Associação quer apoiar famílias para que luto “não se torne patológico”

Associação quer apoiar famílias para que luto “não se torne patológico”


A Associação Luz Mágica, que é apresentada sábado na Maia, quer apoiar famílias em situação limite, contribuindo, por exemplo, para que não fiquem desestruturadas depois da morte de um filho e para evitar que o luto “se tornar patológico”.


"A vida não tem só coisas positivas mas também as negativas, que podem ser atenuadas, embora algumas nunca ultrapassadas. Um filho é para sempre. Mas é possível continuar. Queremos, por exemplo, contribuir para que uma família não fique desestruturada depois da morte de um filho. São muitos os casais que se separam porque não conseguem superar o luto", descreveu à agência Lusa a presidente da Luz Mágica, Fernanda Sousa.

A responsável sentiu na primeira pessoa a perda. A filha, Ana Catarina, morreu aos 12 anos depois de aos quatro lhe ter sido diagnosticado um cancro cerebral. "Tivemos de aceitar. Não tínhamos tempo para não a aproveitar. Mas no caminho percebemos que tínhamos consultas e apoio psicológico, mas havia crianças e famílias sem nada disso por ser economicamente difícil", contou.

Fernanda Sousa notou que para muitos hospitais e algumas instituições o apoio termina na hora da perda e assim surgiu a ideia de criar a Luz Mágica para ajudar os pais a fazer o processo de aceitação e, muitas vezes, depois o processo de luto e ajudar os irmãos porque não raramente as atenções centram-se na criança que está doente e os irmãos ficam esquecidos não por negligência mas por necessidade.

O projecto é apresentado sábado mas já está no terreno há um ano com o lançamento do livro "Catarina – Uma pequena grande vida", cujas verbas reverteram para a estruturação e arranque da Luz Mágica.

A associação vai funcionar num espaço em Ermesinde, concelho de Valongo, onde as responsáveis pretendem fazer acções de formação para técnicos aproveitando as parcerias criadas com as Universidades do Minho, Viana do Castelo e Coimbra, nomeadamente no âmbito do mestrado de Cuidados Paliativos Pediátricos.

O espaço em Valongo estará aberto sábado e domingo para que os interessados possam conhecer o projecto.

O apoio será dado conforme as necessidades da família podendo incluir áreas como o ensino especial, a terapia da fala e a psicologia, entre outras, porque o objectivo da associação não se esgota em casos ligados a crianças com cancro porque, disse Fernanda Sousa, "não é só essa doença que limita as pessoas e as suas famílias".

O apoio dado será gratuito, uma vez que a Luz Mágica está a apelar à responsabilidade social das empresas que poderão ser "madrinhas" ou "padrinhos" de uma criança/família, tendo "parte activa" no processo já que, conforme escolham e queiram, receberão de seis em seis meses, ou de três em três, informação sobre a evolução do caso.

As responsáveis por esta associação têm em vista, também, criar um grupo de entreajuda para pais e adiantam já ter recebido pedidos de famílias com meninos autistas.

Associado a esta associação está a ser criado o projecto "Abrir Mão" que se materializará num livro de histórias, qualquer história que tenha transformado quem decidir dar o seu testemunho, não precisando de ser uma história de perda ou luto: "Pode ser a mudança de país, ou um novo emprego. O que marca e o que mostra ao próximo que não está sozinho na transformação".

A apresentação da Luz Mágica está agendada para sábado nas instalações dos Missionários da Consolata, na Maia, com a presença de Lincoln Justo da Silva, médico do Hospital de Santa Maria e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

Lusa