quando o ano passado, em igual período, esse número não chegava aos 20 mil, tendo terminado o ano em 22 419 multas por esta razão. Se juntarmos os dados da GNR com os da PSP, nos primeiros nove meses de 2015, 37 175 condutores foram multados por utilizar telemóvel ao volante. Fazendo as contas, são em média 136 infracções por dia.
A GNR afirma que o mau uso do telemóvel (sem auricular), embora não envolva o mesmo grau de risco que a condução sob efeito do álcool, da má ou não utilização de cinto de segurança ou ainda em excesso de velocidade, “é uma infracção infelizmente comum” e que faz o condutor deixar a condução para segundo plano. Trata-se de uma contra–ordenação grave (artigo 84 do Código da Estrada) punida com multa entre 120 e 600 euros e perda da carta de seis meses a um ano.
Os riscos associados a esta infracção rodoviária prendem-se com pequenas fracções de tempo em que o condutor se concentra noutra actividade. Pode parecer um chavão, mas os acidentes acontecem mesmo em segundos, lembra o major Ricardo Silva. “Se se desviar a atenção da estrada durante 3 segundos a uma velocidade de 90km/h, percorre-se uma distância equivalente a um estádio de futebol”. Ora, se o fizermos, “é a mesma coisa que percorrer essa distância toda de olhos vendados”, ilustra o oficial, frisando que conduzir, “por banal que possa parecer”, é um exercício de muita concentração. “Se fosse uma actividade descansada e relaxante, ninguém ficava cansado depois de algum tempo na estrada”, sustenta ainda.
escritório na estrada O oficial repara também que cada vez mais os portugueses fazem do carro escritório, aproveitando o momento em que conduzem para fazer chamadas e adiantar questões de trabalho. Além disso, verifica, “o telemóvel já deixou de ser usado só para fazer chamadas, serve também para enviar mensagens, emails ou partilhar conteúdos nas redes sociais”. Utilizações que requerem contacto visual e táctil e obrigam a um desvio da atenção e da capacidade de reacção, “pondo em perigo não só a própria vida como a de terceiros”.
E os portugueses parecem ser os menos preocupados da Europa em relação aos riscos envolvidos nesta prática. De acordo com dados do relatório “Global Status Report on Road Safety” de 2015, que cobriu 180 países, mais de metade dos portugueses (59%) assumiram falar ao telemóvel enquanto conduzem. Os ingleses, por outro lado, são os que menos se distraem ao volante (12%). Embora não seja fácil provar que os acidentes são causados por distracções deste género, o mesmo relatório sugere que quando um condutor pega no telemóvel corre um risco quatro vezes maior de se envolver num acidente de viação em comparação com quem não o faz.
Para o major Ricardo Silva, tudo o que envolve comportamentos de risco ao volante é difícil de compreender e está relacionado com a mentalidade de quem os pratica. Por essa razão, e como esta questão se está a tornar um “flagelo” das estradas portuguesas, a GNR adianta que tem prevista uma “acção inédita” direccionada só para esta contra-ordenação, chamada Operação Smartphone Smartdrive”. A campanha decorrerá a partir de dia 30 a 4 de Dezembro e divide-se em duas partes: sensibilização e fiscalização.