Na baliza, Ricardo. À defesa, Abel, Tonel, Polga e Caneira. No meio, Custódio, Moutinho, Romagnoli e Nani. Lá na frente, Liedson e Deivid. O treinador é Paulo Bento. O quêêêê? Calma, isto é a equipa do Sporting em Coimbra no dia/noite 25 de Fevereiro de 2006. É a 24.ª jornada do campeonato 2005-06. No apito, o portuense Jorge Sousa. Ganha o Sporting por claro 3-0. Abre Moutinho, fecha Nani, este último de penálti a castigar falta do guarda-redes Pedro Roma, expulso com vermelho directo. Como a Académica já fizera as três substituições, o recém-entrado Gelson vai à baliza e sofre o 3-0.
Moutinho e Nani, entendem? Quase dez anos depois, a dupla entende-se às mil maravilhas de novo e garante outra vitória, agora ao serviço da selecção. E que vitória. A primeira de sempre em Belgrado (5-1 em 1960 mais 1-1 em 2007), a sétima consecutiva na qualificação para o Euro-2016 e a garantir o estatuto de cabeça-de-série no sorteio da fase final (12 de Dezembro). É o chamado três-em-um.Tudo, tudo, tudo cortesia Moutinho. O homem desata o nó vs.Dinamarca, em Braga (1-0), e agora vs. Sérvia (2-1), com um outro golo de bandeira. Fenómeno.
RADAR Com a qualificação assegurada (e ainda o primeiro lugar mais que confirmado), Portugal entra em campo sem uma série de artistas do nosso contentamento. A ausência mais notada é a do capitão Cristiano Ronaldo.Até o dirigente João Vieira Pinto admite: “Sem ele, a vida é muito mais tranquila no aeroporto e no hotel.”
A braçadeira voa então para Nani. E não é que o enche se enche de brio e marca o primeiro golo em Belgrado? Pois é verdade. Bruno Alves ganha a bola antes de lançá-la para Danny. O 10 esgueira-se pelo meio, passa por um sérvio com uma classe do além e remata de bico, à Romário. O guarda-redes Stojkovic (lembra-se dele? Aquele do agarra-me se puderes num célebre clássico noDragão, resolvido por Raul Meireles com um livre dentro da área) defende com dificuldade para o lado e aí aparece Nani. O remate até é enrolado mas entra.Está feito o um-zero. É uma alegria imensa, é o fim de uma campanha de sonho só com vitórias fora de casa. Algo inédito na nossa história.
E Nani? É o segundo golo como capitão da selecção, após o de 2013 com o Luxemburgo, emCoimbra. É obra. Sem saber ler nem escrever, a selecção toma a liderança do jogo e cala o estádio do Partizan, sem pessoas suficientes para encher os 31 mil lugares.
A Sérvia quer reagir e acerca-se da baliza de Rui Patrício mas nunca o incomoda por aí além até ao intervalo. Vá, uma vez, por Ljajic, numa troca curiosa de passes à entrada da área. O remate do número 22 vai direito aos punhos de Rui Patrício, encostado ao poste não vá o diabo tecê-las (sim, o diabo é tecelão).
ZOOM O nosso entusiasmo é tal que até nos esquecemos de falar do onze de recurso, sem Ronaldo nem Pepe nemCoentrão nem Tiago. Aplauda-se a estreia absoluta de NélsonSemedo.E aplauda-se o volume de jogadores dos três grandes: cinco, ao todo (PatrícioSCP, Danilo mais André André FCP, NélsonSemedo e Eliseu SLB). É obra, mais uma vez. Pois claro, Santos é engenheiro.
Na segunda parte, a Sérvia assalta a baliza de Patrício com mais acerto.E os remates sucedem-se. Uns sem direcção e outros com. Um deles entra mesmo, numa jogada entre Matic e Kolarov, concluída por Tosic, o mais esforçado dos onze sérvios. O remate é implacável, desde a marca de penálti, sem a mínima hipótese para Patrício.
MAIS Lança-se então Moutinho, o herói de Braga. E o que faz o homem? Apanha uma bola atrasada de Eliseu e toma lá disto, um remate mais em jeito do que em força e é o 2-1. O lance até se parece com o 4-2 à Islândia em 2011. Os mesmos intervenientes, o mesmo desfecho. Com outro peso.
Portugal garante o estatuto de cabeça-de-série no sorteio da fase final, e sem perder fora de casa (só acontece uma vez, com HumbertoCoelho, rumo aoEuro-2000). “É a prenda que queria”, diz Santos, aniversariante no sábado (61 anos). Agora só falta o título, allez allez.