Mais uma vez um título pode ser decidido já em Peniche

Mais uma vez um título pode ser decidido já em Peniche


Os melhores surfistas do mundo andam mais uma vez por Peniche para competirem no Moche Rip Curl Pro Portugal, a décima e penúltima etapa do circuito.


A janela temporal para a realização da prova começou na terça-feira, dia 20, e, dependendo do mar, poderá estender-se até ao Gabriel Medina então como protagonista, é possível que o campeão do mundo se venha a sagrarjá em Portugal. Isso seria um feito inédito na história deste campeonato e dos candidatos ao título só Mick Fanning, líder do ranking, é que está ao alcance desta acrobacia.

Quando confrontado na conferência de imprensa, que decorreu no início desta semana, comesta  possibilidade, o australiano, de 34 anos e vencedor da primeira e última edições em Supertubos (2009 e 2014), respondeu: “A sério? Ainda não fiz as contas.” Competitivo e ultra-focado, Mick afirmou também que não valia a pena estar a entrar em “jogos tácticos” e que tinha era de “ir para dentro de água” e dar o seu “melhor”.

Onze etapas compõem o circuito mundial e, no final do ano, todos os surfistas descartam os seus dois  piores resultados. Cada vitória vale 10 mil pontos e por isso ainda estão em jogo 20 mil. Este total faz com que os nove primeiros do ranking ainda tenham hipóteses matemáticas de vencer o título. Porém e descendo à Terra, a luta está entre Mick Fanning (1.o), Adriano de Souza (2.o), Owen Wright (3.o), Julian Wilson (4.o), Gabriel Medina (5.o) e Filipe Toledo (6.o). Para os restantes três (Kelly Slater, Ítalo Ferreira e Jeremy Flores) levarem a taça, seria preciso serem imunes a uma praga que subitamente atacasse todos os seus adversários ou escaparem milagrosamente a uma catástrofe que encurralasse o grupo na dianteira. Foi mais ou menos assim que C. J. Hobgood se sagrou campeão em 2001. Após o ataque terrorista às Torres Gémeas, em Nova Iorque, as provas do circuito por realizar foram canceladas e o americano, então líder do ranking mas sem ter vencido um único evento, ficou automaticamente com o título. Tinha 22 anos na altura, nunca mais repetiu o feito, e agora, 14 anos depois, já anunciou que esta será a sua última época no Tour. Por estes dias em Peniche, houve inclusive uma festa de despedida para o simpático Hobgood que já disse que a comunidade do surf vai ter de levar com ele “até morrer”.

Para o australiano com a camisola amarela –e cuja cara certamente já viu passar em loop na TV porque em Julho foi atacado por um tubarão na final da etapa na África do Sul –, a conta é simples. Com 49 900 pontos e para antecipar a festa, Mick tem de vencer esta prova e esperar que o seu maior adversário, De Souza, não passe da terceira ronda do evento – um resultado pouco provável para o brasileiro. Qualquer outro desfecho, adia a decisão para a última paragem do ano em Pipeline, a onda rainha, no Havai.

 

AINDA SOBRE A MATEMÁTICA PARA O TÍTULO Excluindo Fanning, o único avanço que De Souza, Owen Wright, Julian Wilson, Gabriel Medina e Filipe Toledo podem alcançar em Peniche é a liderança do ranking. E quem mais hipóteses tem de o fazer é o paulista e segundo da tabela. Caso ganhe em Supertubos, como o fez em 2011, Adriano reassume o comando do pelotão que Fanning lhe roubou em meados de Setembro. Se for segundo ou terceiro, terá de acabar à frente de Mick para voltar a ser o número um. Qualquer outro cenário prende-se com os desempenhos dos restantes adversários. Porém, a verdade é que ‘Mineirinho’ só depende dele mesmo para ser campeão. Isto é, se vencer as duas últimas etapas, factura o título que há tanto almeja, mesmo com o australiano a chegar às finais. E, se for vice em ambas, apenas precisa de terminar à frente de Mick.

Para Medina, que nas últimas etapas escalou ranking acima com performances excelentes, a tarefa é bem mais dura. Mesmo que vença em Peniche, o prodígio de Maresias terá de rezar para que Fanning e Adriano não passem da terceira fase para assumir a liderança. O actual campeão do mundo, que chegou a ficar na zona de eliminação da tabela nos primeiros meses do ano, parece estar de volta para uma boa luta. Se ganhar as duas etapas que faltam, e Mick e Adriano só chegarem a uma meia-final, o título é dele.

Outro cenário bom para Gabriel seria ganhar uma etapa e ser vice na outra, com o conterrâneo a não alcançar as meias em nenhuma delas, e Fanning a cair nos quartos numa e na quinta ronda na outra. Se ficar em segundo nas duas, De Souza não pode chegar aos quartos e Mick só poderá alcançar tal fase numa delas. Quaisquer resultados inferiores a estes tornam o título praticamente impossível. “O que vier é lucro”, disse Medina após a estrondosa vitória na prova anterior, emFrança, “mas se eles falharem, eu estou aqui”.

 

SELECÇÃO NACIONAL Poucos dias após se ter sagrado bicampeão nacional, Frederico Morais foi convidado para competir em Peniche, juntando-se assim às presenças já confirmadas de Tiago Pires, o melhor surfista português de todos os tempos, e Vasco Ribeiro, vencedor do mundial de junioresno ano passado. Tais participações só foram possíveis devido ao número de baixas entre a elite composta por 32 atletas: Taj Burrow está de licença de paternidade, Fred Patacchia abandonou o Tour no mês passado, anunciando a sua retirada em plena etapa na Califórnia, e Jordy Smith, Dusty Payne e Matt Banting estão lesionados.

Com apenas dois (Aritz Aramburu e Tomas Hermes) dos quatro substitutos do circuito disponíveis, essas vagas acabaram por ser concedidas a Saca e Kikas, e também ao número um do ranking mundial de qualificação (WQS), Caio Ibelli, com o seu lugar já garantido no Tour para o ano que vem.

Por sua vez, Vasco entra a convite de um dos principais patrocinadores do evento e por ser o melhor português do team Moche no WQS – ocupa actualmente o 38.o lugar. Nas vésperas daquela que será a sua estreia no Tour, o surfista de 20 anos confessou estar muito “feliz pela oportunidade” e, competitivo como sempre, garantiu que “o objectivo é ganhar”. Além disso, “será um prazer surfar à frente daquelas pessoas todas”. Já Tiago, e naturalmente “muito lisonjeado pelo reconhecimento”, disse-nos que este ano não está “sob pressão nenhuma” mas, dado o trauma que Peniche é para si, não quer “prometer nada”. A somar ao trio tuga e a Caio Ibelli, há ainda um outro convidado – o havaiano Mason Ho, de 27 anos e atleta da Rip Curl.