Por conta própria. Mais que vontade é uma questão de perfil

Por conta própria. Mais que vontade é uma questão de perfil


Quando acabou o curso, Sofia foi trabalhar por conta de outrem. Dois anos depois criou a sua empresa. “Pensa no que te faz saltar da cama para ir trabalhar”, deixa como conselho aos indecisos.


Deixemo-nos de rodeios. “Não há respostas certas” quanto ao que fazer após sair da faculdade. Sofia Simões de Almeida sempre teve uma veia empreendedora mas, ao acabar o curso de Ciências da Comunicação, decidiu trabalhar por conta de outrem “para ganhar experiência, descobrir o que realmente gostava de fazer e conhecer o mercado”.

Quando terminamos o curso o que queremos é “encontrar um emprego e validar o que aprendemos”, conta a gestora de carreiras Lourdes Monteiro. Com o primeiro emprego vem também a independência: “Quando se trabalha por conta de outrem as expectativas são a estabilidade financeira, aprender para ter uma evolução rápida e ser elegível para cargos que se quer ocupar mais tarde”, acrescenta a gestora.

São poucos os jovens que assim que saem da faculdade “têm a hipótese de ser empresários”, apesar de haver cada vez mais casos. Sofia Simões de Almeida esperou dois anos até lançar a sua primeira empresa: “Fi-lo porque queria ter impacto, abraçar desafios que não estavam ao meu alcance a trabalhar para outros.”

CORRER RISCOS O perfil do empreendedor é muito diferente do de quem trabalha para uma empresa. O primeiro tem de ser “alguém disposto a correr mais riscos” e com estofo para conviver com a possibilidade de enfrentar tempos de instabilidade financeira “em prol de um propósito ou de uma ideia que vai fazer a diferença”. E os que trabalham por conta de outrem não tendem a afirmar-se tanto como “pessoas de causas”. Para este perfil, mais importante que a sustentabilidade é a estabilidade: “Precisam de viver sem a preocupação do que irá acontecer no mês seguinte”, justifica Lourdes Monteiro.

O empreendedor também procura essa segurança mas “consegue viver com algum conforto psicológico se não a tiver”. Quem tem um perfil de empresário “está a pensar já na faculdade como pode pôr em prática uma ideia assim que terminar o curso”. Este “espírito livre” poderá, contudo, trazer problemas quando se trabalha para uma empresa.

“Uma pessoa naturalmente empreendedora tentar trabalhar por conta de outrem muitas vezes faz uma aposta que não resulta.” E isso explica-se pelo sentimento de liberdade e autonomia tão grandes que se tornam difíceis de gerir dentro de uma organização. “A não ser que sejam empresas que dêem a margem de que estas pessoas precisam”, diz a gestora.

DA DESCOBERTA À EXPERIÊNCIA Mesmo com vocação de empreendedor, o melhor será sempre começar por trabalhar por conta de outrem ou como freelancer, recomenda Lourdes Monteiro. É uma boa forma “de cada um se conhecer a si próprio e ter a experiência de mercado”. A hora do salto chegará mais cedo ou mais tarde, entre três e cinco anos depois: “Aí sim, já se ganha alguma maturidade para entender, atendendo às capacidades intelectuais e do mercado de trabalho, o que faz sentido para cada um.” Enquanto empreendedora, Sofia Simões de Almeida deixa alguns conselhos: “Pensa no que te faz saltar da cama de manhã para ir trabalhar. Aos 40 anos, as opções de carreira podem envolver riscos. Aos 20 são apenas experiências de vida e o importante é não estar parado.” Se há vontade e paixão, haverá também empenho para se ser o melhor e isso “é meio caminho andado para o sucesso”,  remata Sofia.