Se é para contar uma história que ouvimos ou vimos antes, de outra maneira e com outros heróis, então que seja porque 1. a trama não larga o espectador, atira-se como fazem as boas feras e está feito; e porque 2. os protagonistas são os acertados para querermos saber como tudo isto acaba.
E nada de usar a desculpa “mas isto é baseado numa história verdadeira” que isso das coisas verídicas nem sempre é garante de uma boa sessão de cinema.
“O Lobo Atrás da Porta” faz tudo isto, incluindo a parte de se inspirar num acontecimento concreto, quando uma criança desapareceu no Rio de Janeiro e se tornou um caso de polícia mediático na década de 60. Ninguém sabe de Clarinha.
O pai e a mãe estão na polícia, ele diz que sabe quem foi, o filme leva–nos ao passado, quando Rosa (Leandra Leal) aparece na vida de Bernardo (Milhem Cortaz). Estamos na cama com os dois amantes mas depois Rosa quer mais, ele não, a coisa evolui para uma espécie de atracção fatal, menos elegante, bem mais suada, mas com as doses certas na mistura drama/thriller para que não digamos adeus antes de saber quem esconde a rapariga. Pelo meio não há praia nem calçadão, não há exércitos nas favelas nem malandragem charmosa.
É o Rio de Janeiro, é sim, mas nas ruas que habitualmente não vemos. Até a sedução dos actores começa e acaba em Leandra Leal, cuja personagem se envolve com um homem que numa conversa de rua banal haveria de gerar comentários como “mas o que é ela viu nele”. Ou seja, tudo bem verosímil, como se quer quando o que importa é convencer alguém de que aquela fita não é brincadeira não.
“O Lobo atrás da Porta”
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De Fernando Coimbra
Com Leandra Leal, Milhem Cortaz, Fabiula Nascimento