Partiu inesperadamente, numa altura em que se esboçava uma muito provável mudança para Lisboa, para dedicar a paixão imensa pelo que fazia a um novo Ministério da Cultura. Nunca soube desistir perante um “não”, nem deixou de sonhar, mesmo quando todos lhe queriam fazer ver que os projectos eram impossíveis. Chegou à Cultura do Porto numa altura decisiva para a cidade. Não se conformou, ousou, mudou, mobilizou equipas e munícipes, e deu luz a um burgo que parecia condenado a ter a fria cor do granito, sem nunca dissipar o nevoeiro que considerava a cultura coisa menor.
Paulo Cunha e Silva é responsável por uma parte significativa do sucesso da gestão de Rui Moreira, e o Rui sabe e sempre soube. Foi ele que carregou o caixão com o corpo do Paulo, deixando o espírito daquele pensador genial no centro do palco do Rivoli, uma das missões impossíveis que venceu com distinção. Rui Moreira assume a pasta da Cultura e acredito que tudo fará para manter este desassossego contagiante. A equipa que o Paulo construiu é imparável e assumiu a velocidade a que ele viveu, com uma imensa capacidade de concretizar. O exemplo que fica é claro. De hoje em diante ninguém poderá afirmar que não se pode construir a mudança de uma cidade, de uma região, de um país, na riqueza de um investimento sério na cultura. O Porto está radicalmente diferente e o país pode muito bem pôr aqui os olhos, numa altura de mudança profunda. O exemplo do Paulo é apenas mais um, de gente que não se conforma, não sabe parar com um “não”, não desiste de ter ideias e de pensar. A cultura é isso. Inconformismo, abertura aos outros, respeito pela liberdade de sonhar com o direito a ser feliz. O segredo está na liderança e na genial capacidade de agregar os mais criativos, sem os limitar ou castrar em cada uma das ideias em que se superam. Gosto da robustez do granito, mas confesso que o cinzento me irrita. Obrigado, Paulo.
Jornalista RTP
Coordenador Jornal 2 – RTP2
Escreve à sexta-feira