A estratégia correcta do PS era deixar a coligação formar governo e esperar o momento adequado para o derrubar, provocando novas eleições. Essa estratégia só não é seguida porque António Costa está mais preocupado com a sua própria sobrevivência política. Irá assim formar um governo dependente do apoio do BE e do PCP, com base numa espécie de acordo secreto que ninguém revela.
Há quem fique satisfeito com essa viragem à esquerda e até afirme que não voltará a haver governos minoritários. Mas esse governo de esquerda unitária é a morte do PS. Desde que, no antigo regime, Mário Soares criou a CEUD em oposição à CDE, o PS sempre cresceu afirmando a sua autonomia em relação ao PCP e à extrema-esquerda, como um partido moderado.
É por isso que durante décadas o PCP sempre apelou à “maioria de esquerda” para amarrar o PS num governo comum, o que os líderes deste nunca aceitaram, pois sabiam que, caso o fizessem, não voltariam a formar governo sozinhos.
Com a moção de rejeição unitária e o governo de frente popular, o PS vai agora dissolver-se num grande bloco de esquerda de que não voltará a sair. Em eleições futuras haverá apenas dois blocos, de esquerda e de direita, sendo manifesto que o eleitorado do centro optará pelo último, ficando o PS em ruínas.
Daí que Francisco Assis já anuncie uma “corrente crítica e alternativa” para tentar salvar o PS. Estará a seguir o apelo que Deus fez ao seu santo homónimo: “Francisco, vai e reconstrói a minha Igreja, que está em ruínas.” Não sei é se irá a tempo.
Professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Escreve à terça-feira