Parte da colecção particular do artista português pode ser vista a partir de amanhã na exposição “Afinidades Electivas”. São mais de 300 obras, de cerca de 100 artistas, que atravessam várias décadas, técnicas e expressões artísticas, da pintura ao desenho, passando pela escultura, fotografia, vídeo e instalação. A selecção das obras, que ficou a cargo de Delfim Sardo, comissário da exposição, é apresentada em dois pólos diferentes: no Museu da Electricidade, onde fica até 3 de Janeiro de 2016, e na galeria da Fundação Carmona e Costa, que a terá patente até 12 de Dezembro.
O título do livro de Goethe “As Afinidades Electivas” dá nome a esta exposição feita a partir da colecção de Julião Sarmento, não só porque se trata de obras da colecção particular do pintor português, mas também porque a colecção de alguém que também produz arte se constrói numa lógica específica de múltiplas afinidades: amizades, contactos ou colaborações criativas.
Realizada em parceria entre a Fundação EDP e a Fundação Carmona e Costa, a exposição será distribuída por esses dois pólos. Amanhã abre ao público noMuseu da Electricidade, ficando até 3 de Janeiro de 2016, e no sábado é inaugurada na galeria da Fundação Carmona e Costa, onde estará patente até 12 de Dezembro. A mostra inclui mais de 300 obras de cerca de 100 artistas da colecção particular de Julião Sarmento, reunidas ao longo de três décadas.
Talvez por isso, todo o processo de montagem foi acompanhado meticulosamente pelo artista. “Tenho de ser controlador, até porque as relações com as obras são coisas muito particulares. Os montadores profissionais têm relação zero com as obras, sabem como fazer, mas muitas vezes estão a ver as obras pela primeira vez, recebem indicações, mas é isso. E, além disto, quem comprou estas já não compra outras e, por isso, não quero que se estraguem”, explicou-nos Julião Sarmento numa conversa que foi sendo interrompida, a espaços, para responder às dúvidas dos montadores ou para acertar pormenores.
A exposição é comissariada por Delfim Sardo, amigo íntimo do artista e conhecedor da sua colecção. Foi ele que foi desafiando Julião Sarmento, numa conversa que começou há cerca de sete anos, para as mostrar publicamente e, por isso, o pintor deixou nas suas mãos a selecção das peças a exibir. “Tive zero conversas com o Delfim acerca das obras que deveriam ser escolhidas. O meu ponto de honra nesta exposição é que não fui eu a escolher. Aliás, o que eu gostaria de fazer – mas não foi possível, porque o Delfim precisa de ajuda – era de ter apenas vindo à inauguração, sem saber de nada. Ter uma surpresa”, referiu.
A exposição não contempla todo o espólio reunido pelo artista. Inevitavelmente, muita coisa ficou de fora, de tal forma que à medida que as obras iam tomando o seu lugar no espaço da exposição, o próprio coleccionador se surpreendia. “Tenho aqui muitas peças que não via há muito tempo. Não dá para ter tudo isto na parede de casa. Eu tento fazer um certo roulement das coisas, mas há coisas aqui que não via há séculos.”
Não quer dizer com isso que se tenha esquecido das peças que possui, até porque o lado de coleccionador sempre fez parte de si, ou que todas o tenham influenciado como artista. “As coisas existem por eu ser como sou. Não sou como sou por causa das coisas que tenho”, sublinhou, por isso a maior parte das peças que se vão poder ver na exposição resultam de trocas e traduzem boa parte dos seus encontros e amizades, ao longo dos anos, com outros artistas.
No núcleo patente no Museu da Electricidade estão representadas obras de nomes maiores da arte contemporânea, tanto internacional– Nan Goldin, Cristina Iglesias, Andy Warhol, Rita McBride, Cindy Sherman, Bruce Nauman, Marina Abramovic ou Joseph Beuys – como nacional, destacando-se Eduardo Batarda, Fernando Calhau, Pedro Cabrita Reis, Jorge Molder e António Palolo. Já a galeria da Fundação Carmona e Costa vai acolher um núcleo composto por trabalhos de desenho e gravura, de Pierre Bonnard a Marcel Duchamp.
Delfim Sardo, comissário da exposição, define-a como “uma versão pessoal do que podia ser o museu de arte contemporânea” – a visão daquilo que interessa a Julião Sarmento no mundo da arte e que é partilhada nesta mostra com o curador, através da selecção que fez.
O pintor preferia ter ficado totalmente ausente deste processo que dá a conhecer essa sua visão e ser completamente invisível nesta mostra, à semelhança do que acontece com outras do género, em que, como diz, o coleccionador não interessa nada.
“Isto não é uma exposição minha, é uma exposição das coisas das quais eu sou guardião”, resume. E é uma parte dessas coisas que guarda que está agora sob o olhar do público.