Se Adriano de Souza fosse futebolista, seria daqueles que disputam todos os lances como se fossem o mais importante da sua vida. Mas na sua infância não tinha jeito para o futebol, era sempre o último a ser escolhido nas peladinhas com os amigos.
“É verdade, nunca fui bom em nada, a única esperança que tinha era o surf. É por isso que eu dei tudo de mim neste desporto e, graças a Deus, fui recompensado”, conta ao i.
Hoje, aos 28 anos, é um dos melhores do circuito mundial. Na água, Mineirinho é conhecido por ser um competidor feroz que não desiste perante nenhuma adversidade. Chega ao Moche Rip Curl Pro Portugal (adiado pelo segundo dia consecutivo devido à falta de ondas) colado ao líder Mick Fanning e, obviamente, com expectativa de chegar ao título mundial.
Mas o caminho foi sendo trilhado muito antes. Adriano cresceu em Guarujá, no litoral do estado de São Paulo, numa família com poucas posses. Oirmão mais velho, militar, foi quem lhe passou o gosto pelas ondas. Mineirinho seguia-o para ver o mar e o seu trabalho árduo fez o resto.
“Foi um tempo óptimo que me deixa saudades. O meu irmão sempre tentou o seu melhor para me levar para a praia. Nós não tínhamos muito dinheiro para ter equipamento, então eu tinha de surfar com as coisas dele, que não eram próprias para mim. Mas foi bom, isso até me deu mais motivação, mais força. Assim que ele pôde comprou uma prancha para mim, com as minhas medidas, e a partir daí tudo começou.”
Adriano já deu centenas de entrevistas durante a carreira, mas não consegue esconder a emoção quando fala das suas origens – mesmo estando apressado, pois teve a gentileza de falar com o i apesar de ter um compromisso poucos minutos depois. Sim, Supertubos até pode estar sem ondas por estes dias, mas alguns surfistas têm a agenda preenchida com treinos, filmagens ou eventos de patrocinadores. O tempo é escasso, por isso aproveitamos enquanto o paulista não entra no carro.
Em 2015 tem recebido ainda mais atenção por parte dos media. No Brasil, o surf tornou-se um desporto de massas e Mineirinho pode até ser o próximo herói nacional, depois do jovem Gabriel Medina (o primeiro surfista brasileiro a vencer o título mundial). Com isto tudo, os seus pais continuam a não ligar muito ao surf? “Eles ainda estão desligados. Hoje, graças à tecnologia, conseguem ter algumas informações na televisão, mas continuam a não acompanhar muito o circuito.”
Este é o décimo ano de Adriano de Souza entre a elite do surf mundial (subiu ao CT em 2006) e nunca tinha estado tão próximo de poder conquistar o título. Terá sido a vitória de Medina em 2014 a desbravar um terreno para os seus compatriotas triunfarem? “Isso não veio alterar nada, só veio acrescentar. O título do Gabriel mostra que é possível e que basta você dar o seu melhor para poder conquistá-lo.”
O paulista está a escassos 450 pontos de Mick Fanning e o que acontecer em Portugal será decisivo para o desfecho final da temporada – em Dezembro, no Havai (Pipeline). Apesar de o australiano ter vencido em Peniche no ano passado, Mineirinho também conhece o sabor do triunfo nas ondas tubulares da cidade.
Em 2011 foi ele quem saiu como herói improvável, ao derrotar Kelly Slater na final. Queremos saber o que é preciso para triunfar nos Supertubos; Adriano explica de maneira simples:“A mesma fórmula de sempre: dedicar-se bastante e abdicar de muita coisa para se dar bem aqui.”
Antes de o brasileiro virar costas para chegar a tempo aos seus compromissos, ainda conseguimos desfazer a dúvida. Qual? Adriano é de São Paulo, não de Minas Gerais. Então por que razão todos lhe chamam Mineirinho?
“Esse apelido veio do meu irmão, os amigos dele chamavam-no assim, de Mineiro. Depois passou para mim com um formato menor, Mineirinho. É uma herança do meu irmão. No Brasil, mineirinho significa um cara quieto, tranquilo, que não fala muito.”
É verdade, Adriano não fala muito. Prefere mostrar a sua habilidade quando tem uma prancha debaixo dos pés. Se a passagem por Peniche lhe correr bem, é possível que tenhamos estado a falar com o próximo campeão mundial de surf.