Afinal as festas bunga bunga de Berlusconi não envolviam sexo. Eram só “soirées à luz das velas”. Quem o diz é o próprio na primeira biografia autorizada, escrita pelo jornalista norte-americano Alan Friedman. Segundo Berlusconi, as festas bunga bunga, que decorriam na Villa San Martino, nos subúrbios de Milão, e que tanta tinta fizeram correr nos últimos anos, eram soirées à luz das velas, em que reinava a elegância e o respeito. Não havia pessoas despidas, garante.
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Claro que no cenário que descreve não entravam as “indignidades” e os escândalos sexuais que correram mundo desde 2010 e o levaram à barra da justiça, devido ao suposto sexo com uma menor, a modelo marroquina Ruby, na altura de 17 anos. Foi condenado a sete anos de prisão, mas acabou por sair em liberdade após recurso. A imagem de playboy, no entanto, já ninguém lha tira.
Para fazer a biografia do multimilionário de 79 anos, o jornalista procurou também a versão de algumas modelos que chegaram a participar nas festas de Berlusconi. A descrição não podia divergir mais da contada por Berlusconi. De acordo com estas mulheres, havia shows de strip tease, modelos mascaradas de freiras e polícias e, claro, “carícias recíprocas”, relata.
Alan Friedman teve a honra de conhecer a mansão onde tudo acontecia. “Tem a certeza que tem coragem? Quer entrar? Então venha comigo”, disse Berlusconi ao jornalista, dando-lhe a conhecer o salão, decorado com espelhos barrocos e quadros antigos, uma mesa a que se podiam sentar 36 pessoas e até um palco para “acolher uma pequena orquestra. “É uma sala de jantar, onde faço as minhas soirées. Promovo jantares aqui há 30 anos, continuo a fazê-lo”, reforça.
Sobre a marroquina Ruby afiança que “nunca lhe tocou com um dedo” e que também não fazia ideia que tinha apenas 17 anos. Além de ter aparência de mulher feita, Berlusconi recorda que a própria dizia ter 24 anos. “Era muito inteligente e sabida, porque tinha uma vida muito difícil”, afirma ainda. Em todo o caso, que fique claro: “Não tive nenhuma relação íntima com ela”, assegura. “Sempre disse que nunca toquei na Ruby [Karima El Mahrough, nome verdadeiro]. Nunca lhe toquei com um dedo. Ela sempre o disse e nunca ninguém viu nada”, defende-se, acrescentando que “para provar que houve sexo é preciso que haja uma prova, uma fotografia, um vídeo, uma testemunha, no mínimo. Mas não há nada”, jura Il Cavaliere, nome pelo qual é conhecido em Itália.
Luxúria e inveja Mas não é só da vida boémia que se fala na biografia de Silvio Berlusconi. A política internacional, os seus amigos e inimigos também vêm à baila no livro de Alan Friedman. Sarkozy é um dos alvos de Il Cavaliere: é “arrogante e invejoso”, diz.
É um “político borbulhante com um ego superdimensionado”, tem um “carácter napoleónico e perspicaz” e é “um invejoso da fortuna dos outros”. Estes são alguns dos comentários de Berlusconi a respeito do ex-presidente francês Sarkozy. “Tinha inveja por eu ser rico”, disse ao jornalista, especificando que o francês lhe terá dito, depois de ter casado com Carla Bruni (herdeira de uma família italiana), que já era rico como ele. Além disso, sugere Silvio, Sarkozy também invejava a amizade que mantinha com o então líder da Líbia, Muammar Kadhafi. “Sarkozy apercebeu-se de que nunca poderia competir comigo e obter novos contratos de petróleo e gás, devido à minha amizade com o coronel”, atiçou.
Um dos episódios que mais irritaram Berlusconi aconteceu em Bruxelas numa reunião a propósito da crise económica italiana, em Outubro de 2011, quando havia pressões para que se demitisse do cargo. Berlusconi revela que o presidente francês se negou a apertar-lhe a mão. “Pensei: que idiota. Que arrogante. Nunca ninguém me tratou dessa forma”, recorda. Pior que isso, conta, foi o “sorriso de cumplicidade” de Angela Merkel, a quem assegura ter oferecido jóias caras.
Bastidores da guerra Na biografia Berlusconi diz-se um político responsável e poderoso que tentou impedir a invasão do Iraque em 2003. O plano que propôs a George Bush, na altura, era que se exilasse Saddam Hussein na Líbia, com a ajuda de Kadhafi. O político italiano diz ainda que procurou almoçar com Bush em Janeiro de 2003 para o convencer a não enviar tropas. Mas sem sucesso. “Ele tinha a profunda convicção de que Saddam era uma ameaça para a humanidade e tinha de ser eliminado”. Três meses depois começava a invasão iraquiana.