Já percebemos quais os caminhos que temos pela frente. As duas opções são claras. A primeira passará por um futuro governo de gestão, caso a esquerda não apresente as condições necessárias e suficientes a Cavaco Silva. A segunda, pela gestão de um governo. Dentro desta segunda opção teremos várias alternativas. Analisemos cada uma delas.
Comecemos pela hipótese de um governo da coligação com a entrada do PS, caso falhem todas as negociações à esquerda ou, apesar de apresentar um acordo, este mesmo ser insuficiente por manifesta ausência de matérias fundamentais no tão aguardado documento escrito, tais como a manutenção de Portugal no euro e na NATO, bem como a assunção do cumprimento dos tratados europeus. O PS podia, assim, responsabilizar os partidos à esquerda por as negociações falharem, voltando a posicionar-se no centro-esquerda do espectro político nacional. Deste modo, a sua vida ficaria mais simples, podendo mesmo aceitar fazer parte de um governo onde assumiria pastas de que tradicionalmente a esquerda faz tanto alarido (Segurança Social, Saúde e Cultura).
Como segunda hipótese, teríamos aquela que todas as esquerdas proclamam, a da apresentação de um projecto de governo em que, pelo menos, existiria um acordo de incidência parlamentar. A última destas opções traria uma grande novidade para a política nacional. A maior e a mais singular de todas é a de ver o desespero de um homem (António Costa) desrespeitar toda a cultura e tradição democrática a que o país assistiu ao longo de mais de 40 anos, apenas e só para alcançar o poder.
As esquerdas que o PS tanto combateu ao longo da sua história, as esquerdas que têm por hábito bloquear o país, as esquerdas que derrubam, as esquerdas que se dizem defensoras do povo, as esquerdas que apenas atacam e que nunca promovem consensos resolvem agora fazer parte da mesma trincheira do dr. António Costa.
Costa abriu-lhes a porta, todos eles saltaram com rapidez para dentro da mesma vala, como se estivessem debaixo de fogo intenso, mas sentiram-se desconfortados por as trincheiras socialistas serem demasiado pequenas. O PCP que o diga.
O PCP parece sofrer de claustrofobia política. Quis ouvir o PS e agora sente–se demasiado apertado nas soluções que tanto proclamava para o país. É o que dá, quando a prioridade é a destruição dos outros e não a construção de um todo.
Esta trincheira socialista obriga a que partidos como o Bloco de Esquerda e o PCP travem as suas armas, recorrendo apenas a tiros de pólvora seca e à fisga.
Quem ganha uma guerra assim? A trincheira aguentará até o inimigo perceber que este contingente não tem mais munições. Nessa altura, alguns abandoná-la-ão a trincheira, refugiando-se em abrigos melhores, nos seus abrigos de sempre, e aí sim, a liberdade será maior, as armas serão outras e a luta não será desigual.
Percebemos agora que ou o PS muda de trajectória (fruto de um não acordo claro e duradouro) e responsavelmente dá a mão a um governo já indigitado e em funções, fruto de uma coligação que ganhou umas eleições de forma clara no passado dia 4 de Outubro, ou, se tal não acontecer, teremos de concluir que talvez a melhor solução seja mesmo a de um governo de gestão que garanta a governabilidade do país, sem desvios de compromissos, até que o povo volte a exprimir-se nas urnas de forma clara.
Não tenho a menor dúvida ao afirmar que é preferível, em última análise, um governo de gestão do que assistir à gestão de um governo de esquerda. Se estas esquerdas nem sequer se conseguiram sentar todas à mesma mesa nas negociações de um programa comum, como poderão unir-se num projecto de governo comum?
Este país não foi reconstruído nos últimos quatro anos para andar a assistir a experiências de laboratório, a percursos de “ratos” num labirinto, a regressar à maioridade (18 anos) quando já tem mais de 40 anos.
O povo escolheu o que quis e quem quis. Na dúvida, e se o impasse persistir (por culpa do dr. António Costa), deve escolher de novo para clarificar a sua opção perante os agentes políticos. Estes mesmos, sem tácticas, sem rodeios e sem nada na manga, devem dizer claramente ao que vêm numa nova campanha eleitoral. Mas que custos esta golpada do dr. Costa traria de novo ao país…
O poder não se toma de assalto por trampolim, voando por cima de quem ganhou. O poder conquista-se e faz-se com a confiança do povo. Este povo que sempre mais ordenou, que soube dar as vitórias a quem quis e as derrotas a quem merecia. O povo é o mesmo, os partidos também, o líder do PS é que resolveu ser diferente.
Deputado do PSD
Escreve à sexta-feira