Dois seleccionadores, uma só derrota e o primeiro lugar do grupo a caminho doEuro em França. Oh là là, très bien. Isto soa a déjà-vu.
Em 1982, o brasileiro Otto Glória (o do Mundial-66) começa bem em Helsínquia e na Luz com duplo 2-1 vs. Finlândia e Polónia. Na visita a Moscovo, 5-0 da URSS. É um desastre completo e Otto sai pela porta pequena.Entra Fernando Cabrita acompanhado por Toni, António Morais e José Augusto. O quarteto guia então a selecção ao primeiro Euro de sempre, graças a três vitórias consecutivas: 5-0 à Finlândia em Alvalade, 2-1 à Polónia em Wroclaw e 1-0 à URSS na Luz (o tal do penálti de Jordão).
Em 2014, o português Paulo Bento (o do Mundial-2014) arranca mal, muito mal. Sem o capitão Ronaldo em campo, a selecção abana com a Albânia (1-0 em Aveiro) e provoca uma substituição. Sai Bento, entra Santos. O engenheiro é o homem do leme, conhecido pelo penta no Porto, pela magia de treinar os três grandes e pela cultura da vitória curta. Das 171 coleccionadas na 1.a divisão, 79 são por vantagem mínima (44 vezes 1-0, trinta 2-1 e cinco 3-2).
Na selecção, Santos mantém o registo minimalista e eleva-o ao extremo. Sete vitórias seguidas (missão cumprida), todas pela margem mínima. Ele é 1-0 emCopenhaga, 2-1 à Arménia, 2-1 à Sérvia, 3-2 em Erevan, 1-0 em Elbasan, 1-0 à Dinamarca e 2-1 em Belgrado. Sempre a aviar.
Nesse caminho glorioso e nunca antes experimentado pela selecção, Santos faz as suas escolhas e reabilita os proscritos Ricardo Carvalho, Tiago, Danny mais Quaresma (há também espaço para o conta-gotas Bosingwa). O chip muda, a selecção também. Tanto assim é que nunca mais se perde. Melhor: só estamos 15 minutos em desvantagem (entre o 1-0 de Pizzelli e o 1-1 de Ronaldo em Erevan, na Arménia). Nos restantes 615’, das duas uma: ou Portugal estuda o adversário (424 minutos de empate) ou gere bem a vantagem (191’). Tudo controlado.
Quinze minutos em desvantagem na era Santos mais os 38 vs. Albânia com Paulo Bento dá 53. É recorde nacional? Sim senhor. Os 53 minutos superam os 70’ de Felipe Scolari para o Mundial-2006 (atenção, mais quatro jogos), os 73’ de HumbertoCoelho rumo ao Euro-2000 (mais dois) e os 74’ do tal quarteto doEuro-84 (menos dois).
O 2-1 em Belgrado (Sérvia) confirma-o em absoluto. É o melhor jogo da fase de qualificação, com 72’ em vantagem, entre o 1-0 de Nani e o 1-1 de Tosic mais o 2-1 de Moutinho até ao fim.
OITO Moutinho, dizíamos. O número 8 da selecção é o herói do momento com dois golos decisivos, um à Dinamarca em Braga (1-0), outro à Sérvia (2-1). Dá que pensar: quantos oitos marcam na selecção no apuramento para o Euro?
Seis, só seis. Juntos, 21 golos. Eis os heróis: Santana (Euro-60), Eusébio (64), Eusébio e Eusébio (68),Alves (80), JVP vezes quatro (96), Secretário (96), JVP vezes oito (2000), Moutinho (2012) e Moutinho em dose dupla (2016). Antes de Moutinho em Belgrado, o último a marcar fora é JVP na Eslováquia, em 1998. E antes? JVP, Letónia, 1994. E antes? Alves, Noruega, 1979. E antes? Eusébio, Noruega, 1967. E antes? Eusébio, Bulgária, 1962. E antes? Mais ninguém, está na hora de olhar em frente, Euro-2016 e tal. Ainda não temos um golo de um 8. Moutinho, dá o passo em frente.