“Não lhe vou responder directamente. É fácil depois de ganhar (…) Era fácil pôr o Rui Vitória deste tamanhinho, mas não o vou fazer por respeito.” Jorge Jesus respondeu assim às declarações que o treinador do Benfica tinha feito na antevisão do último dérbi, que o Sporting venceu por 3-0 (maior triunfo dos leões em jogos da Liga disputados no estádio da Luz). Os dois dérbis da época têm começado antes do apito inicial. Em Agosto, JJ entrou ao ataque antes da Supertaça (“as ideias que estão lá [Benfica] são todas minhas, não mudou nada, zero”). No mês passado, Vitória quis ser mais atrevido e também picou o rival; disse que o Benfica, “uma equipa”, ia defrontar “11 jogadores”. O tiro saiu-lhe pela culatra. Foi precisamente o inverso que aconteceu em campo. O 3-0 não deixa margem para outras interpretações.
Amanhã, o terceiro round joga-se em Alvalade e, tal como na Supertaça, não há margem de erro. Se o Benfica conseguir finalmente derrotar o fantasma de JJ que paira sobre os bicampeões nacionais, Rui Vitória sairá de Alvalade com o orgulho em tamanho XL. Se as águias perderem pela terceira vez consecutiva no dérbi lisboeta, Jesus consegue aumentar a mossa no agora rival e Vitória deixará o recinto do rival em formato XS ou, como disse JJ, “deste tamanhinho”: a juntar à eliminação na Taça de Portugal, o técnico benfiquista teria de explicar a sexta derrota em apenas 16 jogos em 2015/16.
A rivalidade entre Sporting e Benfica ficou mais acesa com a mudança de JJ para Alvalade e o primeiro jogo oficial da temporada opôs logo as duas equipas. Para apimentar ainda mais o cenário, as águias moveram um processo judicial ao treinador, exigindo 14 milhões de euros por incumprimento de contrato e apropriação de software confidencial. Fora de campo, o ruído tem sido imenso. No relvado, os leões têm-se imposto. Além da Supertaça conquistada, a vitória na Luz permite ao Sporting liderar isolado a Liga, com as águias já a oito pontos (menos um jogo).
Depois do traumatizante 3-0 sofrido na Luz, oBenfica soube dar a volta por cima. Os bicampeões nacionais venceram os três encontros seguintes, marcaram oito golos e sofreram apenas um. Mas o peso da história não ajuda as águias. Em 14 jogos no terreno do rival, para a Taça de Portugal, o Benfica apenas venceu dois. Oúltimo triunfo aconteceu em 1963, há 52 anos. Mas Rui Vitória tem uma excelente memória nesta prova: ergueu o troféu no Jamor, pelo V. Guimarães, precisamente após derrotar o Benfica de Jorge Jesus em 2013.
É preciso marcar Os jogos das selecções condicionaram a preparação do dérbi. Jesus e Vitória terão pouco tempo com o todo o plantel para afinarem a estratégia. Ocansaço de alguns atletas também pode ter o seu peso num jogo que se espera intenso – e que pode ter mais de 90 minutos. A maior preocupação do treinador encarnado será conseguir finalmente bater a defesa rival;em 180 minutos disputados, Rui Patrício não sofreu qualquer golo. Se quiser seguir em frente na Taça de Portugal, o Benfica tem de marcar em Alvalade. Do lado leonino, JJ conhece o adversário como ninguém e as duas vitórias fazem prever que não altere a estratégia.
Hoje começa o dérbi falado, com as antevisões dos técnicos. Na Supertaça, JJ foi o primeiro a surgir na sala de imprensa, no dérbi da Luz foi Rui Vitória a abrir as hostilidades. Desta vez, o Benfica parece querer deixar Jesus falar antes; as águias treinam esta manhã no Seixal (10h00) e, às 19h00, Rui Vitória estará perante os jornalistas na Luz para antever o terceiro dérbi da época. Estranhamente, na agenda dos leões para hoje, a conferência de imprensa de Jesus em Alvalade aparece com “hora a confirmar”. Estratégia? Mais logo se verá.