Nem Netflix, nem HBO, muito menos Amazon ou qualquer dos grandes canais de televisão nos EUA. “Mr Robot” pertence ao USA Network, mas o primeiro episódio passou umas semanas antes da da estreia oficial (através de serviços on demand americanos). E assim que uns quantos privilegiados passaram os olhos por isto ficou garantida uma segunda temporada. Isto sim, senhoras e senhores, é um fenómeno.Claro que nem tudo o que resulta num mercado resulta noutro.Nem tudo menos “Mr Robot”, a série que mistura banda larga com revolução social e problemas mentais. Está a partir de hoje em Portugal, no TV Séries (23h). É ver para perceber de onde vem tanto entusiasmo.
Vamos aqui adiantando trabalho. “Mr Robot” conta a história de Elliot Alderson (Rami Malek), um tipo nada normal, com umas quantas patologias sociais e um génio raro para as coisas da segurança informática. Trabalha oficialmente numa empresa que gere tudo o que é sistemas de informação, incluindo os da E Corp, uma espécie de Big Brother que tem quase o monopólio corporativo do mundo inteiro. Oficiosamente, Elliott é um hacker, mas daqueles como nunca nenhum de nós conheceu (o mais provável é que isso nunca venha a acontecer), que consegue saber tudo sobre todos, manipular qualquer dado e descobrir qualquer segredo.
Por motivos que não vamos aqui revelar, esta capacidade de Elliot acaba ao serviço de um grupo de piratas informáticos que querem fazer o bem, ou seja, expor os maldosos que gerem o mundo, sobretudo os que tomam conta da tal E Corp. E é neste grupo de activistas secretos que encontramos Christian Slater, esse mesmo, que há uns tempos andava meio ausente das coisas populares do cinema e da TV.Slater é o líder do tal colectivo de hackers (tomam por nome um bonito e pouco educado Fsociety), que volta e meia aparece mascarado nos televisores e computadores de todo o mundo.
Já se sabe, uma série não se explica num texto, muito menos quando estamos aqui a guardar informação exclusiva, que não podemos revelar para não sermos acusados de estragar o fim desta primeira temporada de dez episódios.Mas este texto serve exactamente para, pelo menos, reforçar essa questão: vamos querer ver a dezena de capítulos, ah pois vamos.
“Mr Robot” é criação da mente brilhante de Sam Esmail, o argumentista/produtor/realizador que ainda não é uma estrela mas tem o destino traçado. Alguma coisa que o homem tenha feito? “Comet”, meio comédia meio drama vindo do mundo indie e que conquistou umas quantas opiniões no festival de cinema de Los Angeles, quando foi revelado ao mundo no ano passado.
Esmail tem dito quase sempre o mesmo nas entrevistas: sempre quis fazer algo sobre hackers, e a essa mania juntou ideias que lhe surgiram após a Primavera Árabe. E se de repente no ciberespaço começasse uma revolução que mudasse o mundo? Ora bem, é mais ou menos isso que passa pelo enredo de “Mr Robot”, ainda que as desventuras de Elliot e os seus próprios problemas tenham tanto destaque (ou mais, dependendo do episódio) como a questão do “vamos lá mudar isto tudo”.
Está tudo certo em “Mr Robot”, do elenco à banda sonora, da realização cyberpunk aos aspectos gráficos que se misturam com as personagens. Após o último episódio só interessa mesmo saber quando começa a segunda temporada.