O ridículo mata!


Os eleitores sinalizaram a rejeição das políticas de austeridade, conformaram-se com os protagonistas da coligação e não revelaram a confiança suficiente na alternativa


© Steven Governo/EPA

O Povo votou. A direita ganhou as eleições. António Costa não conquistou a maioria absoluta, sem espinhas a que se tinha proposto. E no entanto, no discurso e na atitude, alguns comportam-se como se o PS tivesse ganho. Infelizmente não ganhou, o líder não assumiu as responsabilidades políticas pela derrota e pululam as mais inacreditáveis desculpas para o “inconseguimento”.

A verdade é que, não tendo dado maioria absoluta à direita e não tendo dado a vitória ao PS, os eleitores sinalizaram a rejeição das políticas de austeridade ”custe o que custar” dos últimos anos, mas conformaram-se com os protagonistas da coligação e não revelaram a confiança suficiente na alternativa.

É verdade que a Direita perdeu muitos votos, mas António Costa foi incapaz de os captar. A Coligação PSD/CDS conseguiu resgatar parte do discurso da mudança (combate às desigualdades, criação de emprego e devolução de rendimentos) e o Bloco de Esquerda ocupou o espaço da esperança das vítimas da precariedade e dos funcionários públicos.

É perturbador ouvir o discurso de alguns que vislumbram vitórias onde houve uma derrota e socorrem-se dos mais mirabolantes argumentos de defesa que, no passado, usavam como arma de arremesso.   

A CONJUNTURA

Com nuances, à vontade do freguês, o resultado do PS foi o que foi porque desde a chegada à liderança de António Costa a conjuntura mudou muito. É o regresso da desculpa de “o mundo mudou”. O Banco Central Europeu interveio de forma positiva; os indicadores económicos positivos surgiram- a recuperação do discurso à comunidade chinesa à porta fechada-; os portugueses tiveram mais rendimento pelas decisões do Tribunal Constitucional e criou-se um ambiente favorável à narrativa da Direita.

JOSÉ SÓCRATES

Embora alguns tenham querido transformar as legislativas de 2015 numa segunda volta das legislativas de 2011, na campanha eleitoral, António Costa não hesitou em demarcar-se do modelo económico-financeiro aplicado até 2007 e afirmou “não temos um programa de relançamento da nossa economia assente em obras públicas, em grande investimento público, no aumento da despesa pública”.

E no entanto, na procura desesperada de argumentos, a situação de José Sócrates e a falta de defesa da sua governação entre 2011 e 2014 são invocados como atenuantes dos resultados eleitorais. Só faltou dizerem que António José Seguro, tendo conquistado nesse período duas vitórias para o PS, Autárquicas e Europeias, é um dos responsáveis pela derrota do PS a 4 de Outubro. Faltou pouco!

OS PODERES INSTALADOS

Afinal, o que era vento de popa, a boa imprensa e a boa imagem junto dos poderes relevantes da sociedade portuguesa, serve agora de desculpa porque estes se concertaram para a continuidade da direita. Mas não foi sempre assim desde 2011? E ainda assim o PS ganhou duas eleições, depois de ter negociado e assinado o Memorando com a Troika. Por muito que custe a alguns, em Maio de 2014, o PS atingiu os 38% na sondagem da Eurosondagem sobre as intenções de voto em eleições legislativas.

E nas urnas, ganhou as Europeias, com a mesma Direita coligada, com uma vantagem de 3,75%. Agora ficou a 4,45% da mesma direita coligada.

GOVERNAR SEM TER GANHO

Entre cortinas de fumo e jogadas políticas, entra-se num caminho em que nada é linear, claro e comunicado com verdade, algo que ainda pode concorrer para afastar mais os cidadãos da política, depois de mais um recorde de abstenção numas eleições tão decisivas para o futuro de Portugal. Como só o poder gera poder para distribuir, perpassa uma perigosa ideia de procura do poder a todo o custo, mesmo em divergência com o sentido da expressão da vontade dos portugueses.

Quem ganha, deve governar. Apesar do estudo dos cenários, começou mal a Presidência da República ao não ouvir os partidos com representação parlamentar, em especial, o maior partido da oposição, o PS. Por agora, ao invés do que aconteceu no passado recente com outros processos, deve ser dado espaço para o diálogo, mas tudo deve ser colocado à avaliação dos órgãos do partido.

Para que não se repita as situações como a da assinatura de compromissos com o impacto do Memorando com a Troika, sem debate e sem validação política. Tudo que possa hipotecar o futuro do partido e a relação com os cidadãos deve ser validado pelos militantes.

PRESIDENCIAIS

Sem estratégia e com gestão de equívocos, António Costa conduziu o PS à inacreditável situação de, pela primeira vez em mais de 40 anos de Democracia, o partido não apoiar oficialmente nenhuma candidatura à Presidência da República. Depois de 10 anos de Cavaco Silva, o PS conforma-se com a neutralidade.

É poucochinho, mas corresponde ao sentido das vozes da direção nacional na imprensa de que António Costa tem boa relação com Marcelo Rebelo de Sousa e Rui Rio. Ao invés do afirmado, a liberdade de voto nas presidenciais não é nenhuma benesse, sempre existiu, mas serve também para desresponsabilizar dos resultados.

António Costa está a lutar pela sua estratégia, que tenha êxito e impacto positivo na vida das pessoas.

Escreve às quintas feiras

O ridículo mata!


