Acordo ficcional


O muro caiu. Com ele cairá também a PAF e teremos um novo governo no país. Neste futuro elenco constarão muitos socialistas, um ou outro independente, e nenhum bloquista ou comunista. 


Pouco importa pois que o acordo das esquerdas, alcançado ontem, vá muito para além de um primeiro ou qualquer orçamento, debruçando-se sobre medidas estruturais – e não apenas pontuais ou simpáticas. Os dois partidos com os dois pés dentro do governo. Histórico.

Durante quatro anos a contestação na rua caberá apenas e só à direita. O partido comunista português, que nos últimos anos tem revelado uma orientação programática diferente daquela a que nos habituou, na senda de Mário Soares com o socialismo de outrora, colocará o comunismo na gaveta. Não se sabe muito bem o que será o PCP depois disso mas também pouco importa.

O Bloco revela-se hoje um partido de governação e nessa nova faceta, largará outra, secundarizando qualquer medida mais difícil dos Socialistas. Os tempos assim o pedirão como já percebemos ontem pela intervenção de Catarina Martins.

Que ninguém pense o contrário deste retrato, pois jamais se imaginaria que uns pífios 32% do PS levassem o líder socialista a esquecer o único factor que poderia tornar tudo isto possível: uma maioria parlamentar que apoiasse grande parte das suas políticas, tornando assim – o país governável durante os próximos anos. Ponha-se de lado a navegação à vista. O poder a todo o custo. Isto é com vista alargada, longínqua – e por um país melhor. Alguns dirão que o PS já pôs de lado uma parte significativa do programa económico com que se apresentou a eleições no dia 4 de Outubro. Tudo pelo entendimento. Outros ressalvarão a inevitabilidade de um guião europeu que deitará por terra algumas das medidas simpáticas que hoje servem de alicerce a este acordo pontual da esquerda. E é justamente aí que regressamos à realidade. Nela procuramos perceber o que irá Costa fazer do PS e consequentemente do país, quando pressionado pelos mesmos que possibilitaram este exercício e assim o seu lugar de Primeiro-Ministro, quiserem ir até às últimas consequências por essas mesmas medidas. É que também ainda não se percebeu como é que se gerará um acréscimo financeiro gigante a curto e médio prazo para torná-las exequíveis.

Infelizmente isto não são pormenores. A História também nos ensina que qualquer exercício político destinado, sobretudo, a derrubar não augura nada de bom e dura pouco. Essa será a realidade deste acordo ficcional. Para lá de qualquer exercício de wishfull thinking. 

Acordo ficcional


O muro caiu. Com ele cairá também a PAF e teremos um novo governo no país. Neste futuro elenco constarão muitos socialistas, um ou outro independente, e nenhum bloquista ou comunista. 


Pouco importa pois que o acordo das esquerdas, alcançado ontem, vá muito para além de um primeiro ou qualquer orçamento, debruçando-se sobre medidas estruturais – e não apenas pontuais ou simpáticas. Os dois partidos com os dois pés dentro do governo. Histórico.

Durante quatro anos a contestação na rua caberá apenas e só à direita. O partido comunista português, que nos últimos anos tem revelado uma orientação programática diferente daquela a que nos habituou, na senda de Mário Soares com o socialismo de outrora, colocará o comunismo na gaveta. Não se sabe muito bem o que será o PCP depois disso mas também pouco importa.

O Bloco revela-se hoje um partido de governação e nessa nova faceta, largará outra, secundarizando qualquer medida mais difícil dos Socialistas. Os tempos assim o pedirão como já percebemos ontem pela intervenção de Catarina Martins.

Que ninguém pense o contrário deste retrato, pois jamais se imaginaria que uns pífios 32% do PS levassem o líder socialista a esquecer o único factor que poderia tornar tudo isto possível: uma maioria parlamentar que apoiasse grande parte das suas políticas, tornando assim – o país governável durante os próximos anos. Ponha-se de lado a navegação à vista. O poder a todo o custo. Isto é com vista alargada, longínqua – e por um país melhor. Alguns dirão que o PS já pôs de lado uma parte significativa do programa económico com que se apresentou a eleições no dia 4 de Outubro. Tudo pelo entendimento. Outros ressalvarão a inevitabilidade de um guião europeu que deitará por terra algumas das medidas simpáticas que hoje servem de alicerce a este acordo pontual da esquerda. E é justamente aí que regressamos à realidade. Nela procuramos perceber o que irá Costa fazer do PS e consequentemente do país, quando pressionado pelos mesmos que possibilitaram este exercício e assim o seu lugar de Primeiro-Ministro, quiserem ir até às últimas consequências por essas mesmas medidas. É que também ainda não se percebeu como é que se gerará um acréscimo financeiro gigante a curto e médio prazo para torná-las exequíveis.

Infelizmente isto não são pormenores. A História também nos ensina que qualquer exercício político destinado, sobretudo, a derrubar não augura nada de bom e dura pouco. Essa será a realidade deste acordo ficcional. Para lá de qualquer exercício de wishfull thinking.