A presença do BE e do PCPnum governo liderado por António Costa seria um sinal de compromisso que agrada a muitos socialistas. Com as negociações à esquerda na recta final, falta ainda definir os contornos políticos do acordo entre os três partidos. Entre alguns históricos e ex--ministros ouvidos pelo i há adeptos de um governo “tripartido”.
“Eu pessoalmente preferia que eles entrassem no governo porque era uma forma de distribuir as responsabilidades”, defende António Arnaut, fundador do PS. Outro fundador, António Campos, alinha pelo mesmo argumento: “Só acredito num governo de coligação a funcionar onde as lideranças façam parte” do executivo. Invocando a sua experiência no governo de aliança com o CDS de Freitas do Amaral e depois o PSD de Mota Pinto, António Campos escreveu no Facebook que um acordo que não integre bloquistas e comunistas no executivo “não passará de uma ilusão” – “É a guerrilha de fora para dentro do governo”.
“Mais estabilidade” Para o ex–ministro Augusto Santos Silva um “governo a três responsabiliza os partidos” e “traz a promessa de mais estabilidade”. Mas deixar comunistas e bloquistas de fora do executivo também tem as suas vantagens: “Um governo só do PS é mais coerente internamente porque há diferenças entre os três partidos e muito claras.” A decisão é do PCP e do BE, diz ao i Augusto Santos Silva, defendendo que o primeiro cenário não é necessariamente irrealista – “no campo das possibilidades não me parece impossível o PCP e o BE integrarem o governo”.
Para a eurodeputada Elisa Ferreira a abordagem das questões europeias – um dos temas que mais afastam os socialistas de comunistas e bloquistas – pode ficar dificultada com PCP e BE no executivo. Mas não é uma questão determinante:“Eu não tenho preferência. O mais importante é que o PS tenha um programa moderado e apoio parlamentar.” Já para o deputado Vitalino Canas “depende das circunstâncias”. “Se for um acordo sólido, claro, transparente, sem fissuras, talvez não seja tão necessária a integração dos dois partidos no governo. Pelo contrário, se o acordo for menos claro, se calhar PCP e BE deviam integrar o governo”, diz ao i.
Outro socialista, que pediu anonimato, aponta para “um acordo de incidência parlamentar”. Até porque “face ao timing e à situação política não parece que seja possível um acordo de governo”. “Mas é altamente provável que Costa chame para o governo personalidades das áreas do PCP e do BE”, diz a mesma fonte, considerando “altamente provável” que venha a ser acordada uma forma de “reflectir o acordo de incidência parlamentar integrando personalidades do PCP e do BE no governo”.
Acordo já está nas cúpulas Já na recta final das negociações entram em campo os líderes dos partidos. Na noite de quarta-feira as delegações chefiadas por António Costa e Jerónimo de Sousa estiveram reunidas quase três horas na sede do PCP. António Costa saiu em silêncio, o PCP em silêncio ficou. Ontem, o “Avante!”, jornal oficial do partido, sublinhava queexiste na Assembleia da República “uma base institucional que permitirá concretizar um conjunto de medidas e soluções que dêem resposta aos interesses dos trabalhadores e do povo”. E que “permitirá ir tão longe quanto for a disposição de cada força política que a compõe para suportar o caminho da reposição de salários e rendimentos, da devolução de direitos” ou do reforço no acesso à saúde, à educação ou à segurança social.