Os eleitores sinalizaram a rejeição das políticas de austeridade, conformaram-se com os protagonistas da coligação e não revelaram a confiança suficiente na alternativa


© Steven Governo/EPA

O Povo votou. A direita ganhou as eleições. António Costa não conquistou a maioria absoluta, sem espinhas a que se tinha proposto. E no entanto, no discurso e na atitude, alguns comportam-se como se o PS tivesse ganho. Infelizmente não ganhou, o líder não assumiu as responsabilidades políticas pela derrota e pululam as mais inacreditáveis desculpas para o “inconseguimento”.

A verdade é que, não tendo dado maioria absoluta à direita e não tendo dado a vitória ao PS, os eleitores sinalizaram a rejeição das políticas de austeridade ”custe o que custar” dos últimos anos, mas conformaram-se com os protagonistas da coligação e não revelaram a confiança suficiente na alternativa.

É verdade que a Direita perdeu muitos votos, mas António Costa foi incapaz de os captar. A Coligação PSD/CDS conseguiu resgatar parte do discurso da mudança (combate às desigualdades, criação de emprego e devolução de rendimentos) e o Bloco de Esquerda ocupou o espaço da esperança das vítimas da precariedade e dos funcionários públicos.

É perturbador ouvir o discurso de alguns que vislumbram vitórias onde houve uma derrota e socorrem-se dos mais mirabolantes argumentos de defesa que, no passado, usavam como arma de arremesso.   

A CONJUNTURA

Com nuances, à vontade do freguês, o resultado do PS foi o que foi porque desde a chegada à liderança de António Costa a conjuntura mudou muito. É o regresso da desculpa de “o mundo mudou”. O Banco Central Europeu interveio de forma positiva; os indicadores económicos positivos surgiram- a recuperação do discurso à comunidade chinesa à porta fechada-; os portugueses tiveram mais rendimento pelas decisões do Tribunal Constitucional e criou-se um ambiente favorável à narrativa da Direita.

JOSÉ SÓCRATES

Embora alguns tenham querido transformar as legislativas de 2015 numa segunda volta das legislativas de 2011, na campanha eleitoral, António Costa não hesitou em demarcar-se do modelo económico-financeiro aplicado até 2007 e afirmou “não temos um programa de relançamento da nossa economia assente em obras públicas, em grande investimento público, no aumento da despesa pública”.

E no entanto, na procura desesperada de argumentos, a situação de José Sócrates e a falta de defesa da sua governação entre 2011 e 2014 são invocados como atenuantes dos resultados eleitorais. Só faltou dizerem que António José Seguro, tendo conquistado nesse período duas vitórias para o PS, Autárquicas e Europeias, é um dos responsáveis pela derrota do PS a 4 de Outubro. Faltou pouco!

OS PODERES INSTALADOS

Afinal, o que era vento de popa, a boa imprensa e a boa imagem junto dos poderes relevantes da sociedade portuguesa, serve agora de desculpa porque estes se concertaram para a continuidade da direita. Mas não foi sempre assim desde 2011? E ainda assim o PS ganhou duas eleições, depois de ter negociado e assinado o Memorando com a Troika. Por muito que custe a alguns, em Maio de 2014, o PS atingiu os 38% na sondagem da Eurosondagem sobre as intenções de voto em eleições legislativas.

E nas urnas, ganhou as Europeias, com a mesma Direita coligada, com uma vantagem de 3,75%. Agora ficou a 4,45% da mesma direita coligada.

GOVERNAR SEM TER GANHO

Entre cortinas de fumo e jogadas políticas, entra-se num caminho em que nada é linear, claro e comunicado com verdade, algo que ainda pode concorrer para afastar mais os cidadãos da política, depois de mais um recorde de abstenção numas eleições tão decisivas para o futuro de Portugal. Como só o poder gera poder para distribuir, perpassa uma perigosa ideia de procura do poder a todo o custo, mesmo em divergência com o sentido da expressão da vontade dos portugueses.

Quem ganha, deve governar. Apesar do estudo dos cenários, começou mal a Presidência da República ao não ouvir os partidos com representação parlamentar, em especial, o maior partido da oposição, o PS. Por agora, ao invés do que aconteceu no passado recente com outros processos, deve ser dado espaço para o diálogo, mas tudo deve ser colocado à avaliação dos órgãos do partido.

Para que não se repita as situações como a da assinatura de compromissos com o impacto do Memorando com a Troika, sem debate e sem validação política. Tudo que possa hipotecar o futuro do partido e a relação com os cidadãos deve ser validado pelos militantes.

PRESIDENCIAIS

Sem estratégia e com gestão de equívocos, António Costa conduziu o PS à inacreditável situação de, pela primeira vez em mais de 40 anos de Democracia, o partido não apoiar oficialmente nenhuma candidatura à Presidência da República. Depois de 10 anos de Cavaco Silva, o PS conforma-se com a neutralidade.

É poucochinho, mas corresponde ao sentido das vozes da direção nacional na imprensa de que António Costa tem boa relação com Marcelo Rebelo de Sousa e Rui Rio. Ao invés do afirmado, a liberdade de voto nas presidenciais não é nenhuma benesse, sempre existiu, mas serve também para desresponsabilizar dos resultados.

António Costa está a lutar pela sua estratégia, que tenha êxito e impacto positivo na vida das pessoas.

Escreve às quintas feiras