Orçamento. Aprenda a esticar e chegar ao fim do mês com dinheiro

Orçamento. Aprenda a esticar e chegar ao fim do mês com dinheiro


Elaborar um orçamento familiar mensal é uma das regras para manter as contas em dia. Sempre que possível, adopte hábitos de poupança para fazer frente a gastos inesperados.


Mais de metade dos portugueses chega ao fim do mês sem dinheiro e fazer um pé de meia parece-lhes missão impossível. Pedir emprestado quando o dinheiro é pouco e deixar algumas contas por pagar faz parte da realidade de muitas famílias portuguesas. E os números traduzem isso. De acordo com os últimos dados do inquérito da Associação de Defesa dos Consumidores (DECO), feito a 1222 portugueses, metade dos inquiridos tem dificuldade em esticar o dinheiro até ao fim do mês. Para 12%, invariavelmente, o rendimento acaba antes do mês.

O que é certo é que não há milagres para multiplicar a verba disponível, mas há pequenos truques que podem ser seguidos para equilibrar as contas. Uma das regras de ouro passa por elaborar um orçamento familiar, de que devem constar todas as receitas e despesas do agregado, sejam as actuais sejam as previsíveis. “Este exercício ajuda a controlar os gastos e pode contribuir para construir uma poupança a pensar no futuro”, assegura a entidade.

No entanto, segundo os dados da DECO, o problema de o dinheiro não chegar até ao fim do mês não passa por falta de planeamento, já que quase três quartos dos agregados inquiridos têm esse hábito – regra geral numa base mensal –, “o que demonstra que estão conscientes do que têm de fazer para evitar problemas”. Mas 22% admitem que raramente conseguem cumprir esta missão e outros 31% só são bem sucedidos de vez em quando. Ou seja, só menos de metade das famílias que planeiam o seu orçamento “vêem as contas bater certo”.

Já para controlar todas as entradas e saídas de dinheiro, uma tarefa levada a cabo por 87% dos inquiridos, o método preferido é conferir o saldo ou o extracto bancário, o que acontece na maior parte das vezes semanalmente. Um terço faz um registo em papel, enquanto 11% utilizam o computador (folha de cálculo, por exemplo).

De acordo com os mesmos dados, as famílias com mais dificuldades em fazer frente às despesas diárias são as que têm filhos menores, mesmo que ambos os cônjuges trabalhem. Metade destes agregados sobrevive com menos de mil euros por mês, “não sendo difícil presumir que muitos dos elementos trabalhadores ganhem apenas o salário mínimo nacional (505 euros), ou até menos”, salienta a DECO.

Além disso, cerca de dois terços vivem com o peso de um crédito à habitação, havendo ainda quem tenha, ou acumule, empréstimos para outros fins (compra de carro ou de mobília, por exemplo). Os cartões de crédito (37%) e os cartões de loja (26%) são também produtos financeiros que deixam os inquiridos amarrados ao pagamento de juros.
“Não admira que três quartos classifiquem a sua situação como difícil ou mesmo muito difícil. O estado das finanças domésticas deteriorou-se nos últimos anos para muitas destas famílias. Se, em 2011, 23% dos inquiridos achavam que o seu rendimento dificilmente cobria as necessidades, em 2014 já eram 76% nessa condição”, alerta a DECO.

Além disso, dois terços viram o orçamento familiar emagrecer inesperadamente, o que se mantinha quando responderam ao inquérito.  

Causas Questões laborais, como a redução do salário ou o desemprego, são das razões mais frequentes para não conseguir cobrir todas as despesas no final do mês. No topo está o aumento das despesas do agregado, muitas vezes relacionado com os filhos: nascimento, entrada na universidade ou regresso a casa após perda de emprego, por exemplo.

A maioria dos agregados nesta situação optou por cortar nas despesas correntes, o que, quando possível, é uma decisão acertada. Três em cada dez inquiridos tiveram de começar a trabalhar mais horas ou arranjaram um segundo  emprego para fazer frente ao imprevisto.

O que é certo é que, quando acaba o dinheiro e há despesas para pagar, alguns inquiridos tendem a utilizar os cartões de crédito ou os cartões de fidelização de lojas. No entanto, se o fizer, procure sempre saldar o extracto do cartão na totalidade, para não ter de pagar os elevados juros associados. Feitas as contas, na prática adia o pagamento da despesa cerca de um mês. Segundo os dados da entidade, mais de metade dos inquiridos admitiu já ter liquidado contas depois da data-limite, embora nem sempre numa base regular.

As facturas que mais vezes ficaram por saldar foram as de comunicações (telefone fixo e móvel, televisão e internet). “A maioria teve de reorganizar o orçamento familiar para não atrasar mais pagamentos. Num terço dos casos, são os empréstimos de familiares ou de amigos que resolvem a situação.”

No entanto, certos encargos periódicos, como férias, seguros, revisão do carro ou impostos, são acautelados por 71% dos inquiridos. E neste caso fazer um pé-de-meia para aquela despesa específica ou esperar pelos subsídios de férias ou de Natal são as soluções utilizadas com maior frequência. Outras formas encontradas pelos portugueses consistem em recorrer às poupanças e fasear o pagamento das contas.

Solução A par da elaboração do orçamento familiar – o que deve ser feito de preferência todos os meses (e não se esqueça que o primeiro é o que dá mais trabalho, por ter de prever todas as situações, mas depois é só copiar e ir ajustando às situações concretas) – deve anotar as datas de pagamento das despesas mais importantes (prestação ou renda da casa, água, electricidade), para evitar atrasar-se e eventualmente ser penalizado.

Além disso, faça o possível por adoptar hábitos de poupança, mesmo que não lhe sobre muito dinheiro no fim do mês. É importante que crie uma reserva para enfrentar imprevistos e acautelar o futuro. E no caso de as dívidas se começarem a acumular, não espere para ver. Fale com os credores, sejam bancos sejam entidades prestadoras de serviços (electricidade, água, gás, comunicações, etc.), para tentar chegar a acordo sobre o pagamento.