Cheias. Lojistas de Albufeira ainda não receberam pelos estragos de 2008

Cheias. Lojistas de Albufeira ainda não receberam pelos estragos de 2008


Câmara atribui a culpa das cheias ao programa Polis.


Câmara já avançou com o pedido de calamidade pública e comerciantes dizem que ainda não foram ressarcidos das cheias de há sete anos e atribuem inundações ao programa Polis, que destruiu o sistema de esgotos para construir condutas  demasiado pequenas.  

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“Largos milhares de euros de prejuízos”. A câmara de Albufeira admitiu ontem que as cheias de domingo no Algarve – que causaram a morte a um idoso de 80 anos, obrigaram ao realojamento de várias famílias e cortaram a energia eléctrica a milhares de pessoas – causaram prejuízos “elevados”. 

Ontem ao fim da tarde, o presidente da autarquia, Carlos Silva e Sousa, anunciou que irá avançar com o pedido de calamidade pública. Com pedido ou sem ele, a câmara terá em breve muitas contas para ajustar. E, além das consequências do  mau tempo deste fim-de-semana, terá ainda de regularizar dívidas relacionadas com as cheias que afectaram a cidade em 2008.  É que, segundo revelou ontem o presidente da Associação de Comerciantes de Albufeira, os donos de lojas que enfrentaram prejuízos há sete anos ainda não foram ressarcidos. “E neste momento existe uma enorme revolta e preocupação por parte do comerciantes relativamente a conseguir obter respostas com alguma brevidade”, admitiu à Lusa Luís Alexandre. 

O empresário acrescentou que as inundações em Albufeira – em alguns locais a água chegou a atingir perto de 1,80 metros de altura – se devem, em parte, ao mau planeamento na construção da baixa da cidade. E exemplificou com o facto de as condutas de águas pluviais terem um “diâmetro inferior ao aconselhável”, o que favorece a acumulação de água. A questão não é nova e foi levantada aquando das cheias de 2008. De tal forma que o Bloco de Esquerda chegou a questionar o então ministro do Ambiente  sobre uma possível relação entre as cheias que ocorreram e as obras do programa Polis em Albufeira. Na pergunta enviada ao governo, o Bloco recordava que um ex-vereador da autarquia e arquitecto teria afirmado em 2007, num congresso público, que os esgotos da cidade teriam sido destruídos e substituídos por “minúsculas condutas” e “escoantes erradas” que agravam o risco de inundação. “As cheias de 2008 deveram-se também ao facto de, não só o Polis como a Câmara de Albufeira, terem instalado canos com diâmetros insuficientes, como, ainda por cima, terem construído paredes nas caixas de água para evitar que a água fosse para a praia”, confirmou ontem o presidente da Associação de Comerciantes. 

Segundo informações adiantadas ontem pela Asprocivil – Associação de Técnicos de Segurança e Protecção Civil, no domingo choveu, entre as 5h da manhã e as 14h, 102 litros por metro quadrado, quando a média normal seria de  90 litros. E o período mais crítico verificou-se entre o meio-dia e as 13h. 

cheias causam um morto Ontem, durante todo o dia, bombeiros, Protecção Civil e equipas de limpeza tentaram remover lamas e objectos arrastados pela corrente em vários pontos do Algarve. Na Baixa de Albufeira, a zona mais afectada pelo mau tempo, ainda havia sinais de trânsito e mobílias espalhadas pelas ruas, com o comandante dos bombeiros locais a admitir que as operações de limpeza deverão prolongar-se por pelo menos mais duas semanas. 
Nas ruas estiveram também cerca de meia centena de técnicos da EDP a tentar reparar os estragos causados nos circuitos eléctricos e que deixaram mais de 1500 comerciantes sem luz. 

Entretanto, a GNR anunciou, ao início da manhã, que o idoso de 80 anos que estava desaparecido desde domingo à tarde em Areias de Boliqueime foi encontrado, depois de terem sido mobilizados para as buscas mergulhadores e um binómio da equipa cinotécnica da GNR. O cadáver estava a cerca de 100 metros do carro que o idoso conduzia quando foi apanhado por uma enxurrada. 

tempo continua instável Ao longo da semana deverão registar-se melhorias no estado do tempo em todo o país, prevê o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). A partir de hoje, a depressão responsável pelo mau tempo desloca-se para Espanha, sendo por isso previsível que, a partir da tarde, haja melhorias – ainda que o tempo permaneça instável e continuem pelo menos até amanhã os períodos de chuva, sobretudo no litoral Norte e Centro. A precipitação, prevê o IPMA, deverá desaparecer na quinta-feira.