A praga de vespa asiática, que este Verão causou a morte a um homem em Vila Verde, está longe de estar erradicada e o plano de controlo não está a resultar. “Está a ser feito o possível, mas não o desejável”, afirma João Valente, da Associação de Apicultores do Norte, sublinhando que, “enquanto apicultor”, desejaria que o combate envolvesse mais e melhor “todos os organismos estatais responsáveis pelo plano de acção [a Direcção-Geral de Veterinária e Alimentação, o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, as Direcções Regionais de Agricultura e Pescas, entre outros]”.
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Acrescenta ainda que “uma luta eficaz implicaria custos elevados que, neste momento, não temos”. E, por isso, o que está a ser feito em relação a esta praga não permite pensar-se que se vai erradicar a vespa asiática do território nacional. “Está-se a fazer um combate apenas para menorizar o problema”, sublinha.
A falta de meios económicos quer na eliminação dos ninhos (que é feita à noite), quer na investigação científica que se debruce sobre novas formas de combate é outra das barreiras que os apicultores enfrentam. “Ainda sabemos muito pouco sobre esta vespa”, lamenta João Valente, que não está preocupado só com as abelhas e a produção de mel. Essa é apenas a parte visível do problema e aquela que tem consequências a curto prazo, refere.
Se a praga continuar a evoluir desta maneira, o principal problema vai ser outro. No futuro “vai acontecer aquilo que ainda não se viu em lado nenhum”. “O grande problema é que estas vespas invasoras comem tudo o que lhes aparece à frente, tudo o que é polinizador.” Ou seja, além de atacarem as abelhas à porta das colmeias, comem todo o tipo de insectos, até os de grande porte – como o louva-a-deus –, que são essenciais ao equilíbrio ecológico e à prática da agricultura. “O que vai afectar a frutificação – tudo aquilo que nós comemos”, avisa.
E isso não será um problema exclusivo de Portugal, mas sim de toda a Europa. “França, por exemplo, que é um país com mais meios, ainda não conseguiu encontrar uma solução para esta praga”, lembra o dirigente associativo.
João Valente alerta, por isso, para que as pessoas comuniquem a existência dos ninhos às entidades competentes. “Essa comunicação pode e deve ser feita à protecção civil, aos bombeiros, às autarquias ou até a juntas de freguesia.” Ou ainda através do site SOS-Vespa, uma plataforma “fundamental” do plano de acção, que envolve todas as entidades oficiais. Se não estiverem escondidos, esclarece ainda o apicultor, os vespeiros são fáceis de detectar: “Têm um formato de pêra, atingem um metro e meio de altura e um diâmetro também de um metro, pelo menos.”
Esta vespa, de origem asiática, apareceu em França em 2004, mas a sua presença só foi detectada em Espanha em 2010 e em Portugal e na Bélgica em 2011. Entretanto, também invadiu, no ano seguinte, Itália. Em Portugal é o norte do país a zona afectada por este insecto, que divide estatuto entre invasor e causador de perigo público.
No nosso país, o balanço feito desde 2012 – altura em que entrou em acção o plano de vigilância e controlo da vespa asiática – dá conta de um aumento significativo da espécie de ano para ano. O dirigente da Associação de Apicultores do Norte diz que tem assistido no terreno a essa propagação. “Ainda hoje encontrei um ninho com um metro de diâmetro”, relata, afirmando que, embora muitos ninhos estejam a ser destruídos, isso não está a ser suficiente para erradicar a praga, que continua assim a avançar. Esta semana soube-se que chegou a Vila Real.
De toda a zona norte, Viana do Castelo é o concelho mais afectado. Apesar de não existirem dados actualizados e globais, sabe-se que os bombeiros municipais de Viana já sinalizaram, pelo menos, 1215 ninhos de vespa asiática desde que a espécie foi detectada no concelho, em 2012, tendo sido destruídos cerca de 300 vespeiros só nos primeiros dez meses de 2015. Braga, Matosinhos, Valongo e Vila Verde são outras zonas onde as vespas asiáticas têm aumentado a sua população.
“Deslocam-se a 30 quilómetros por ano e o número de ninhos e, consequentemente, o número de vespas vai-se propagando substancialmente em cada zona”, explica João Valente, acrescentando que se o Inverno não for muito rigoroso e se as temperaturas forem amenas, é de esperar que a multiplicação de ninhos no ano seguinte seja ainda maior. A batalha contra a vespa asiática tem uma dificuldade acrescida por ser impossível detectar todos os ninhos, “ou porque estão escondidos em árvores de folha persistente ou nos telhados de prédios altos”, explica.