DJ Damage. Lá em baixo é que se está bem

DJ Damage. Lá em baixo é que se está bem


Um dos elementos do trio de hip-hop francês Jazz Liberatorz actua hoje no Plano B. Chama-se DJ Damage, ou Mr. Bop – seu alter ego a solo –, e é um bilhete garantido para uma viagem ao underground do rap


No final da década de 90, DJ Damage co–apresentava um programa de rádio local, em Meaux, França. Madhi, que já na altura era beatmaker de um grupo underground, foi um dos convidados que acabaram por se dar bem com Damage. Trocaram correspondência e cruzaram gostos musicais, artistas de eleição. Umas conversas depois, Damage apercebe-se de que Madhi estava a trabalhar com Dusty… os dois sabiam da colecção de discos de Damage, assim como do acervo de samples que este tinha… a rádio tem destas coisas. Isto parece um enredo de um crime em que os dois jovens sedentos de cultura prendem o radialista a uma cadeira e lhe assaltam o arsenal. Mas não. Nem sempre podemos ir na conversa da nossa imaginação. O enredo era outro: dessa união surgiram os Jazz Liberatorz, uma referência no mundo underground do rap, um trio de produtores com uma queda por jazz mas sem sede de fama. Daí que se explique que sejam um conjunto de culto, desconhecidos por muitos. O que aqui importa – antes de prosseguir – é que DJ Damage vai actuar hoje no Plano B, a solo, como Mr. Bop. Hipótese de visitar esta página do hip-hop… com muito boa música. 

Pensemos que em 1999, sobretudo em França, não era usual ter um grupo de três produtores a dedicar-se a uma abordagem tão singular. O que se disse foi, como Damage nos confirma, algo curioso: “No início, muitos leigos disseram que éramos um grupo norte-americano, alguns fãs de jazz pensaram que éramos três músicos desse estilo, o que estava um bocado afastado da realidade… éramos apenas uma banda de garagem virada para o beatmaking”, diz-nos por email. 

Em 2008 e 2009 lançaram os seus dois grandes discos, “Clin D’Oil” e “Fruit of the Past”, respectivamente. Dois objectos-referência no que ao rap underground diz respeito, que merecem por certo uma escuta digna para os mais desatentos que ainda não lhes colocaram os ouvidos em cima. E se nessa altura o hip-hop já se assemelhava muito mais ao seu estado actual, ainda assim as diferenças eram consideráveis. O boom foi ligeiramente mais tardio – mas, como já havíamos dito, os Jazz Liberatorz são de 1999. Decidimos perguntar o que pensa desta recente globalização do hip-hop. “Esta música está sempre em evolução. Tal como outras, tanto há momentos de estagnação como há, como hoje, novas gerações que surgem e se interessam pelos diferentes movimentos. Não me parece que exista uma globalização no hip-hop, até porque há tantos estilos diferentes que até os homens do mainstream acabam por cair. Estamos num universo bastante longínquo destes. Aqui, no underground, está-se bem”, avisa. 

Mr. Bop, garante-nos, é o seu alter ego a solo que lhe vai ocupar os próximos tempos. “Vou explorar todas as minhas influências através de um LP, em breve, que vai do soul ao house, funk, techno, jungle, trip hop. Efectivamente, foi isso tudo que me fez ser o DJ que sou hoje”, conta. Quando lhe perguntamos pela actuação desta noite no Plano B, responde-nos assim: “Bem, proíbo-me de não estar bêbado quando estou a partilhar o mesmo espaço que o meu público. Além disso, graças à tecnologia digital, já é possível viajarmos com centenas de discos, portanto…” Entendido. 

DJ Damage, ou Mr. Bop, actua hoje no Plano B – Rua Cândido dos Reis, n.º 30, Porto – a partir das 23h30, numa noite em que tocam também D-One e DJ Spot. Os bilhetes custam 5€.