O secretário-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP) foi ontem confrontado com a recolha de dados de facturação do telemóvel do jornalista Nuno Simas – é essa a principal questão em foco no julgamento que levou a tribunal três elementos dos serviços de informação. “Duas folhas brancas” e várias insistências depois, Júlio Pereira garantiu que os únicos dados de telemóvel a que teve acesso foram os dos próprios serviços – e isso para avaliar gastos excessivos de alguns agentes.
O dia foi inteiramente dedicado à audição do responsável máximo das secretas – que já deveria ter sido ouvido em Setembro. Questionado pela procuradora sobre o acesso aos dados do telemóvel de NunoSimas (informações que permitiriam controlar com quem teria o então jornalista do “Público” mantido conversas dentro dos serviços de informação), Júlio Pereira foi peremptório. “A única facturação detalhada que vi e que, inclusivamente, cheguei a pedir para verificar despesas foi a de telemóveis de serviços”, referiu o responsável das secretas.
Mais tarde, a defesa do ex-director do Serviço de Informações Estratégicas e Defesa (SIED) também se focou no tema. Morais Sarmento questionou Júlio Pereira sobre esse acesso aos dados de facturação de Nuno Simas e, perante nova recusa, o advogado deixou a sugestão de que o chefe das secretas não só tinha tido conhecimento do pedido de facturação como teria tido acesso à mesma.
Morais Sarmento nunca o afirmou de forma peremptória. Mas quis saber se, num dos últimos encontros com Júlio Pereira, Silva Carvalho, o responsável do SIED, lhe teria ou não passado “duas folhas brancas, dobradas em quatro”. O secretário-geral do SIRP voltou a negar.
A insistência da defesa de Silva Carvalho levou mesmo a procuradora responsável pelo processo a intervir para questionar Morais Sarmento sobre os “novos factos” que estaria a trazer para o julgamento. O advogado acabou por explicar que esses dados já integravam uma contestação apresentada ao tribunal pela defesa de Silva Carvalho, sem especificar a que diria respeito.
JúlioPereira também falou sobre a saída de Silva Carvalho dos serviços.Na altura em que apresenta o pedido de exoneração, o responsável doSIED referiu que pretendia fazer “um doutoramento”. E também revelou que teria recebido um convite da Ongoing. Mas, pouco tempo depois, já teria em mãos três convites: além do original, duas empresas do sector bancário estariam interessadas em contar com a colaboração de Silva Carvalho. Uma situação que deixou Júlio Pereira desagradado.
ESpiões na PT? “Não me vou pronunciar sobre isso.” Foi um dos poucos momentos – talvez o único, durante todo o dia – em que às questões que lhe eram dirigidas Júlio Pereira “respondeu” com pouco mais que silêncio.
O responsável do SIED disse, no entanto, que era “normal” os serviços de informação contarem com colaboradores externos, a operar em empresas privadas.