Professores de Química, dentistas, designers, estudantes de liceu… São várias as ocupações dos autores dos mais de 120 desenhos que compõem “Lisboa por Urban Sketchers”, o livro que será lançado esta sexta-feira no Museu da Marinha, em Lisboa. Uma espécie de diário gráfico onde cabe a Lisboa dos lisboetas e que foge ao roteiro turístico dos tuk-tuks – embora comece precisamente com o desenho de um tuk-tuk, estacionado na Praça da Figueira, da autoria de Carina Figueiredo.
“Claro que também passamos por locais turísticos, como o Elevador de Santa Justa e o Terreiro do Paço, mas os desenhos não são postais, é a Lisboa vista pelos lisboetas e vivida por eles”, explica Mário Linhares, co-fundador, juntamente com Eduardo Salavisa, do grupo português Urban Sketchers, em 2009.
O desafio para o livro, editado pela Zest, foi lançado há um ano e o objectivo era que as pessoas enviassem “dez desenhos que mostrassem a Lisboa dos lisboetas”, continua Mário. “Mostrar a cidade de um ponto de vista pessoal, dos percursos que fazem às rotinas normais do quotidiano num registo descomprometido.” Não foram precisos grandes preciosismos com os desenhos. “Não interessa dizer se a pessoa desenha bem ou mal, para isso já há críticos de arte e galerias.” É preciso é que desenhe.
Mas, diga-se de passagem, todos os desenhos do livro são bons e mostram a cidade melhor que qualquer guia turístico.
Está lá o eléctrico 28, por fora e por dentro, os miradouros com as melhores vistas, alguns cantos mais secretos dos desenhadores, o jardim da Gulbenkian no último domingo de Verão ou zonas industriais, como o Poço do Bispo. E até, veja-se bem, a receita de um queque, dada por Filipa Barradas, com os ingredientes e as medidas certas.
“O espírito do diário gráfico é esse mesmo, ir tomando notas mas também desenhar e conciliar os dois registos”, explica Mário. Num dos seus desenhos, de um miradouro da cidade, várias palavras vão-se sobrepondo à paisagem: andorinhas, vento, gaivotas, pneus, metal, música, sirene, sinos, avião… “Como não é possível registar o som, escrevi palavras juntamente com a paisagem”, resume.
O grupo de desenhadores em Portugal foi o primeiro criado depois do original, nos Estados Unidos, e “é um dos mais activos no mundo”, continua Mário.
A ideia dos Urban Sketchers partiu do jornalista espanhol Gabriel Campanario (que chegou a trabalhar no “Diário de Notícias”), quando se mudou para os Estados Unidos e começou a trabalhar no “Seattle Times”.
“Sentia-se um peixe fora de água e quando começou a desenhar a cidade no seu caderno começou a senti-la mais dele”, conta. “Propôs ao editor que os seus artigos passassem a ter desenhos em vez de fotografias e foram um êxito.”
A partir daí criou em 2007 um blogue semelhante ao português, onde se partilham histórias através de desenhos e se combinam encontros para encher cadernos. “Já chegámos a ter 200 pessoas a desenhar no Museu de Arte Antiga”, lembra Mário.
Em Portugal têm chovido convites para desenhar museus e até hotéis e o último foi do Museu da Marinha, onde amanhã será lançado o livro, às 18h00, e inaugurada a exposição do resultado deste último encontro.
Lisboa por Urban Sketchers
Editora: Zest
12,50 euros