"Estes dois factores, a seca e a expansão dos arbustos, interagem e, num ano seco, as árvores ressentiram-se muito e consumiram menos água relativamente a árvores que não tinham arbustos à sua volta", disse hoje à agência Lusa Maria Caldeira do Instituto Superior de Agronomia (ISA).
As conclusões do trabalho são hoje publicadas na revista Scientific Reports, do grupo Nature, e resultaram da colaboração com investigadores do Centro de Ecologia Aplicada, do Instituto Nacional de Investigação Agrária e veterinária (INIAV) e das Universidades de Freiburg (Alemanha) e de Reading (Reino Unido).
Com o abandono de várias áreas agrícolas, verifica-se uma expansão dos matos, fenómeno que acontece à escala global, principalmente em áreas semi áridas ou mediterrânicas, como o Alentejo, nomeadamente na zona onde se centrou o estudo – Vila Viçosa.
"Queríamos saber se essa invasão pelos arbustos tinha um efeito nas árvores, nomeadamente no montado, no sobreiro", explicou Maria Caldeira.
Estes arbustos (estevas) são nativos, ou seja, fazem parte do ecossistema, mas eram limpos pelos proprietários a cada cinco ou seis anos, e quando isso não acontece, vão se expandindo. "Esta espécie tem necessidades elevadas de água, está muito adaptada à secura e cresce muito", referiu a especialista.
Em anos secos, em que chove pouco, como em 2011/2012, "há uma competição grande" entre arbustos e árvores o que pode ter um efeito negativo na água disponível.
Nestes casos, "os níveis críticos de tolerância das árvores à seca podem ser ultrapassados, provocando eventualmente a sua morte", como especificam os autores.
Na sua observação, os cientistas constataram que, durante um ano, os sobreiros que estavam rodeados por mato utilizaram metade da água consumida pelos outros que não tinham de partilhar com os arbustos.
"O aumento da mortalidade das árvores tem-se verificado em praticamente todo o mundo e não se conhecem os mecanismos" do fenómeno, apontou Maria Caldeira.
A investigadora do ISA salientou que se trata de "dois factores ligados às alterações globais, [de] mudança do tipo de uso da terra e a uma diminuição da precipitação".
A especialista referiu ainda que, durante o actual trabalho, "não houve mortalidade" pois os efeitos acumulam-se ao longo do tempo, mas a recuperação dos sobreiros no período pós seca foi dificultada.
"Quando os anos são chuvosos, não há este problema porque há água para todos, quando os anos são secos esta competição pela água é muito importante para a sobrevivência das árvores", disse ainda Maria Caldeira.
Lusa