Durante a edição deste ano do Greenfest, o festival de sustentabilidade que aconteceu em Outubro no Estoril, uma das empresas mais procuradas, “principalmente por jovens”, foi a Boxcode. A empresa portuguesa transforma antigos contentores marítimos em casas, lojas e hotéis, e tudo isto a um preço low–cost. Serão estas as casas do futuro?
Manuel Remédios, o arquitecto responsável pela Boxcode, acredita que sim. “Os contactos que tivemos no Greenfest foram quase todos com jovens”, garante. “Ter um T2 pronto com uma cozinha por 40 mil euros é muito importante, por exemplo, para um casal a começar a sua vida e que não quer ficar amarrado ao crédito.”
Pode estar certo e houve quem andasse a escolher uma casa como se escolhesse um automóvel num stand. Como “uma miúda de 20 e tal anos a quem o pai tinha oferecido um terreno e os avós iam oferecer a casa”, recorda o arquitecto. “Ela estava toda entusiasmada, já tinha ouvido falar nestas soluções. E, por exemplo, se mudar de Lisboa para Coimbra ou de Coimbra para o Porto, basta desmontar os módulos [da casa] e montá--los noutro sítio.”
Casas portáteis e low-cost, é disto que estamos a falar, e além de jovens à procura da primeira casa, a empresa que foi lançada este ano tem sido muito solicitada por câmaras municipais e por particulares, principalmente na área do turismo. “Temos muitas quintas no Alentejo interessadas em casas e quartos. Já nos foi pedido, por exemplo, um contentor todo revestido a cortiça para uma determinada quinta. As pessoas sabem exactamente aquilo que estão a comprar, sem trabalhos nem custos adicionais.”
As casas-contentores já são comuns nas cidades dos Estados Unidos, mas também na Europa, por exemplo em Berlim ou Paris. “Para além da facilidade de adquirir e transportar os contentores, são um produto evolutivo e podem aumentar de dimensão e serem empilhados uns nos outros”, continua Manuel Remédios.
Não são novidade noutros países mas são-no em Portugal, onde “as pessoas, quando se fala em pré-fabricação, ainda ficam de pé atrás”, sublinha. “Mas um tijolo também é um objecto pré-fabricado.”
Não enferrujam e duram 90 anos Os contentores são de aço, não enferrujam e vêm de portos como o de Lisboa, onde são vendidos ao fim de 15 anos, quando já não servem para transportar mercadoria. “No mar têm uma vida de cerca de 15 anos, mas na verdade duram 90”, explica Manuel. “O que fazemos é um isolamento até superior ao das casas tradicionais, por dentro e por fora. À primeira vista pode parecer uma casa normal, o que sucede é que está preparada para ser levantada.”
A resistência não há-de ser um problema, até porque estas casas são “anti-sísmicas”, garante o arquitecto. Uma casa demora dois meses a estar pronta e os preços podem variar entre os 25 mil (um quarto) e os 40 mil euros (um T2).
A empresa tem vários projectos em mente, como o de um hostel em Peniche para surfistas, a pensar no campeonato mundial, e outros projectos nos PALOP. “Aí, e para diminuir o custo de transporte, estamos a tentar que os contentores vão cheios de produto.”