Food porn


A pornografia alimentícia já teve mais adeptos porque, felizmente, as modas passam e ainda há muita selfie para tirar.


App PictureShow co filtro MultiExposures   © CHQ

Há uma série de anos, quando as redes sociais apareceram, a espécie humana desatou a fotografar a comida que tinha no prato e a partilhar as imagens bizarras com amigos, seguidores, companheiros de Instagram. Sempre me pareceu ser uma tendência pouco recomendável, não por haver uma obrigação qualquer de esconder aquilo que comemos mas porque, na verdade, como em tantos outros temas da vida, ninguém tem nada a ver com isso. 

Existe, além do mais, um pudor antigo em relação à comida que talvez tenha origem na ideia de que nem todos têm a possibilidade de se alimentar da mesma maneira faustosa. Lembro-me de ir a restaurantes que não conhecia só porque tinha visto uma imagem sedutora de um prato no Instagram de alguém. Hoje em dia são poucos os restaurantes que não estão presentes nas redes sociais, precisamente porque as imagens dos pratos despertam curiosidade. Mas e se a imagem for vista por alguém que não pode experimentar aquilo? Confesso que a ideia me incomoda um bocadinho.

A este hábito de pessoas normais (por oposição a críticos gastronómicos) fotografarem e partilharem imagens de refeições convencionou-se chamar “food porn”. A pornografia alimentícia já teve mais adeptos porque, felizmente, as modas passam e ainda há muita selfie para tirar. Mas o termo ficou e é, por exemplo, uma rubrica da “Vogue” americana, uma revista de moda. As mulheres muito magras que aparecem nessas revistas não parecem especialmente interessadas nesse tipo de pornografia, mas as imagens são sedutoras e dão vontade de comer a todas as outras que não aparecem.

Uma vez por semana, a “Vogue” faz uma selecção das melhores imagens em várias contas Instagram sobre um determinado tema, por exemplo, maçãs. Tudo começa com uma fotografia de uma inocente maçã encarnada e termina com imagens de tartes de maçã de aspecto suculento. É certo que o apetite não está nas imagens mas em quem as vê, mas lá que são estimulantes, isso ninguém pode negar. 

A fixação em fotografar comida e partilhar as imagens no Instagram pode estar a ter consequências mais nocivas do que se imaginava. Um estudo realizado pela Universidade de Oxford, intitulado “Eating with our eyes: from visual hunger to digital satiation”, mostrou resultados que surpreendem pouco.

A proliferação de chefes célebres, como Jamie Oliver, Nigella Lawson, etc., os seus livros com fotografias perfeitas de simples bifes com batatas fritas e o hábito de instagramar pratos mal chegam à mesa estão a contribuir para aumentar os números preocupantes da obesidade em Inglaterra.

Além das dietas, das consultas de nutricionismo, do ginásio e da corrida, há que desligar o telefone ou sair do Instagram, apagar o Facebook e, já agora, o Twitter. Também não é aconselhável folhear livros de receitas com imagens de “food porn”, como frangos tostadinhos, batatas acabadas de fritar e bolos de chocolate cremosos. 

Outra solução consiste em passar a fotografar alimentos que não dão vontade nenhuma de comer. Substituamos a voluptuosidade dos estufados pelo minimalismo da bolacha de água e sal e sejamos felizes e magros para sempre.

Escreve à segunda-feira 

Food porn


A pornografia alimentícia já teve mais adeptos porque, felizmente, as modas passam e ainda há muita selfie para tirar.


App PictureShow co filtro MultiExposures   © CHQ

Há uma série de anos, quando as redes sociais apareceram, a espécie humana desatou a fotografar a comida que tinha no prato e a partilhar as imagens bizarras com amigos, seguidores, companheiros de Instagram. Sempre me pareceu ser uma tendência pouco recomendável, não por haver uma obrigação qualquer de esconder aquilo que comemos mas porque, na verdade, como em tantos outros temas da vida, ninguém tem nada a ver com isso. 

Existe, além do mais, um pudor antigo em relação à comida que talvez tenha origem na ideia de que nem todos têm a possibilidade de se alimentar da mesma maneira faustosa. Lembro-me de ir a restaurantes que não conhecia só porque tinha visto uma imagem sedutora de um prato no Instagram de alguém. Hoje em dia são poucos os restaurantes que não estão presentes nas redes sociais, precisamente porque as imagens dos pratos despertam curiosidade. Mas e se a imagem for vista por alguém que não pode experimentar aquilo? Confesso que a ideia me incomoda um bocadinho.

A este hábito de pessoas normais (por oposição a críticos gastronómicos) fotografarem e partilharem imagens de refeições convencionou-se chamar “food porn”. A pornografia alimentícia já teve mais adeptos porque, felizmente, as modas passam e ainda há muita selfie para tirar. Mas o termo ficou e é, por exemplo, uma rubrica da “Vogue” americana, uma revista de moda. As mulheres muito magras que aparecem nessas revistas não parecem especialmente interessadas nesse tipo de pornografia, mas as imagens são sedutoras e dão vontade de comer a todas as outras que não aparecem.

Uma vez por semana, a “Vogue” faz uma selecção das melhores imagens em várias contas Instagram sobre um determinado tema, por exemplo, maçãs. Tudo começa com uma fotografia de uma inocente maçã encarnada e termina com imagens de tartes de maçã de aspecto suculento. É certo que o apetite não está nas imagens mas em quem as vê, mas lá que são estimulantes, isso ninguém pode negar. 

A fixação em fotografar comida e partilhar as imagens no Instagram pode estar a ter consequências mais nocivas do que se imaginava. Um estudo realizado pela Universidade de Oxford, intitulado “Eating with our eyes: from visual hunger to digital satiation”, mostrou resultados que surpreendem pouco.

A proliferação de chefes célebres, como Jamie Oliver, Nigella Lawson, etc., os seus livros com fotografias perfeitas de simples bifes com batatas fritas e o hábito de instagramar pratos mal chegam à mesa estão a contribuir para aumentar os números preocupantes da obesidade em Inglaterra.

Além das dietas, das consultas de nutricionismo, do ginásio e da corrida, há que desligar o telefone ou sair do Instagram, apagar o Facebook e, já agora, o Twitter. Também não é aconselhável folhear livros de receitas com imagens de “food porn”, como frangos tostadinhos, batatas acabadas de fritar e bolos de chocolate cremosos. 

Outra solução consiste em passar a fotografar alimentos que não dão vontade nenhuma de comer. Substituamos a voluptuosidade dos estufados pelo minimalismo da bolacha de água e sal e sejamos felizes e magros para sempre.

Escreve à segunda-feira