"Hoje é o dia de assumir uma linha distinta da que é seguida no PS". É assim que o eurodeputado Francisco Assis define a reunião marcada para esta sexta-feira por volta das 21h00 no restaurante Três Pinheiros na Mealhada. Num "debate" que correspondeu à vontade de "muitos militantes" de todo o país, Assis "não conseguiu dizer que não", e acabou por encontrar cerca de 130 socialistas à sua espera. Apesar de acreditar que, depois das eleições, o PS deveria ser o "principal partido de oposição dialogando à esquerda e à direita", o eurodeputado não quer, porém, "alimentar guerrilhas com quem lidera legitimamente" o seu partido.
Como já era público, Assis quis ser o líder de uma linha alternativa à que é apresentada pelo actual secretário-geral do PS António Costa, ou seja, a do acordo – que deu novo passo hoje, com o "sim" do PCP – entre os três partidos de esquerda no parlamento. Portanto, não a guerras internas, mas sim a opiniões divergentes um dia antes de um fim de semana com reuniões do partido.
Nesta reunião muitos foram os rostos conhecidos, ligados à ala segurista do PS: Eurico Brilhante Dias, José Junqueiro, João Proença, Álvaro Beleza, António Galamba ou João Proença. O organizador desta alternativa, Francisco Assis, por sempre ter feito "tudo às claras" na sua carreira política, e tendo uma "perspectiva crítica" do acordo estabelecido entre António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa, optou por realizar este "debate", mesmo depois das alterações à última da hora: a política só tem sentido assim, ela não é uma gestão mais ou menos sinuosa, não é uma carreira, é lutar por causas mesmo quando não se suscita compreensão", argumentou.
Mesmo com essas divergências assumidas dentro do partido, Assis não pretende "negociar coisíssima nenhuma" com António Costa e irá "com todo o gosto" às reuniões dos orgãos nacionais do PS programadas para o próximo sábado e domingo. "Tenho enorme consideração por António Costa, mas tal como ele, também eu estou convicto de que este é o caminho adequado, é uma divergência política, e é claro que irei com todo o gosto à Comissão Política", rematou.
E esta posição frontal mas não corrosiva, segundo Assis, deve ser seguida por todos os militantes que discordam da posição actual do PS: "A decisão será respeitada, e os outros que não concordem com ela, não deverão destabilizar esta solução", finalizou. Quanto à entrevista dada à SIC pelo secretário-geral socialista, Assis optou por não fazer qualquer comentário, por ainda não a ter visto.
Apesar de casa cheia, o início de reunião não correu de feição para as pessoas que se deslocaram ao restaurante. O "Leitão à Bairrada" esgotou-se e houve mesmo quem se tivesse ido embora antes do "debate" dar início. O debate prosseguiu à porta fechada.