Polícia português denuncia falta de meios para combater ameaça terrorista

Polícia português denuncia falta de meios para combater ameaça terrorista


Um polícia português da região de Paris, José Manuel Fonseca, disse hoje à Lusa que há falta de efectivos e de meios na polícia francesa para combater a ameaça terrorista.


Este polícia, membro do sindicato Alliance Police Nationale, considera que as "medidas imediatas" tomadas na sequência dos ataques da sexta-feira em Paris – como o reforço do número de polícias e guardas na capital – "não chegam, mas não há pessoal suficiente nem meios materiais", lembrando que desde 2008 há cerca de 4.000 polícias a menos só na região de Paris.

"Eu e os meus colegas pensamos que as medidas tomadas não chegam. Mas não há pessoal suficiente. Os meios materiais e os meios para investigar não são suficientes. Todos nós dizemos há muitos meses, todos os sindicatos de polícia dizem que no dia-a-dia não há meios. A polícia, de há muitos anos para cá, foi reduzida, é uma vontade do Governo para reduzir o défice da função pública", declarou.

Reagindo ao anúncio, na segunda-feira, da criação de 5.000 postos de trabalho suplementares para a polícia e guarda durante os próximos dois anos, o português natural do Barreiro disse que "anunciaram um recrutamento massivo, mas são anúncios por enquanto políticos", lembrando que depois dos ataques ao Charlie Hebdo e ao supermercado judaico, em Janeiro, foram recrutados 500 polícias que só devem ir para o terreno no início do próximo ano.

"Entre a formação que vão ter e o momento em que estarão disponíveis para nós, para a via pública, vai haver praticamente um ano sem esse pessoal. Quanto aos meios, a polícia, no dia-a-dia, não tem meios suficientes para controlar, para reforçar ou para investigar esses casos", disse, apontando vários limites como a necessidade de autorizações para fazer controlos.

"Já há uns anos que estamos a pedir ao Governo para que modifique isso para que a polícia possa melhorar e possa investigar mais facilmente, tomar medidas mais rápidas. Por exemplo, controlamos um carro que seja suspeito e temos de pedir autorização a umas autoridades, as quais vão pedir autorizações a autoridades ainda mais superiores. É tempo perdido e meios perdidos", descreveu.

José Manuel Fonseca disse acreditar que se está apenas a viver "o início dos atentados em França" e concordar com as palavras do Presidente francês, François Hollande, que no discurso de segunda-feira voltou a dizer que "a França está em guerra".

"Nós pensamos que isto não é a última vez que vai acontecer, pelo menos aqui em França. Eu acho que sim, que estamos em guerra. Estamos numa situação de desconfiança total e as pessoas têm de fazer muita atenção com as festas de natal a aproximar-se. Não são só seis ou sete pessoas que fazem isso, agora estarão mais outros grupos talvez prontos ou quase prontos para atacarem outra vez", alertou.

O polícia destacado na zona de Créteil, nos arredores de Paris – onde patrulhava na noite dos atentados – sublinhou, também, que "risco zero não existe" e que "a polícia não pode estar em todo o lado e a toda a hora", dando o exemplo do metropolitano onde a polícia só pode intervir com autorizações, e por um tempo limitado, para fazer alguns controlos "em certas estações".

Ainda assim, considerou que o eventual prolongamento do estado de emergência "de 12 dias para três meses é bom", mas questionou o que vai acontecer "ao fim dos três meses".

Aos 54 anos – e com 45 passados em França – José Manuel Fonseca notou uma nova vaga de reconhecimento e solidariedade da população para com a polícia, à imagem do mês de Janeiro: "A população compreende o nosso trabalho e está outra vez do nosso lado".

Lusa