Ítalo Ferreira. “Surfava com tampas de caixas de esferovite”

Ítalo Ferreira. “Surfava com tampas de caixas de esferovite”


Do início complicado em Rio Grande do Norte até à elite mundial, o jovem brasileiro é a surpresa do tour.


O ano de estreia entre os melhores do mundo está a transformar-se numa história de sonho para o jovem da Baía Formosa, no Rio Grande do Norte. Ao início, sem possibilidade de comprar uma prancha, Ítalo Ferreira teve de improvisar para poder passar os dias a deslizar nas ondas com os amigos.

Finalmente, uns anos depois, o pai conseguiu comprar-lha. Fast forward para Outubro de 2015: o jovem brasileiro acaba de enviar o campeão mundial Gabriel Medina para a repescagem – quando este tenta desesperadamente um bom resultado em Supertubos que o relance na corrida para o título mundial antes da última etapa no Havai. Isso diz muito do valor deste estreante na elite mundial. Ítalo tem 21 anos, chegou ao tour em 2015 e está no top-10 – ocupa neste momento o 8.o lugar. Com o resultado em Peniche (está nos quartos-de-final), já assegurou o título de rookie do ano.

A prancha que o pai conseguiu, a muito custo, comprar para o filho foi o investimento com maior retorno que alguma vez poderia ter feito. O pequeno Ítalo levou a brincadeira a sério e não descansou enquanto não alcançou o circuito mundial. E se o ano de estreia está a ser assim, imaginamos o que poderá fazer nas próximas temporadas. Com o mar de Supertubos como cenário, o i não perdeu a oportunidade de conversar com o rookie do ano. Senhoras e senhores, Ítalo Ferreira.

Já estás nos quartos-de-final em Peniche. Ainda pensas chegar ao top-3 e qual era o objectivo que tinhas definido para este ano?
Nesse momento, só penso em melhorar o meu resultado. O meu foco é chegar à grande final e tentar possivelmente uma vitória aqui. Vou batalhar por isso, sei que não vai ser nada fácil. Os meus objectivos são terminar o ano no top-10 e ser o rookie do ano. Acredito que o bom resultado aqui em Peniche vai-me deixar um pouco mais confiante. 
Alguma vez pensaste que no ano de estreia chegarias tão acima no ranking?
Achava que ia ser bem difícil, mas graças a Deus as coisas estão a acontecer. Com muita dedicação e trabalho, os resultados estão a aparecer. Estou só a aproveitar o meu momento e espero continuar nesse ritmo até ao fim do ano.
Como vês a Brazilian storm no tour, agora que fazes parte dela? Vais torcer por alguém para o título mundial?
Esse desporto é individual, cada um vai fazer o seu trabalho e quer vencer o outro. Dentro de água, tentamos fazer o melhor. Lógico que, quando eu ou os outros perdemos, torcemos para que os brasileiros se dêem bem, porque representam o nosso país.
A vida dá voltas estranhas. Perdeste a final do Mundial júnior aqui em Portugal para o Vasco; ele continua a tentar entrar no tour, tu estás lá e no top-10. Como vês isso?
Sei lá, Deus tinha outros planos. Não fui campeão [na Ericeira], mas consegui a minha vaga no tour, estou a competir entre os melhores do mundo. Acredito que ali não era para ser o meu título, apesar de ser o meu último ano (de júnior). Aquela derrota doeu um pouco, mas o Vasco surfou muito bem nesse evento e mereceu vencer. Agora está a ir muito bem em Peniche, está muito forte, e acredito que ele vai conseguir um bom resultado aqui também.
Quando começaste a surfar?
Comecei aos nove ou dez anos.
E não tinhas prancha…
Foi bem difícil, o meu início. A minha família não tinha condições de comprar equipamento… prancha, quilhas, etc., porque era um pouco caro. Então eu improvisava com pranchas de esferovite. Fazia pranchas com isso ou com madeira e depois, ao fim de algum tempo, consegui uma prancha que era do meu primo. Mais tarde, o meu pai conseguiu comprar uma prancha nova para mim e aí as coisas foram acontecendo.
Esferovite.Isso é incrível…
Na verdade eram tampas de caixas de esferovite, um quadrado, que eu usava como se fosse uma prancha e era com isso que me divertia. Depois fui gostando da brincadeira e até hoje está a dar certo.
Quantas horas passavas no mar?
Quando era criança ficava o dia inteiro dentro de água, chegava a casa com a barriga toda machucada porque aquela esferovite aleijava um bocado e eu surfava sem licra. Chegava destruído a casa, mas era muito divertido porque passava o dia com os meus colegas na praia, era óptimo.